NOVO HORÁRIO DE TRABALHO NO GRUPO KYAIA “NÃO RESPEITA CONTRATO COLETIVO”, DIZ SINDICATO
Manifestação agendada para as 19h30 desta quinta-feira no Largo do Toural.
Novos intervalos no horário dos trabalhadores do grupo Kyaia acrescentam 20 minutos às oito horas de trabalho. O não-cumprimento do estipulado refletiu-se na redução salarial equivalente a esse período. Sindicato do Calçado fala numa situação “obviamente ilegal” e uma manifestação está agendada para esta quinta-feira, no Largo do Toural, a partir das 19h30.
No início de outubro, um “papel afixado na parede” informava os trabalhadores do grupo Kyaia de um novo horário de trabalho: “das 08h00 às 17h20, com intervalos de dez minutos, das 10h00 às 10h10 e das 16h às 16h10”, explica um trabalhador da empresa que preferiu não ser identificado. Esta novidade foi transmitida aos trabalhadores de Guimarães e de Paredes de Coura do grupo. “E temos de compensar estes dois intervalos com mais 20 minutos ao fim do dia”, conta. A estipulação do novo horário por parte da administração do grupo Kyaia não respeita as normas do Contrato Coletivo de Trabalho, que prevê uma “pausa para almoço, nunca inferior a uma hora e nunca superior a duas” e que “não fala em pausas, mas sim em pausa”, refere a coordenadora do Sindicato do Calçado Minho e Trás-os-Montes, Aida Sá.
Com a imposição das duas pausas, os colaboradores do grupo empresarial trabalham mais 20 minutos por dia, o que se traduz em mais uma hora e 40 minutos por semana. Segundo o trabalhador contactado pelo Mais Guimarães, os colaboradores do grupo não aceitaram o novo horário e fizeram “um abaixo-assinado”, que foi entregue ao Sindicato, “que atuou em conformidade”. “Que fique bem claro que não estamos contra o intervalo, porque ninguém está. Não temos é de pagar esse dito intervalo”, diz.
Isto porque, confirmou o Sindicato do Calçado, a não-realização dos intervalos por parte de quem não aceitou a imposição da administração resultou na redução do salário. “Trabalho aqui há 30 anos e nunca tivemos intervalo”, diz o trabalhador, indicando que a redução salarial “anda à volta dos 20 euros, dependendo de cada caso”. A mesma fonte afirma que os trabalhadores não sabem “explicar como [é que a administração] fez esse desconto”. “Estou a trabalhar as oito horas. Enquanto não estiver definido o horário, nem deveria tocar no salário”, insiste.
Aida Sá relembra que existe “um cartão de oito horas efetivas de trabalho” e que o desconto salarial “não tem razão de ser” e é “obviamente ilegal”. “Isto surgiu como medida de retaliação, para reprimir e oprimir trabalhadores”, frisa. “A empresa quer aleatoriamente aplicar três pausas sem o visto dos trabalhadores. Têm de falar com eles e negociar nesse sentido”, explica. “A empresa diz que se remete ao código, mas não se pode sobrepor ao código quando temos uma contratação coletiva”, acrescenta, sublinhando que a mesma “foi negociada durante o período em que o senhor Fortunato era presidente da Appicaps [Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneo]”. “Isso é que é o mais grave. Esta nova direção da Appicaps ainda não teve tempo ou oportunidade de renegociar o contrato coletivo. Portanto, o que está negociado foi única e exclusivamente durante o mandato do senhor Fortunato. O código não é aplicável, mas sim a nossa contratação coletiva”, afirma Aida Sá.
O Mais Guimarães tentou contactar a direção do Grupo Kyaia, mas, até ao momento, a mesma não teve disponibilidade para prestar declarações para o assunto. Já a Appicaps refere ter vindo “a acompanhar a situação” e julga que a mesma “necessita de acompanhamento jurídico”. “Apenas temos vindo a acompanhar e a prestar apoio jurídico necessário à empresa Kyaia”, diz fonte da Appicaps.
Segundo a coordenadora daquele sindicato, o contrato coletivo prevê que os trabalhadores gozem das “pausas que entenderem”, até porque as empresas estão equipadas com “máquinas de café, bolos e afins”. “A empresa entendeu que deve regular. Não somos contra pausas, mas sim contra a forma como a empresa pretende impor essas pausas”.
Para a próxima quinta-feira, dia 14 de novembro, está agendada uma manifestação, organizada pela força sindical, para as 19h30 no Largo do Toural. Aida Sá prefere não apontar números concretos, mas espera-se “uma forte adesão”. Conta-se ainda que a Guimarães venha cerca de uma centena de trabalhadores de Paredes de Coura. O trabalhador contactado pelo nosso jornal apontou para uma adesão de 80% dos colaboradores da empresa situada em Penselo. “Ele [Fortunato Frederico] nem sequer negociou connosco. Quisemos negociar e estávamos dispostos a dar-lhe dez minutos. Tentamos negociar em três reuniões, representados pelo sindicato. Mas está irredutível. Agora, o pessoal não aceita sequer os 50% e vai-se até às últimas consequências”, frisa. Segundo o comunicado enviado à imprensa que informa acerca da manifestação agendada para quinta-feira, a administração terá mantido “uma posição irredutível e prepotente na violação das normas laborais”. “Esta questão vai ser debatida pela justiça, não temos a menor dúvida”, aponta Aida Sá.
Segundo o site da empresa, a Kyaia foi fundada em 1984 por Fortunato Frederico e Amílcar Monteiro, expandindo-se para Paredes de Coura em 1989. A Kyaia detém, entre outras, a cadeia de lojas Foreva e a marca Flylondon. Lidera um grupo empresarial com mais de 600 colaboradores, com um volume de negócios de 55 milhões de euros e um modelo de negócio que se estende às áreas da distribuição, do retalho, ramo imobiliário e das tecnologias de informação.
Com Mafalda Oliveira
PUBLICIDADE
Partilhar
PUBLICIDADE
JORNAL
MAIS EM GUIMARÃES
Março 19, 2024
A vereação da Câmara Municipal de Guimarães aprovou, por unanimidade, as contas finais dos trabalhos de requalificação do centro das Caldas das Taipas. As obras totalizam mais de seis milhões de euros.
Março 19, 2024
A Federação Portuguesa de Futebol anunciou a dispensa de oito jogadores do lote de 32 convocados para o jogo particular frente à seleção sueca.
Março 19, 2024
Esta é a edição de março de 2024 da revista Mais Guimarães. Nesta edição, destaque para o 50º Aniversário da Universidade do Minho. O passado, presente e futuro da academia milhota.