O grande plagiador está a observar-te.

Por José João Torrinha.

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Por José João Torrinha, Advogado e Presidente da Assembleia Municipal de Guimarães No filme Frere et Soeur (Arnaud Depleschin, 2022), vemos Alice Vuilliard (interpretada por Marion Cotillard) numa farmácia, a tentar aviar a receita prescrita por um psiquiatra. Perante os comentários, desconfianças e meias palavras do empregado, a atriz rompe numa fúria e descarrega nele um sofrimento que carrega consigo há demasiados anos e que assim vê a luz do dia.

Quando assistia a esta cena no grande ecrã, algo soava estranhamente familiar e rapidamente à memória veio uma outra, de um outro filme. Em Magnolia (Paul Thomas Anderson, 1999), Linda Partridge (Julianne Moore) é recebida em idêntico estabelecimento com idênticas atitudes e também ela reage de forma muito similar.

As semelhanças são tantas que é difícil não sermos atirados para as águas turvas do plágio. Águas antigas e que desde que o homem começou a criar lhe fazem companhia. Ainda muito recentemente um destacado cronista do jornal Público foi apanhado a nadar em tais águas salobras. Uma leitora atenta percebeu que um artigo saído no diário português era cópia demasiado fiel de um outro saído em periódico espanhol. Um caso que deu brado, pois não se tratava do primeiro na carreira do visado e que acabou por levar à sua saída do jornal.

Mais recentemente ainda, grassou polémica da grossa entre dois biógrafos de Fernando Pessoa, em que um acusava o outro de ter rapinado determinadas passagens à sua obra sem que tivesse procedido à necessária citação.

Os dias de hoje são propensos à ocorrência destes fenómenos e também à sua denúncia. Vivemos imersos em informação que nos chega por todas as formas e feitios e é mesmo natural que possa haver casos em que o plagiador já nem o é de forma consciente. Algo pode ter aterrado no seu cérebro vindo sabe-se lá de onde e ter sido reciclado por forma a renascer como se nunca tivesse deixado de ser profundamente original.

Por outro lado, as ferramentas estão aí, ao dispor de todos, para que quem suspeite de uma réplica manhosa e mal-intencionada possa desmascarar o copião.

Mas estes dias são ainda marcados pelo surgimento de um grande e impressionante plagiador. Diríamos mesmo, o plagiador dos plagiadores. O laboratório Open AI lançou um sistema de inteligência artificial designado ChatGP3 e quem já o experimentou percebe bem o alcance do que estamos a falar. Usando um conhecimento quase universal de tudo o que é publicado na internet, a ferramenta produz textos “originais” que mais não são do que uma mega reciclagem de tudo o que já foi pensado e publicado.

Se pensarmos na hipótese de estes sistemas virem a crescer de forma exponencial, podemos vislumbrar as implicações que os mesmos podem vir a ter nas nossas vidas. Não se trata de ficção científica, nem de uma de algo quem tem piada mas, que não passará disso.

Desconhecemos ainda o impacto concreto que tudo isto pode vir a ter e quem o tentar prever não estará a fazer mais que deitar-se a adivinhar. Mas de uma coisa podemos estar certos: em breve a forma como muitas coisas são “criadas” vai mudar radicalmente. E o impacto que isso terá em determinadas profissões e atividades é tão difícil de mensurar como inevitável.

Não queria ser tremendista, nem anunciador de apocalipses, mas se calhar era melhor apetarmos os cintos, porque já se sente a turbulência.

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