Opinião por Rui Viana: “D. Afonso Henriques tinha que ser bonito? Talvez não…”

Por Rui Viana.

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“Parece a minha Tia já falecida” José Machado in fcebook.

“Tem um ar muito primitivo. E porque não?” Paula Magalhães in facebook.

A Guernica de Picasso é bonita? Tinha que ser? Quem gosta das “carantonhas” de Picasso?

Considero genial a Escultura de D. Afonso Henriques, de Dinis Ribeiro e Abel Cardoso, Escultura sob pedido da Grã Ordem Afonsina e participação da Fundación Rei Afonso Henriques e da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Escultura apresentada em Coimbra, a apresentar em Guimarães de 21 a 24 de Abril no Campo de S. Mamede e a ser implantada em Zamora, Espanha, em 29 de Abril.

Há vários planos para ler e ver a Escultura. Vou centrar-me em três deles, a saber:

1. De um lado o plano social do impacto da obra sobre o imaginário colectivo, a idiossincrasia de um povo, o arquétipo e o que representa uma escultura para uma população que se representa nas suas obras públicas.

2. Outro plano é o do pedido aos artistas e o conceito para o desenho e definição da obra, da estrita responsabilidade dos mesmos.

3. E por último, o plano da estética ou tentativa de entendimento da obra plástica em relação com o valor artístico, condicionado, este, pelos autores.

© Rui Viana

A presente Escultura tem protagonizado uma grande agitação nas redes sociais e na Comunicação Social, crítica negativa generalizada. Sendo natural a exposição à crítica, a grande percentagem, quase a totalidade, manifesta-se muito desagradada com a obra. Coloquei-me cerca de 10 minutos diante da Escultura apenas observando o que ela me dizia… Desse diálogo resulta o meu entendimento sobre a primeira escultura a retratar o Rei Afonso jovem. Note-se que a Escultura é um pedido privado, paga por privados e a ser implantada por e para privados. Daqui decorre a total liberdade dos privados em se exprimirem de acordo com a sua vontade. Surge, então, à crítica, por iniciativa dos artistas e proponentes, por sentido de cidadania, de distinção aos vimaranenses e restante população, para que possa ser vista e elo de ligação entre dois povos amigos e comprometidos com um futuro de cooperação e desenvolvimento. Nesta medida importa situar os citados, atrás, três planos

1. Importa dar nota de (um) papel social da Escultura ao longo da História, que pode apoiar a linha de resposta dos autores da presente Escultura. Assim, é imediato de que o ser humano, desde o início, procurou materializar memórias que, de outra forma, se apagariam em breves gerações, usando o recurso a imagens e a esculturas. A Escultura, ao longo da História serviu, sobretudo, para registar feitos e personagens valorosas, num percurso evolutivo de aperfeiçoamento técnico e estético. Serviu a registar acontecimentos e pessoas. O desenvolvimento da arte escultórica teve um dos seus auges, onde se apurou um hiper-realismo capaz de emocionar o mais simples ser humano, na Grécia de Péricles durante o Período Helenístico e, mais tarde, com o Império Romano. A escultura tinha entre várias funções uma que se destacava fortemente e que era a de transmitir/informar o observador, com sentimento, de um feito, personagem ou personagens. Esse percurso foi longo, atravessou toda a civilização até aos dias de hoje e fez Escola. É imediato a qualquer ser humano à face da Terra o que se espera de uma escultura.

O mundo está revoltado com a presente Escultura por diversos motivos e sobretudo por não representar o verdadeiro, mas a História da Escultura está repleta de figuras míticas, não humanas, unicórnios, ninfas, musas, faunos, anjos, sereias, centauros, minotauros, etc. Em princípio, creio, não representam os verdadeiros, devem ser imaginação de alguém e são História. As populações enraizaram o efeito plástico da forma, técnica e superfície da Escultura Clássica no seu imaginário individual e coletivo e criaram uma estrutura arquetípica. Assim a Escultura de D. Afonso Henriques de Soares dos Reis dá justamente curso a essa estrutura de observação e ligação com a cultura popular, no sentido de responder ao pensamento enraizado natural e extensamente, numa estrutura de status quo. Obviamente, esse caminho levou a um apuramento de técnica e arte de incontornável valor e desenvolvimento da Humanidade.

