O MEDO VAI TER TUDO?

ANTÓNIO ROCHA E COSTA Analista Clínico

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por ANTÓNIO ROCHA E COSTA
Analista Clínico

Tempos estranhos estes em que vivemos. Tempos dominados pelo medo, que na sua forma mais extrema se chama terror.

Há uns tempos Rui Zink publicou um livro com um título sugestivo, nada mais nada menos que “A instalação do medo”. Desde então, as tentativas de instalar o medo têm-se multiplicado um pouco por toda a parte. Recentemente, tentaram instalá-lo no Centro Histórico de Guimarães, mais precisamente no Largo da Misericórdia, ou de João Franco, a pretexto de um alegado homicídio, que pelos vistos não foi homicídio nenhum, mas apenas um mero acidente, ou algo semelhante. Entretanto, na sequência das eleições para o Parlamento, ameaçam-nos todos os dias com o Papão dos mercados e com os comunistas, que, pelos vistos, ainda comem criancinhas e liquidam as pessoas com a famosa “Injeção atrás da orelha”.

Mas tudo isto não passa de brincadeiras de crianças, quando comparado com o verdadeiro medo ou terror que está a ser espalhado pelo denominado ISIS ou Estado Islâmico.

A análise do fenómeno (ou será apenas epifenómeno?) não é simples nem linear, ao contrário do que nos querem fazer querer os comentadores do costume, que têm sempre explicações para tudo. As explicações serão várias, naturalmente, mas o importante é concentrarmo-nos no essencial, que é o facto de podermos estar sob um ataque radical à nossa forma de viver, o que poderá representar o regresso à barbárie e aos tempos mais obscuros da Humanidade.

Mas se isso é uma possibilidade, ainda que incerta, não podemos ficar paralisados pelo medo e alinhar na paranoia coletiva que tem assolado o mundo, isto é, a Europa Ocidental (porque há quem ache que os do resto do mundo não são filhos de Deus), desde os ataques de Paris na sexta-feira 13, dia em que se celebrava mais uma noite das bruxas, aqui bem perto, mais precisamente em Montalegre.

É urgente reagir a esta espécie de paranoia coletiva, que ao mais leve sinal, seja ele o barulho de uma motorizada ou o foguete lançado na romaria mais próxima, faz as pessoas entrar em pânico e adotar os comportamentos mais irracionais, que são característicos destas ocasiões.

Naturalmente, que o caso é sério e não se compagina com expressões de ironia ou de humor, que podem soar a provocações levianas, mas, por favor, não exageremos, caso contrário estaremos a fazer o jogo dos carrascos que têm como principal objetivo tornar a nossa vida num inferno.

Alexandre O’Neill, na sua forma irónica, por vezes sarcástica, de fazer poesia, retrata exemplarmente a situação que estamos a viver, num notável poema de que respigamos, para terminar esta crónica, o seguinte excerto:

 

(…) Ah o medo vai ter tudo

tudo

(Penso no que o medo vai ter

e tenho medo

que é justamente

o que o medo quer)

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