LUÍS PINHEIRO

Picheleiro

luis-pinheiro

Nome Luís de Freitas Pinheiro
Nascimento 13 de julho de 1953
Guimarães, Portugal
Profissão Ex-empresário (reformado)

Penso na história de Luís Pinheiro, 63 anos, como o retrato do emigrante vimaranense e noto-lhe muitas semelhanças com o percurso que milhares de refugiados fazem para chegar à Europa. Motivações  parecidas, dificuldades imensas, fins idênticos. Fui conhecê-lo a Rendufe, terra de cheiro a eucalipto e que é campo de muitos cultivos. Fugiu, como tantos outros, de um país e de um pai algozes, quando a iminência da maioridade vaticinava a ida para a guerra em África.

Era na surdina que se sabiam dos passadores que lhes prometiam o salto por 12 contos (que corresponde, atualmente, a 2100 euros). Os que já lá estavam e arriscavam férias em Portugal, também a salto, descreviam um país de liberdades e riquezas, um oásis na aridez do Estado Novo. Luís Ribeiro, aos 17 anos, foi para França mas a viagem havia de lhe reservar várias agruras até ao destino final. À primeira tentativa, foi preso em Vilar Formoso por não possuir documento oficial. Passadas 24 horas nova tentativa, dessa vez alcançou as terras de Espanha com sucesso. Depois disso foram vários dias em veículos que “de dia transportavam ovelhas e porcos” e que à noite “carregavam os portugueses”.

Viajava num grupo de 14 homens.

Um deles acabou por morrer em Espanha, já perto da fronteira com França. O passador mandou-os enterrar o corpo em estrume e até hoje Luís não sabe se a família alguma vez soube daquele desafortunado destino. A fome marcou-lhe o corpo. Chegado à desejada França, o passador colocou-o, de noite, num comboio para Paris. Amanheceu já na Gare du Nord. O edifício impunha-se sobre Luís, que varado de fome e de sede, não conseguia perceber como sair dali. É que o homem que hoje me conta a viagem, em tom aventureiro, nunca aprendeu a ler nem a escrever. Durante três dias fugiu de polícias, comeu do lixo. Até que se esgueirou num comboio para Antony, depois de ter ouvido alguém a pronunciar esse nome que lhe pareceu familiar.

O pica do comboio amargurou ainda mais a viagem de Luís, perseguindo-o, numa altura em que a fome era já “insuportável”. Chegado à estação de Antony viu, em frente, um prédio em construção. Foi para lá que se dirigiu e encontrou um português, vimaranense e torcatense. Este mandou-o esperar no barraco que servia de apoio à obra e a esperança de Luís voltou ao ver uma vassoura. Estava em França para trabalhar e agarrou-se a ela, limpando o espaço, para mostrar a força de vontade que o levou até ali, apesar do corpo que já desfalecia.

Luís comeu sandes com chouriço, foi tratar da documentação no dia seguinte, arranjou trabalho uma semana mais tarde. Ainda veio a Portugal de férias, a salto, quatro vezes. Foi numa delas que casou. Levou consigo a mulher com quem teve os dois filhos. Empregaram-no “18 patrões”, mas foi a partir de 2000 que se realizou profissionalmente ao abrir uma empresa de pichelaria em nome próprio. Entretanto já se reformou: mais de 40 anos emigrado, trabalhava 11 meses em França e o mês de agosto em Rendufe, onde edificou uma casa para si e uma para cada um dos filhos. Hoje descansa – ainda no ano passado conheceu Lisboa! – e agora pensa em, talvez, aprender o aeiou para corresponder- se com os netos.

Por: Catarina Castro Abreu

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