O desenvolvimento humano e social é dinâmico e evolui constantemente para algum lado… como diz o meu amigo Naim, os seus filhos tiveram um excelente livro no 5º Ano e um grande professor, mas se continuassem até mais cinco anos com o mesmo livro e professor (tão bons) não iriam certamente explorar o melhor do seu potencial. Assim, à imagem da Pintura, logo que apareceu a máquina fotográfica, já não era necessário retratar a realidade porque a máquina o faria com muito melhor realismo, a Escultura tem, modernamente, a impressora 3D a reproduzir a realidade muito melhor do que o mais virtuoso artista. Veja-se a Estátua de D. Afonso Henriques no Estádio com o seu nome. Desta forma, o caminho da Escultura e da Pintura puseram os seus cânones à prova na sua finalidade e objetivo.

E, daqui, partiram para uma nova linguagem, nova gramática e nova forma, escapando à forma clássica e contrariando severamente a estrutura do imaginário coletivo. Conta-se uma pequena história de que um homem desavindo com a mulher a forçou a olhar um quadro de P. Cézanne, numa loja, como forma de a castigar… por ser feia (primórdios do Impressionismo). Esse quadro, hoje, vale milhões. Não havia nada de errado, apenas se trata do curso da História a compor a pauta para o Requiem… e o que não for arte, cairá (não quer dizer que foi inútil, até o vento contrário prepara o atleta para as grandes provas). Este é o caminho natural e a dinâmica da cultura. A Escultura tomou, então, formas elitistas por necessidade obvia, era preciso pensar o novo mundo, foi à procura de uma medula capaz de agregar o pensamento e definir uma nova gramática essencial ao seu desenvolvimento, surgindo então aparentes novas formas de expressão, que não são mais do que a necessidade de pensar e colher o essencial do status quo interno. E é hoje comum passar e ver estrutura lineares, outras luminosas, aquosas, vítricas, instalações, performances, os mais diversos materiais apresentados a público em espaços formais e informais, nova gramática, formas e também funções e objetivos. Pode tratar-se de um mundo de procura matriarcal.

Deu-se um efeito explosivo de procura de uma identidade abalando a estrutura social que, ora chora o clássico, ora repele a mudança, mas anseia o novo velho mundo. E neste contexto, desde início na Escultura Clássica existe subjacente o conceito, a técnica e a execução. Também o conceito tem um lugar e sofre de desenvolvimento. Quando se observa bem uma escultura clássica, percebe-se que o autor pôs na obra uma alma… Essa alma está entre o conceito e a capacidade de o concretizar, a arte e o artista. Há, depois, um momento em que obra e artista seguem os seus caminhos como qualquer ser vivo desligado de sua mãe e seguem naturalmente… Picasso morreu e a Guernica está viva… Chegados à obra de Dinis Ribeiro e Abel Cardoso, no que representa para a sua comunidade de partida, é imediato de que a forma de representação do Rei D. Afonso Henriques se apresenta em contramão com o imaginário coletivo, é feia, não representa a ideia do Rei, a forma é muito pobre, a técnica também, a expressão do rosto é ridícula, o cabelo lãzudo… a espada torta, diminuído, e, no conjunto, uma Tia já falecida… Já se a Escultura respondesse apenas ao propósito funcional de alegrar o status quo, estaríamos na presença de um flop artístico e alguns criminosos… Mas a Escultura tem propósitos que a própria mente humana desconhece e outros que se estruturam numa linha de história e desenvolvimento do pensamento e cultura (individual e coletiva) que carecem de espaço no contexto da modernidade. Um espaço reflexivo e uma tolerância temporal.

