O TRABALHO SOCIAL NÃO É UM “PRONTO-A-VESTIR”
GABRIELA NUNES

por GABRIELA NUNES
Nasci num ninho: num ninho de “Susaninhas”, dizia o meu pai!
E eu, numa idade em que tudo o que os pais diziam era verdade absoluta, acreditava! Num ninho bem alto, no cimo de um pinheiro ao qual subiu, havia várias “Susaninhas”, e, encantado, escolheu-me e acolheu-me!
Mas, nem todos os pais sobem alto e acolhem um filho! E cedo, muitas crianças, seres de plenos direitos, veem comprometido, entre outros, um dos seus direitos fundamentais: o direito à família. Aqui, precisamente neste contexto, desenvolvi, não tudo o que o meu trabalho tem de essencial, mas uma parte essencial do meu trabalho.
A partir desta experiência, ao longo dos anos, ao acolher meninos e meninas, percursos difíceis, histórias complexas, caminhos para definir, acolhi também muitas dúvidas e muitas reflexões, racionais e emotivas sobre o trabalho social e o bem comum. E tornei-me fã, desta gente resiliente, que se reinventa e se supera. Tantas histórias! E nestas, práticas para refletir.
Trabalhar na área social ou em prol do bem-comum, nunca poderá ser trabalhar apenas para as pessoas, mas terá de ser também com as pessoas. Esta é a forma de estar, de fazer, de ser. O outro, seja adulto ou criança, deve ser sempre o protagonista da sua história.
Cabe-nos promover a autonomia, o empoderamento e a capacidade de cada um para, perante obstáculos e constrangimentos, traçarem linhas de ação, definirem os seus objetivos e autorregularem a sua vida. Sem posturas assistencialistas ou visões moralistas sobre o outro, cumpre-nos reconhecer o outro como cidadão, em todas as suas dimensões. Para que, conjuntamente, possamos cortar com ciclos que teimam em instalar-se e proporcionar condições de “escalada” social.
O sucesso no trabalho social e em prol do bem-comum não está numa check-list de direitos e deveres decorrentes da observação de regras e normas. As pessoas que nos chegam não são autómatos programáveis, que nós – técnicos ou instituições – muitas vezes, na nossa imodéstia, “obrigamos” ou propomos a cumprir. Este decorre do rigor técnico, da cooperação entre os diferentes atores sociais, da construção conjunta de percursos e caminhos únicos ajustados às idiossincrasias de cada cidadão. Como alguém um dia disse, trabalhar para e com os outros, não é um trabalho de pronto-a-vestir, mas de alta-costura. É preciso conhecimento, rigor, inteligência, reconhecimento do outro e criatividade para criar a indumentária à medida de cada um, e não ajustar todos e qualquer um à medida da indumentária.
Mais, trabalhar nesta área, representa imenso labor e implica uma grande disponibilidade afetiva e emocional. Hoje, mais que nunca, fala-se de afetos. Esses, sem os quais ninguém vive, consciente ou inconscientemente, mas ninguém. E que pintam os dias, e a realidade de novos conceitos e sentidos. Quantas vezes, o melhor prisma é: Se fosse meu filho? A minha mãe, o meu pai? Como faríamos? De facto, o rigor técnico na área social passa, em larga escala, pela incontornável dimensão afetiva. Aquela que nos humaniza a todos.
Por vezes, dou por mim a olhar os ninhos, nos pinheiros altos, e revisito nomes e olhares, de meninas, de meninos, de mulheres e de homens. Bem dizia Saint-Exupéry: “Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”
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