NA RODA DE CAPOEIRA DO CCCB CABE UM MUNDO

Novembro é recheado de datas especiais para os capoeiristas. E muitos celebram-nas em Guimarães com o Mestre Careca, como aconteceu nos últimos dias.

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Novembro é recheado de datas especiais para os capoeiristas. E muitos celebram-nas em Guimarães com o Mestre Careca, como aconteceu nos últimos dias.

© Nuno Rafael Gomes/ Mais Guimarães

É uma luta, mas também uma dança. E ainda um jogo onde cabe o mundo. “Grande joga com pequeno, preto joga com branco, gordo joga com magro.” O Mestre Careca não tem dúvidas: a capoeira “é um lugar maravilhoso” — e nele fazem-se amigos, constrói-se a autoconfiança e aprimoram-se a coordenação e a disciplina. A tolerância na base de tudo, igual para igual. Gilmar Caldas Suarez — assim se chama o mestre — chegou a Guimarães há 11 anos. Abriu o Centro Cultural de Capoeira Baiana (CCCB) há dez e de lá para cá já terá perdido a conta dos alunos que por ali terão passado: “Temos turma a partir dos três anos. E pode vir até aos 300!”, atira. “Temos aulas todos os dias, com turma infantil, juvenil e adulta. E promovemos muitos intercâmbios, porque este centro foi montado para dar suporte às outras escolas.”

É que o Mestre Careca já ensina há 23 anos fora do Brasil: tem escolas no seu país, mas também no Canadá, Chile, Espanha, Noruega, Itália e Dinamarca. No último sábado, dia 23, o CCCB acolheu discípulos de alguns desses países, mas, segundo Gilmar, também estiveram ali capoeiristas da França e Alemanha, por exemplo. Rumaram a Guimarães a propósito de um encontro internacional de capoeiristas em forma de “seminário”. “Eles vêm para fazer essa reciclagem anual e anunciamos a seguinte turma. No ano seguinte temos as cerimónias de formatura. Os mais velhos sobem na hierarquia”, explica.

Naquele centro mora a sapiência e a tradição capoeirista está presente em todo o lado. No piso onde se encontra a roda — Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO desde 2014 — há pandeiros nas paredes e berimbaus de perder o número. Há cor, muita, e música. Uma espécie de cave, ampla, contempla paredes com o estado baiano desenhado, cheio de cor, mais uma vez, e o Mestre Careca diz que “se parece com Guimarães”. Há quatro rodas desenhadas no chão, para os diferentes níveis, e uma das paredes é dedicada a registos fotográficos do Mestre Bimba, o criador da capoeira regional baiana e a referência máxima para os capoeiristas. Para muitos, a capoeira não é só um passatempo: é o destino, o sonho, a razão.  

© Nuno Rafael Gomes/ Mais Guimarães

Pedro Canha, vimaranense a viver em Espanha, pratica desde os 10 anos. Aos 36, dedicou mais de um quarto de século à modalidade. “Para mim é tudo. É uma arte marcial muito completa, nesta vertente da capoeira, a capoeira regional da Bahia”, conta. Foi nesse estado brasileiro que nasceu a expressão cultural pelas mãos do Mestre Bimba — “nome de guerra” de Manoel dos Reis Machado —, cujo aniversário é assinalado todos os anos a 23 de novembro. Na mesma altura, os capoeiristas unem-se para festejar a criação da capoeira regional baiana pelo Mestre Bimba e ainda o Dia da Consciência Negra, celebrado a 20 de novembro.

Ele é um dos muitos capoeiristas sentados na roda da capoeira. As faixas etárias são díspares, mas todos se compreendem: todo o capoeirista que não fala português, tem de aprender. “É a manifestação cultural que mais divulga a língua portuguesa no mundo, porque a capoeira está presente em mais de 180 países”, diz o Mestre Careca. E, para além dos movimentos e do idioma, também há uma base teórico-prática no que diz respeito aos instrumentos — na capoeira regional, “é o berimbau que rege” o jogo, acompanhado de dois pandeiros e das palmas (mas não em todos os momentos). “Aprendem desde a confeção do instrumento, a colocação da voz, a parte cultural… Na verdade, transmite-se a cultura como um todo”, refere Gilmar. E dessa cultura bebem todos os mais de 1.500 alunos das escolas do Mestre Careca, estejam eles onde estiverem, independentemente do credo. “Já viajei para mais de 40 países ensinando capoeira. Você chega num país muçulmano e vê pessoas de religiões diferentes na mesma roda sem ter conflito, de nacionalidades diferentes, cantando na mesma energia e em português, confraternizando independentemente da ideologia política”, atesta. E o Mestre Careca não tem dúvidas: “A capoeira une os povos. E também dá oportunidade a quem não as tem.”

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