© Rui Viana

Quantas obras foram contestadas no seu surgimento a público e hoje são icónicas, assim como outras morreram por motivo da sua incapacidade de penetrar a modernidade. E, ainda, a Escultura tem propósitos para outras leituras, para o acaso e para outros estados de alma. Aqui apelo ao leitor para a observação atenta a um furo/buraco no centro do contrapeso da espada, o pomo, frente ao peito, simbolizando o encontro do tempo com a alma interior de um ser especial com a energia de dar origem a uma nação, a mais antiga da Europa e a quinta do Mundo. O pomo é uma peça da espada que faz o contrapeso da faca face à pega/punho, facilitando o manuseamento da mesma. É um ícone do equilíbrio, aqui penetrado… Esse furo… passagem… túnel do tempo… é uma ligação entre o presente penetrado por nós e o passado… viva a alma de Afonso, agarrada ao lugar interior de uma pedra, tesouro de uma identidade, querer, vontade e força, feitos através de uma espada e do seu contrapeso. Pode ler-se aqui de que o País assenta entre batalhas e pensamento. Não se deve olhar a esta Escultura negando esse buraco magistral na História da Escultura Universal. Os artistas quiseram, com a sua força de visão, apontar ao futuro, revelado pelo passado e presente de uma escultura de um jovem no momento majestático de afirmação e investidura de cavaleiro em Zamora, com 14 anos e no preciso momento que antecede a sua própria auto-investidura, representando a assumpção de um compromisso eterno, gerando uma energia singular na História Universal e uma marca nação que nunca mais deixou de ser Portugal. Como diz Abel Cardoso, entrou menino, saiu homem. Este primeiro acto público de Afonso, deu-se em Zamora em 1125, três anos antes da Batalha de S. Mamede. Esta cidade espanhola celebra todos os anos pelo Pentecostes, com uma Festa popular a investidura do Rei Afonso Henriques. A mesma, consagra uma Fundação bipartida com a Cidade de Bragança, denominada Fundación Rei Afonso Henriques, este, último lugar onde será implantada a Escultura. Será implantada e inaugurada no espaço exterior ao majestoso Equipamento composto de um Edifício/Convento de S. Francisco e uma Extensão Contemporânea para o exercício de atividades respetivas ao conhecimento da vida e obra do Rei Afonso Henriques, de grande porte e dirigido por uma personalidade destacada da Cidade de Zamora, Presidente José Luis Prada. Esta implantação em território espanhol envolve também a questão social de presença e representação da sua população. A Escultura é oferecida à Fundación e Cidade de Zamora, onde os seus custos são inteiramente suportados por mecenas, numa atitude de alto padrão de cidadania, religados ao sentimento de portugalidade, dinheiros privados. Esta uma marca de Portugal num País vizinho, pouco comum no passado e presente.

Ainda, acerca das críticas imediatas, lembro com uma questão de gosto: “Há alguém que goste da Guernica de P. Picasso?” Alguém terá gostado? Alguém se atreve a dizer que aquilo é um Tio falecido, ou o desenho de um sobrinho? Não estará a obra dependente de uma certificação e o Povo à espera? É claro que todas as opiniões são válidas e a Arte serve como mais nada na Sociedade e Cultura para essa aproximação a um gosto individual e ao pensamento livre. No entanto, a Guernica de Picasso representa a História de Espanha, do flagelo da Guerra Civil e é uma das cinco obras mais visitadas do Mundo e valiosas. Quem disser que gosta, está a mentir… A presente Escultura deve ler-se na perspectiva de 100 anos adiante. A Guernica dá para comprar uma quantidade significativa de apartamentos em Guimarães. Veremos quantos apartamentos valerá D. Afonso Henriques em Madrid.

