O dedo na ferida
Por César Teixeira.
Por César Teixeira.
“Guimarães não tem acompanhado o ritmo de crescimento de Famalicão, Braga e Barcelos.” Esta frase não foi proferida por um dirigente de um partido da oposição. Foi proferida por António Magalhães. Anterior Presidente da Câmara Municipal de Guimarães e líder histórico do PS. Que o referiu em entrevista recentemente publicada.
Durante alguns anos comparar Guimarães com concelhos vizinhos era, para o PS, um tema proibido. Quem ousasse efetuar comparações era automaticamente acusado de estar a diminuir ou a prejudicar Guimarães.
Mas não vale a pena fugir ou negar a realidade. Mais cedo que tarde, a realidade vem ter connosco.
Guimarães não fica diminuído por se constatar que não estamos a acompanhar o crescimento dos concelhos vizinhos. Guimarães fica diminuída face a esses concelhos por, precisamente, não estarmos a acompanhar esse ritmo de crescimento.
Por isso, é importante que, ultrapassado um bairrismo bacoco e serôdio, comparemos a nossa condição com a dos concelhos vizinhos. Para que possamos saber qual a nossa posição relativa. No País e na Região.
O primeiro pressuposto para que possamos corrigir decisões e processos de decisão é podermos perceber que outros atores estão a fazer melhor. Que, por estarem a fazer melhor, estão com ritmos de crescimento e desenvolvimento superiores. E que, por essa via, fixam e atraem. Pessoas e empresas.
Se, ao invés, continuarmos em estado de negação. Presos demagogicamente a velhos conceitos. Até poderemos conseguir agarrar a narrativa do jogo político. E até poderemos ter ganhos momentâneos para a manutenção do poder. Mas o facto é que essa narrativa apenas permite esconder o problema. Porque a realidade é incontornável e indesmentível.
Guimarães não tem acompanhado o ritmo de crescimento dos concelhos vizinhos. A oposição tem denunciado esta realidade há vários anos. Magalhães disse-o agora, em 2023. Mas os números, infelizmente, há muito revelam isso mesmo. Guimarães, em 2001, tinha apenas menos 4.000 habitantes do que Braga. Hoje, Guimarães tem menos 25.000 habitantes do que Braga. Hoje Famalicão está em termos populacionais mais perto de Guimarães, do que Guimarães está de Braga.
Estes são os números. Um concelho cuja população cresce é um concelho pujante e vibrante. Que consegue manter os seus residentes e atrair novos.
Os números exibem as dificuldades de Guimarães no acompanhamento do ritmo de crescimento de Braga e Famalicão. E percebe-se o desconforto perante estes números. São como o algodão. São o sintoma dos nossos problemas.
Mas há um outro facto relevante e que é marca da atual gestão municipal: a periferização de Guimarães. Que poderá ser acentuada com a opção tomada pelo PS aquando do debate sobre o Plano Ferroviário Nacional. Que, ao invés de efetuar a defesa da melhoria da ligação ferroviária de Guimarães ao Porto e a Lisboa, deu prioridade à ligação a Braga. Um erro histórico. Guimarães ficará mais periférica face ao Porto e a Lisboa. Guimarães verá acentuar o reforço de Braga enquanto centralidade regional.
A incapacidade de acompanhar o ritmo de crescimento dos concelhos vizinhos e a tendência para a nossa periferização deve-nos preocupar e deve merecer a reflexão de todos nós.
Esta reflexão deve logo de imediato ser feita em torno da política fiscal. Guimarães, infelizmente, tem sido a capital dos impostos altos e das taxas elevadas. Basta verificar que nos concelhos à sua volta, Guimarães é o único que cobra a taxa máxima de IRS. Situação tanto mais incompreensível quanto o facto de o Município ter conseguido cobrar mais receita do que aquela que ele próprio previa aquando da elaboração do orçamento.
António Magalhães lançou esse processo de reflexão para o interior do PS vimaranense. Na mesma entrevista refere que “deveríamos ter em conta algumas capacidades de poder arranjar processos de atratividade para que as empresas com essas características não nos faltem e, em consequência, termos empregabilidade”.
A entrevista do líder histórico do PS vimaranense tem esse condão: “uma pedrada no charco”. Permitir a abertura de uma autocritica no PS vimaranense. De forma aberta e sem os tradicionais anátemas que lançam a quem ouse pensar diferente. A partir de agora não é só a oposição que coloca “o dedo na ferida”. Também no PS há quem assim pense. E esta pode ser uma oportunidade para que o PS local, ouvindo o seu dirigente histórico, tome consciência de que algo não corre como desejado na governação.
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