Nicolinas aguardam há sete anos por decisão da Direção-Geral do Património Cultural
As festividades marcam passo para uma eventual candidatura a Património da Humanidade desde 2005
As festas dos estudantes de Guimarães aguardam, desde dezembro de 2016, que a Direção-Geral do Património Cultural dê andamento ao pedido de inscrição no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, o primeiro passo para uma candidatura a Património da UNESCO.
O processo esteve parado durante vários anos, alegadamente por falta de pessoal, e só recentemente voltou a ter desenvolvimentos. A semente da ideia de candidatar as Nicolinas a Património da Humanidade foi lançada em 2005, primeiro num trabalho do professor da Universidade do Minho, Lino Moreira da Silva, e depois numa moção apresentada pelo então deputado municipal André Coelho Lima.
O presidente da Câmara de Guimarães, Domingos Bragança, comentou recentemente, a propósito das Festas Nicolinas, que “são um momento que une todos os vimaranenses”. A inscrição destas festas estudantis no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial é condição fundamental para que no futuro seja possível candidatá-las a Património da UNESCO.
Todavia, apesar das palavras do edil e do consenso entre os partidos representados na Assembleia Municipal, em 2005, relativamente à proposta de André Coelho Lima, foram precisos onze anos até o pedido de inventariação ser entregue pelo município à Direção-Geral do Património Cultural (DGCP), em dezembro de 2016. Depois disso, passaram-se sete anos e só em junho deste ano é que o processo saiu da gaveta. Supostamente o impasse aconteceu por a DGCP, ao longo destes anos, só ter tido uma pessoa para analisar estes processos.
Segundo o antropólogo Jean-Yves Durand, coordenador do estudo “As Festas Nicolinas, em Guimarães: tempo, solenidade e riso”, encomendado pelo município e publicado em 2019, “o processo recomeçou a andar recentemente, depois de ter estado parado, por falta de pessoal, durante sete anos”. De acordo com o antropólogo, “a DGPC deu um parecer em que pede acertos a alguns aspetos da candidatura”. As respostas a este pedido estão a ser preparadas, aproveitando as festividades de 2023, “para recolher material mais recente, nomeadamente imagens”.
Nicolinas podem ser inscritas no Inventário Nacional em 2024
“Segue-se um tempo em que a DGPC pode pedir mais esclarecimentos e depois o processo passa para uma fase de consulta pública”, esclarece Jean-Yves Durand. Este especialista acredita que é “uma expectativa realista” acreditar que as Nicolinas poderão ficar inscritas no Inventário Nacional de Património Imaterial durante o decorrer de 2024.
Já relativamente a uma candidatura a Património Imaterial da UNESCO, o antropólogo é cuidadoso. “Atualmente são mais valorizadas as candidaturas coletivas, incluindo vários países. As Nicolinas poderiam integrar um conjunto com outras festividades em honra de São Nicolau”, esclarece.
André Coelho Lima, que deu o mote para este processo e várias vezes se insurgiu pela lentidão com que foi conduzido, vê com bons olhos esta possibilidade de uma candidatura coletiva. O presidente da Associação dos Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães (velhos nicolinos), José Ribeiro, é peremptório: “a posição da associação, expressa em Assembleia Geral, mantém-se e é favorável à candidatura a Património da Humanidade”.
Dúvidas por causa do consumo de álcool
Algumas dúvidas quanto à validade da candidatura começaram a colocar-se, em 2019, depois da publicação do estudo acima referido, realizado por António Amaro das Neves, Clara Saraiva, Hugo Castro e Rui Faria e coordenado por Jean-Yves Durand. O trabalho frisa aspetos, como o consumo excessivo de álcool, nomeadamente por menores, que poderão ser um obstáculo à classificação.”Parece a priori pouco provável que esta considere uma tolerância do consumo alcoólico juvenil como sendo compatível com a sua missão [a UNESCO]”, lê-se no estudo. As Nicolinas são um ritual iniciático de rapazes, as praxes e o machismo são outras dimensões vistas como problemáticas para a classificação pela UNESCO.
Perante isto e passados tantos anos, alguns nicolinos mudaram de opinião, concluindo que ter um organismo externo a vigiar as festas e a impor-lhe regras não seria a melhor ideia e que podia até descaracterizá-las.
André Coelho Lima, contudo, continua a achar que a classificação como Património da Humanidade é algo por que vale a pena lutar. “Quando se fala em machismo, veja-se os Caretos de Podence, reconhecidos como Património Imaterial pela UNESCO, em 2019. São só homens que andam com aquelas máscaras, a importunar as mulheres”, aponta, quando se fala das críticas lançadas às Nicolinas, nomeadamente de machismo.
Pelo jornalista Rui Dias.
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