Os autores da presente Escultura, tal como Picasso, deram ao trabalho um sentimento. No entanto, a Arte impõe sempre um olhar individual, completamente autónomo quer do autor, quer de qualquer explicação sobre a obra. E a obra é para ser observada e fruída livremente, onde todas as apreciações são válidas. W. Kandinsky acresce, dizendo que a obra de arte resulta do momento último em que o artista retira pela última vez o pincel da tela. Se retirar um segundo antes ou um depois não é obra-prima. Já quando retira na hora certa, estica uma pequena corda invisível que põe um coração a bater na obra e a torna, naquele momento, independente do autor, passando a existir como um ser vivo saído da mãe e com vida própria. Assim, Picasso morto e a obra viva… Também a escultura do Rei vai fazer a sua Vida, qualquer que ela seja. Se for valorosa, a História vai reconhecê-la e terá, então, honras de obra-prima. No entanto, pode já sê-la, apenas nós não temos a capacidade de o sentir e ver. Querer a obra à nossa imagem é fazer a pedra vir ao nosso encontro, o que, diga-se, é empresa muito difícil. A obra deve esperar a nossa aproximação. Na presente escultura deve promover-se a máxima informação disponível, com apenas o sentido de cidadania, uma Escultura em viagem para Espanha, amizade entre povos transfronteiriços e expensas privadas.

A apresentação pública em Coimbra e Guimarães, da Escultura, tem por objetivo central dar a conhecer aos portugueses a importância de um Rei que foi pomo de discórdia no passado e hoje, o mesmo, é o elo de ligação sublime e original dos dois Países e dos dois povos, logo a partir da região transfronteiriça, conforme Abel Cardoso. Esta obra, ainda, carrega o potencial histórico do jovem que se auto-investe Cavaleiro, naquela Cidade de Zamora, com 14 anos, sendo, aí, o seu aparecimento, enquanto vida pública. Este feito e a Escultura irão obter foro de especial centralidade num novo Projeto da Grã Ordem Afonsina e os seus parceiros estratégicos, designado Via Regis Alphonsi, uma rota afonsina dos lugares e imaginário por onde passou D. Afonso Henriques durante a sua vida, obra e pensamento. A Escultura será um marco muito importante da Via Regis como elemento matricial, acrescentando valor ao percurso e à História. Também a Estátua da Liberdade em Nova Iorque foi oferecida pelos franceses (sem serem beligerantes…). Espera-se e procura-se que a presente obra seja uma obra-prima e faça o seu trabalho e caminho… ela fala, ela tem coração… e tem alma interior, alma sobre pedra… ela pulsa… Estamos todos em viagem… e temos um timoneiro. Quem gosta da Guernica?

2. No plano do conceito (2º plano) a estrutura do pensamento da obra face ao pedido e objectivo, os artistas Dinis Ribeiro e Abel Cardoso tinham um plano a desenvolver para dar curso ao solicitado como Escultura.

Seria uma Escultura de homenagem ao Rei D. Afonso Henriques, a propor à Fundación Rei Afoso Henriques em Zamora, a homenagear o Rei, as datas de 1125 (investidura como cavaleiro) e 1143 (Tratado de Zamora) e celebrando a amizade dos dois povos vizinhos e amigos, ontem divididos pelo conflito e pelo Douro, hoje ligados pela união e pelo Rio. Este acto de visão, dos intervenientes para cooperação presente e futura, numa Região específica europeia, poderá criar uma sinergia de efeitos muito relevantes para o desenvolvimento de toda a Região transfronteiriça e nacional, dos dois Países, enquanto D. Afonso é o elo primus de uma nova corrente de amizade. Ainda, e de grande relevo, a intenção de a Escultura marcar um terreno central no Projecto Via Regis Alphonsi. Com base nesta proposta, participada também pelos artistas Dinis Ribeiro e Abel Cardoso, seguiu-se um período de incubação artística e laboratório mental na elaboração do conceito prévio à condução e elaboração da obra. Destarte, surge, então, uma medula criadora da necessidade de evidenciar certos aspectos da vida, obra e pensamento de D. Afonso Henriques. Assim, sendo a sua investidura em Zamora, com 14 anos, marcando o seu primeiro acto público levou os artistas a definirem, desde logo, a necessidade de se retratar um jovem/menino, vigoroso, convicto do acto e no momento da investidura. Deveria manifestar a assumpção do compromisso de defesa de um legado material e imaterial. Deveria conter referências ao Poder Eclesiástico. Deveria exprimir grandiosidade. E, no centro da atenção deveria estar o sentimento perante o sonho Portugal. Deveria evidenciar o Poder ao tempo.

