Lugares: Deus Lo Deu, Deus Lo Ha Dado
Artigo publicado na edição de abril da revista Mais Guimarães. Por Rui Passos.
Tendencialmente poderemos pensar em Monção como um lugar distante, lá para cima, no interior do Alto Minho, de difícil acesso e predicados que não justificam a viagem até lá.
Sou Vianense, Monção pertence ao meu distrito e, contra mim falo, quando percebo que demorei tantos anos a descobrir esta maravilha do nosso país. Sendo mais correto, toda a zona da Raia minhota me fascina, mas, não escondo, particularmente Monção.
As montanhas e vales imensos mantém sempre a natureza por perto, as muralhas parecem proteger-me da inquietude do dia a dia, a gastronomia anestesia-me, os banhos nas termas relaxam-me, o deambular pelas pitorescas vielas aconchega-me, as surpresas parecem não ter fim e as pessoas tocam-me.
O Rio Minho acompanha-me ao longo dum prazeroso passeio por cuidados passadiços de madeira, perfeitamente esculpidos, conduzindo-me ao interior da vila muralhada, que tão belos segredos esconde. A receita é simples, desfrutar de cada pormenor, seja sentado num banco da Praça Deu-la-Deu ou numa esplanada com um copo de Alvarinho na mão. É possível passar horas neste exercício contemplativo, escutando o português galego das gentes da terra, espreitando a cumplicidade das pessoas, num lugar onde todos se parecem conhecer.
Monção tem vida e quer partilhá-la com todos, tal como o faz com as suas tradições. A Feira da Foda (que delícia de prato!), o Rally à Lampreia (para quem aprecia…), a Feira do Alvarinho (é preciso opinar?) e um sem fim de eventos que revelam um pouco mais da alma desta terra.
Com tempo, arrisquei deixar a proteção das muralhas e parti à descoberta de novos adjetivos, correndo o risco de ficar ainda mais preso a este lugar. Tal como temia, foi precisamente isso que aconteceu.
Caminhei por uma pequena rota de velhos moinhos até me de parar com a fresca e surpreendente Cascata do Fojo, na freguesia de A Lara. Viajei no tempo e na história ao conhecer os recantos e curiosidades do impactante Palácio da Brejoeira. Calcorreei mais um cuidado passadiço até chegar ao ponto setentrional de Portugal: Cevide. No pequeno lugar de Lapela, vi uma torre de menagem erguer-se por entre os telhados das casas deste lugarejo. E o que dizer da Branda de Santo António de Val de Poldros, perdida no alto duma gigante montanha, com as suas casas de pedra, perfeitamente imperfeitas, tão graciosas, que convidam a lá permanecer sem nada mais além do que aquela paz?
Cabe tanto neste nome: Monção.
Por Rui Passos
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