Os cartazes da pandemia
Por António Rocha e Costa.
por António Rocha e Costa Analista clínico
Nunca, como nos tempos que correm, se notou de forma tão vincada, a vacuidade de algumas palavras ditas e de certas frases escritas.
Cavalgando a pandemia, muitos negócios prosperam, enquanto outros se afundam. Cavalgando a pandemia, a propaganda estéril, com ou sem intuitos políticos, vai desfilando imóvel, diante dos nossos olhos móveis, em tudo quanto é fachada de edifício ou rotunda circular, que também as há em formato oval.
No início da pandemia, nos idos de Março, circularam por aí imensos cartazes com a frase “VAI FICAR TUDO BEM”, que é o mesmo que dizer à criancinha que esperneia ante a ameaça da agulha que lhe irá injectar a vacina: “não tenhas medo, que não vai doer nada…”
Entretanto, com o evoluir da situação, foram surgindo outros cartazes, tentando convencer-nos de que a “batalha” ainda não estava ganha. Mais recentemente, mas sempre dentro do mesmo registo, as frases foram mudando, transmitindo recomendações ou procurando convencer o transeunte de que o vírus será facilmente dominado.
Quem sair na primeira portagem da autoestrada A11, com destino a Felgueiras, dá de caras com um outdoor de uma marca de calçado com a seguinte inscrição: “FIQUE EM CASA, POR SI E POR TODOS”. Dá vontade de acrescentar: “Evite romper as solas dos seus sapatos”. Já a Câmara de Guimarães vai mais longe, espalhando outdoors e cartazes por tudo quanto é rotunda, parede ou paragem de autocarro, que proclamam, “urbi et orbi”: “AQUI, AS BATALHAS SÃO PARA VENCER”.
Aparecem nestes espaços publicitários cinco caras de cidadãos vimaranenses, dos quais consigo identificar dois médicos, um profissional do desporto, envergando o emblema do Vitória, uma figura que presumo pertencer ao mundo do espectáculo, exibindo um instrumento musical e ainda uma personagem para mim desconhecida.
Independentemente dos critérios que ditaram a escolha das figuras que preenchem os cartazes e da bondade da mensagem que pretendem transmitir, será lícito perguntar se a batalha sanitária consta do role das que se pretendem vencer, uma vez que o número de infectados no concelho de Guimarães tem aumentado exponencialmente de dia para dia, colocando-nos no top + dos concelhos do norte do país.
Não será certamente com palavras e frases bombásticas que se trava a progressão do vírus, mas sim com medidas concretas e eficazes e essas tardam a ser aplicadas, para mal de todos nós.
Enquanto não forem identificadas e quebradas as cadeias de transmissão responsáveis pela progressão do vírus, estaremos perante o dilema tão bem retratado numa canção brasileira: “Se fico, o bicho me come; se fujo o bicho me pega”.
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