Apesar das divergências com o Primo, Afonso VII, os primos também estiveram outras vezes de acordo. Os artistas quiseram a Escultura sobre um plinto e quiseram ligar a viagem ou rota Afonsina através dos materiais a utilizar na execução da Escultura e Plinto. Por fim, entenderam que a Escultura deveria ser apresentada em Guimarães e a toda a população portuguesa para melhor integração dos povos irmãos Espanhol e Português. Desta forma, levantar-se-ia um espírito de memória e pensamento de raiz profunda e potenciador do desenvolvimento de laços de amizade entre os dois povos. Concluído o conceito… mão à obra.

3. O plano da estética e do objecto (3º plano).

Convém aqui diferenciar estátua de escultura. A estátua é uma memória materializada de um feito, de uma personagem ou personagens. A escultura é um pensamento ao momento, materializado. Começa aqui o pensamento de Afonso a ser materializado e, ao mesmo tempo, homenageando vida e obra de um ser que marcou a História da Ibéria, de Portugal, da Espanha e do Mundo. Muito mais que o granito, o mármore, o lioz, o betão e o metal, o pensamento que emana da pedra e nos toca as campainhas da alma… ou não! Está tudo na Escultura dada pelos artistas. Sempre os escultores procuraram com a escultura criar emoções ao observador. No entanto, a frieza dos materiais comuns à estatuária e os lugares, tornaram a tarefa bem mais difícil do que uma cena com humanos vivos como, por exemplo, o teatro. Dinis e Abel colocaram este pressuposto em destaque no conceito para a criação da obra. A questão era: como humanizar uma escultura em pedra? Teria que trazer-se à Escultura o Mundo de Afonso e, este, estar reunido num pensamento… no querer, na vontade e na força da determinação. Como trazê-lo a um bloco de pedra? A genialidade de uma obra de arte está em comunicar um pensamento e despertar no observador o seu próprio pensamento reflexivo, emprestando-o ao tempo, ao sorriso e à alma. Do bloco de pedra havia que retirar a pedra sobrante ao conceito. Nela já estava, desde logo, a obra de arte e todas as obras de arte… retirar a pedra certa era mestria do maço e escopo. E a Escultura foi ao ponto que os autores quiseram. Procuraram o pensamento de Afonso e da sua História por entre, sobretudo, granito. À História deixaram perceber tratar-se de um miúdo de 14 anos, no momento anterior a investir-se, ele próprio, cavaleiro, numa atitude solene que reflecte a tomada de um compromisso imenso para com Portugal, que nunca mais deixou de o ser, farta cabeleira negra, rosto vincado e forte, juventude, determinação… Entra para aquela Catedral menino e sai homem… nas palavras de Abel Cardoso. Tem a postura daquele momento, não está como cavaleiro e muito menos como guerreiro. Está prestes a tomar o maior compromisso da sua vida num elevado risco de morte. O corpo da Escultura retrata o momento com as mãos a agarrarem a espada, símbolo da determinação e poder, à época. Essa espada encimada por uma cruz tem quebras na faca provando as dificuldades do percurso, batalhas. A História corre essa espada. Ele próprio vítima de uma lança em Badajoz. Pés bem assentes no chão (plinto), em referência ao sentimento de pertença ao lugar… Portugal, com que assinava os documentos.

