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ONDE ANDAM OS CONSERVADORES?

Por José João Torrinha

jose joao torrinha

José João Torrinha,

Advogado e Presidente da Assembleia Municipal de GuimarãesPor estes dias, uma corrente política há que está em vias de extinção, dando-se o estranho caso de o fenómeno parecer inquietar mais os respetivos adversários políticos do que aqueles da própria área da dita espécie em perigo.

Explico-me. Tradicionalmente, a distinção entre esquerda e direita era acompanhada de algumas subcategorias que tentavam arrumar o espetro político. À esquerda, os campos dividiam-se entre progressistas e revolucionários. À direita, dominavam os conservadores, sendo os liberais minoritários e o resto franjas feliz e devidamente acantonadas, sem grande expressão.

Toda a vida me habituei a ver os conservadores como adversários a combater, mas por estes dias, em Portugal (menos) mas sobretudo em vários pontos do globo, dá vontade de perguntar onde andam eles.

Abrimos o jornal e lemos que em Itália, um alto dirigente do partido do Sr. Salvini foi apanhado em gravações onde falava abertamente do financiamento russo das campanhas da Lega. Que o governo Húngaro decidiu pôr a pata em cima de mais uma instituição independente daquele país, desta vez os centros de investigação. Que os deputados eleitos pelo partido do Brexit, no Parlamento Europeu, ao ouvirem os primeiros acordes do Hino da Alegria, resolveram voltar-se de costas.

Lemos, relemos e não acreditamos. Porque a direita conservadora que eu conheço e que combati e combato politicamente, seria sempre intoleravelmente contra este tipo de coisas.

Onde anda ela então? Ela que em Itália acharia sempre insuportável um qualquer conluio com o Sr. Putin, reduzida a quase nada. No PPE, essa direita que outrora chutaria o Sr. Órban para fora da sua família sem contemplações e com bilhete só de ida, está agora de joelhos perante a figura, limitada a uns tímidos puxões de orelhas que aquele aguenta (e se calhar até gosta). Essa direita que em Inglaterra anda tão colada ao Sr.

Farage, a quem deu o braço rumo a um Brexit de consequências imprevisíveis.

Numa conhecida canção, Sérgio Godinho interroga-se se “pode alguém ser quem não é?”. Apetece pegar no refrão e dizer que se há coisa que os últimos tempos têm demonstrado é que as pessoas não toleram quem tenta passar-se por aquilo que efetivamente não é.

Nos últimos anos, um pouco por toda a Europa, os partidos à esquerda, sobretudo os socialistas e sociais-democratas, aprenderam a duras penas que se paga um preço muito alto por se tentar ser o que não se é. Os partidos à direita vão (estão?) também a começar a aprender isso mesmo.

Ou bem que conseguem traçar com clareza um cordão sanitário, uma linha vermelha (pode até ser outra cor se o preferirem) que os separe daqueles que, apresentando-se na sua área política, não têm nada a ver com os princípios que sempre defenderam, ou então estarão em sérios apuros.

Se tentarem normalizar o fenómeno, são engolidos. Se o tentarem copiar, ainda o serão mais rapidamente, pois as pessoas preferem sempre a cópia ao original.

É assim na Europa, é assim no Mundo. Quando oiço pessoas como Fernando Henrique Cardoso, ou Lindsay Graham desculpabilizar ou mesmo apoiar figuras como Bolsonaro e Trump, quando olho para o panorama europeu, começo a interrogar-me se a direita conservadora, a tal espécie em vias de extinção, ainda terá salvação. E se terá consciência do abismo para onde está a caminhar.

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