O NATAL

CÉSAR MACHADO Advogado

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por CÉSAR MACHADO
Advogado

O Natal era perfeito quando à mesa estavam todos. Com o tempo percebemos que, afinal, nunca teria sido bem assim. Já não estariam todos. Nunca terão estado todos. Mas estavam os que contavam aos olhos dos mais pequenos. Os mais velhos  encarregavam-se de fazer daquela noite um momento sem ausências, sem mácula. Incumbiam-se de criar para os mais novos um momento  perfeito quanto perfeita é a infância.  Um momento com todos presentes, como no colorido presépio da sala, que não se imaginaria incompleto. Como seria possível um presépio incompleto?  Mais tarde, já crescidos os meninos, haveria de lhes caber a mesma incumbência, de assegurar o mesmo à criançada. Passa a vez.

Vai-se repetindo um presépio em que se muda de veste e de papel, para passar, então, a fazer  feliz o Natal dos meninos. E ao fazer feliz o Natal dos mais pequenos faz-se igualmente feliz o Natal dos mais velhos, com a alegria que vem devolvida da infância e é partilhada por todos, como que por milagre que só esta noite permite. Uma partilha que torna feliz o Natal dos pequenos e de todos os outros.  Um movimento recíproco  que toca todos, de um ou outro modo.

Transporta-se esta partilha pelos Natais da vida fora, num ou noutro papel. Em crescido, assume-se a obrigação de guardar para esta noite alguma felicidade -por vezes, a felicidade possível.  Tal obrigação –senão cívica, pelo menos moral- impõe-se e não admite fugas. E há-de encontrar-se o tónico certo, o registo adequado, o que a noite requer. Aquela noite, naquele tempo, com aquela envolvente.  Cada um acaba por fazer feliz o seu Natal tornando mais feliz o  Natal dos outros, partilhando o melhor que pode. E isto apesar dos pesares. Apesar de passar por muitos o que David Mourão Ferreira  sintetizou num belo e duro poema que anunciava “Há-de vir um Natal e será o primeiro / em que se veja à mesa o meu lugar vazio (…)”. Não pode haver lugar para lugares vazios na noite de Natal.

Cabe tomar parte neste presépio, com os outros, pequenos ou grandes. E não se imagina um presépio incompleto. Como pode o presépio estar incompleto? Rodam os papéis, mudam-se as vestes, mas mantem-se o presépio. Mantem-se o Natal.  Há nesta noite um retorno  à infância que funciona e recorda, com Teixeira de Pascoaes, que benditos são aqueles em quem sobrevive o anjo da infância.  O Natal é esse tempo da infância recuperada. É esse tempo de regresso. O tempo de um hino a um menino, um menino que virou universal. É, afinal, a celebração de todos os meninos, tornando presente o menino que resta em cada um de nós. E há coisa mais bonita que isto?  Para todos, meninos mais ou menos crescidos, um Natal Muito, Muito Feliz.

 

(ps: este texto é a adaptação de um outro, publicado no saudoso jornal  “O Povo de Guimarães”, há cerca de uma dúzia de natais.)

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