Mal-enquadrados

Por José Rocha e Costa.

jose rocha e costa

por José da Rocha e Costa

Faleceu na passada semana, sem que nada o fizesse prever, uma das figuras vimaranenses mais icónicas das últimas décadas. Mais do que uma figura do desporto, e mais concretamente do Vitória, Neno é um símbolo da cidade, não só por ter adoptado Guimarães como “sua” e a ter levado consigo por esse mundo fora, mas também pela alegria contagiante com que interagia com os outros, tornando-se um exemplo para todos, sobretudo os mais jovens.

No seguimento do seu falecimento, multiplicaram-se as homenagens um pouco por todo o país e tal é o seu legado, que seria impossível esperar outra coisa. Ora, no meio das homenagens, “tropecei” por acaso num tweet de um conhecido argumentista português chamado João Quadros, que colabora frequentemente com figuras do humor como Bruno Nogueira, Herman José, Maria Rueff, entre outros. Neste tweet aparecia uma imagem do Nemo, a figura de animação conhecida pelo filme “À procura de Nemo” e por baixo podia-se ler: “F***-se morreu o … desculpem li mal”.

Sendo João Quadros argumentista e ilustrador (pelo menos, sei que faz as ilustrações na rúbrica semanal que Ricardo Araújo Pereira escreve na revista Visão), o trocadilho até tem a sua graça. E não, não concordo com as pessoas que dizem que com certas coisas não se brinca. Tudo depende da forma como se diz, do sítio em que se diz e se de facto a piada tem piada. Não faltam piadas que têm por tema assuntos controversos, e não é por isso que deixam de ter graça. Por exemplo, se eu fizer uma piada sobre violência doméstica, isso não quer dizer que eu ache positivo o facto de haver violência doméstica, eu posso estar a ridicularizar o(s) indivíduo(s) que comete(m) tais actos ou posso estar simplesmente a fazer uma crítica social. Neste caso em particular, é um disparate pensar-se que João Quadros achou piada, ou ficou feliz pela morte do Neno. Ele apenas utilizou uma notícia mediática para fazer um trocadilho, um jogo de palavras. Agora, uma coisa é o que ele fez, outra coisa é a interpretação das pessoas. Como seria de esperar, houve alguns vimaranenses (provavelmente um tanto ou quanto rústicos), que não reagiram bem à graçola e desataram aos insultos e ameaças a João Quadros.

Até aqui tudo normal, afinal de contas, basta dar um “passeio” pelas redes sociais para se perceber duas coisas: 1 – Que muita gente, quando se põe a escrever em frente ao computador, se torna bem mais grosseira; 2 – Que o ensino a nível da língua portuguesa ainda está muito aquém daquilo que seria desejável. O que não foi normal, foi a reacção do autor da piada, que se deu ao trabalho de responder a meia dúzia de energúmenos, ainda por cima fazendo generalizações e insultando os vimaranenses como um todo. Se há coisa a que uma pessoa ligada ao humor deveria estar habituada, é a este tipo de reacções. Afinal de contas, não podemos estar à espera que toda a gente entenda uma piada, o único humor que não gera reacções deste género é aquele humor “insosso” do género “Malucos do Riso”.

Mas pelos vistos João Quadros, apesar dos seus 57 anos, ainda não aprendeu esta lição. Se calhar, em vez de passar o tempo a ver filmes para crianças que, ao que tudo indica, só o ensinaram a comportar-se como uma, poderia passar mais tempo a ver coisas sobre o Neno, podia ser que aprendesse uma coisa ou outra sobre Fair Play e chegasse à conclusão de que “vozes de burro não chegam ao céu”.

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