“Não acho que a arte deva ser consumida, mas experimentada”
É a arte “que nos segura a (in)sanidade”.

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Celebra-se esta quinta-feira, 15 de abril, o dia mundial da arte. Apesar de ainda não nos ser possível ir ao cinema, ao teatro, ou visitar exposições, o Mais Guimarães quis perceber o impacto que a pandemia teve, ou não, nos artistas de Guimarães.

Carolina Amaral é atriz e sente o teatro como se fosse a sua casa. Acredita que a pandemia “trouxe consigo um véu de obscuridade e de temor”. As pessoas viram-se “subitamente deslargadas do quotidiano de freneticidade, mas também de um certo entorpecimento. Com o abrandamento ou suspensão dos hábitos anteriores dos nossos dias, encontrámo-nos mais vulneráveis, mais despojados da artilharia de uma gestuária e discurso redundantes, que nos protegia de uma disponibilidade ao desconhecido gerado pelos outros, ou por nós”.
Foi nesta “fragilidade inesperada” que, diz a atriz, “sentimos a necessidade de nos pensarmos, nos reformularmos, nos problematizarmos, nos deleitarmos no lugar, que sempre em aberto e em revolvência, nos toca como nenhum outro, a arte”.
Na esperança de que isto implique, no futuro, “mais consideração e investimento na cultura e nos seus trabalhadores”, Carolina Amaral acredita que é este lugar, a arte, “que nos segura a (in)sanidade”.
“Em confinamento, o trabalho de pesquisa, concepção, escrita prossegue com o recolhimento que, na maioria dos casos, já acontecia”, explicou. É na sala de ensaios ou no plateau que as diferenças são mais notórias.“Há naturalmente mais distanciamento, mais consciência de toda uma coreografia de higienização, o que se reflete instantaneamente num refreio e numa vigilância dos corpos ou nos corpos que pode impedir uma descoberta cénica que agora talvez seja mais opaca e, por isso, menos concretizável”.
Questionada sobre o silêncio da ausência de público, a artista desabafa, dizendo que “teatro sem público não é teatro. Só o espetador confere acontecimento e sentido ao objeto. No confinamento, houve alguma divulgação de teatro filmado, que não é teatro, mas um outro formato que funciona mais como registo e que é válido e pode fazer com que as receitas da sua disponibilização auxiliem na remuneração dos trabalhadores do setor”.
Para Carolina Amaral, a arte deve ser “experimentada” e não “consumida”. A educação, na sua opinião, “tem um papel fulcral na sensibilização para a criação artística, para a hipótese de deslumbramento, para a hipótese de abismo.”