© Rui Viana

Assim, a forma da Escultura procura dar nota desse momento conjunto até ao ponto de se tornar visível ao observador este dado de contar a História com memória (estátua)… O corpo com um tratamento quanto baste, quase informal, pois não necessitava de mais definição ou embelezamento porque ele já diz o que o autor pretendeu, até onde pretendeu, para valorizar o conceito principal, esse sim, a carecer de um cuidado e mestria especial, a entrada nesse mundo do pensamento, imaterial, tão caro a cada e lugar onde cabe sublime o melhor de nós, carinho, convicção, coragem e amor. Sim amor… entramos por aí no mundo Afonso… distante no tempo… presente na portugalidade e à espera da nossa resposta individual e grupal, em orgulho, honra e respeito, tudo num furo/buraco no peito, atravessando o pomo, centrando o Poder e o equilíbrio. A Escultura só pode ser observada em presença. Aí, o equilíbrio entre busto e plinto define uma linha limite como uma linha de horizonte do mar e o céu. Preso o olhar a essa linha real, Afonso começa a crescer de baixo para cima até ao furo/buraco/pensamento, lugar do mito por onde respira uma escultura tão densa, em pedra e feia. Resta a postura, inclinação de um futuro Rei e o momento de visão e compromisso para com um lugar. Tinha que ser bonito? Talvez não… a Escultura é uma marca sobre o terreno que pisa e o imaginário, também. Ela destina-se a Zamora e a lançar o pensamento sobre uma personagem, um evento e um património.

Esta Escultura ainda impacta num património de amizade entre dois povos. Uma atitude arrogante, bélica, ou afirmação pelas armas, seria porventura uma enorme deselegância para com Zamora e os Zamoranos (leia-se a generosidade em aceitar na sua Cidade um Rei Português), enquanto a mensagem de alma e coração serve à união de esforços e de dois povos para um futuro comum. O embelezamento da forma, ainda, ia dar nota de uma relação muito estruturada e afirmativa quando a relação está a iniciar-se e se pretende caminhar dos 14 anos até à eternidade. Com catorze anos estamos em construção elementar, já temos postura e elementos de suporte do querer, vontade e arte, no entanto, borbulhas, ainda trato de superfície rugosa, em definição… A Escultura sugere muito mais do que define. Essa é a sua pretensão. É um pensamento. É uma Escultura. Procura a beleza na dialética entre a simplicidade da forma e a força da alma. Não se trata de uma estátua. É um conceito… Saibamos, em grupo, tanto quanto possível, acarinhar aquilo que vamos levar a Zamora, um pensamento, Portugal e o futuro. Lá, um buraco respirará Portugal e a alma ou arquétipo da raça lusitana. Não queiramos uma musa ou ninfa, ou um guerreiro, sobretudo quando temos o protótipo de uma revolução tranquila, uma nova linguagem da Escultura, um golpe de génio, em minha opinião. Chega a poder ver-se, quem quiser, Amor ao fundo… no interior da pedra. E o plinto é também ele um lugar de magia, quase um cubo… mágico, passado sob uma forma estática em que se encerra brilhantemente e não se pode mexer. Um jogo de formas e materiais que se encaixam como o fez a História e as personagens. O plinto fez-se um lugar e um lugar que recebe… Só ele, já é obra de arte e permite que o pensamento e Afonso se eleve a 1,80m, altura média de todos que deixaram de fundar uma Nação brilhante, com nove séculos de existência. Afonso acima de nós, a marcar um caminho e um projecto, assumindo aos catorze anos, em Zamora, um compromisso comigo, primeiro acto da vida pública de D. Afonso Henriques. Dinis Ribeiro, Abel Cardoso, Grã Ordem Afonsina, Fundación Rei Afonso Henriques, Sociedade Histórica da Independência de Portugal, MUITO OBRIGADO.

Sugestão ao leitor, visite se quiser a Escultura de 21 a 24 de Abril no Campo de S. Mamede e atente bem no furo/buraco/pensamento… está lá algo… e após 29 de Abril de 2023, se um dia de Domingo à tarde se sentir perdido no louco mundo da finança, da inveja, da corrupção, vá até junto da Escultura, em Zamora, lá está ao fundo de um buraco um pensamento puro…

E já começou o sonho Portugal…

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