Neno, um agradecimento

Por César Teixeira.

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Por César Teixeira.

O dia 10 de junho de 2021 terminou da pior maneira possível. Com uma notícia tanto indesejada, quanto inesperada.

Consultava as redes sociais quando, de súbito, numa das muitas páginas alusivas ao Vitória surge uma breve e fria referência: “morreu Neno”. Não acreditei. Melhor, não quis acreditar. De imediato, consultei a página oficial do Vitória. Nada constava. Mais uma notícia falsa? Alguma esperança se acendia! De pouca dura. Logo depois surgia na comunicação social local a confirmação. Neno tinha mesmo falecido.

O meu primeiro contacto com o Neno foi enquanto adepto do Vitória. Ainda menino lembro-me muito bem da sua agilidade nas balizas. De ver jogos e mais jogos do Vitória com o Neno entre os postes. Recordo-me que quando chegou ao Vitória colocou no banco aquele que era, até então, um dos meus jogadores preferidos: Jesus. Confesso que, então, não simpatizei particularmente com essa opção do treinador. Não por qualquer argumento racional, mas apenas e só porque tinha sido destronado aquele que era o “meu” guarda-redes. Aquele que até então eu imitava nos jogos de rua. Pouco depois, também nesses jogos de rua Jesus foi destronado. Saiu do Vitória e regressou para estar associado à conquista da Supertaça. Feito mais alto do Vitória até à mais recente conquista da Taça de Portugal.

Mais tarde conheci o Neno, pessoalmente. Quando, a convite de André Coelho Lima e José Luís Machado, assumi responsabilidades no Departamento de Juventude do Vitória. Mais concretamente na área da expansão social. Pude verificar que era, pessoalmente, o que transpirava ser publicamente. Foi então elaborado um ambicioso plano com o objetivo de aumentar a projeção social do Vitória. Contactámos escolas. Autarquias. Associações. Queríamos aproximar o Vitória da comunidade. Quem era a figura que todos pediam nas diversas deslocações? Neno. Que nunca disse não. Que estava sempre presente e disponível para representar o Vitória nas sucessivas deslocações organizadas.

Desde o dia 10 de junho que as redes sociais dos vitorianos e dos vimaranenses está mergulhada em sucessivas publicações alusivas ao Neno. Ao Neno atleta. Ao Neno dirigente. Ao Neno figura social. Ao Neno amigo. E estas publicações são o reflexo de uma cultura de proximidade inusual. Muitos vimaranenses, em algum momento da vida, se cruzaram com o Neno. Daí que abundem nas redes sociais fotos de Vimaranenses com o Neno.

Mas se os vimaranenses individualmente se sentem próximos do Neno, o mesmo sucede com a generalidade das associações do concelho. Todo o vimaranense facilmente pode constatar que a generalidade das causas sociais levadas a efeito pelas associações vimaranenses tinham associado um padrinho especial. Havia uma campanha de donativos a favor de uma instituição? Lá estava a colaborar. Havia uma caminhada social? Lá estava no início da caminhada. Era efetivamente invariável a presença. Estava. Notava-se que gostava de estar. E as pessoas e associações gostavam de contar com a sua presença.

Na hora da despedida, o Vitória e Guimarães manifestaram o sentimento que nutrem pelo Neno. Um paradoxo. Guimarães e os vitorianos que ainda há bem pouco tempo eram apodados na praça publica com epítetos pouco abonatórios quanto à tolerância racial, prestam agora homenagem emocionada e sentida a Neno. Numa manifestação clara de que os vimaranenses e os vitorianos são, na sua generalidade, tolerantes e inclusivos.

Quiseram as contingências inerentes à carreira de um jogador colocar Guimarães na vida de Neno. Que Neno tivesse escolhido Guimarães para viver. Quis Guimarães acolher o Neno, de braços abertos. Uma relação que foi intensa. Durante a sua vida, Neno prestou relevantes serviços à comunidade vimaranense. A comunidade vimaranense beneficiou largamente com a sua atividade.

Por tudo quanto Neno deu à comunidade considero que, em 2022 e a título póstumo, Neno, deverá ser reconhecido pelo Município de Guimarães. Com a atribuição de uma distinção honorífica a título póstumo.

A impressionante manifestação que ocorreu durante as cerimónias fúnebres evidenciam bem o reconhecimento da comunidade pelos serviços prestados. Resta agora ao poder político institucionalizar o reconhecimento popular. Distinguindo o que os vimaranenses distinguiram.

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