Os esquecidos

Segui, muito atentamente, estes últimos tempos políticos no país e no concelho. Vi debates, li entrevistas e segui os passos dos candidatos (nacionais e locais). Se a nível nacional até se aceita que alguns temas sejam ignorados, a nível local já tenho muita dificuldade em colar os textos bonitos de Facebook que por aí se vêem à realidade do que acontece todos os dias.

© José Diogo Silva

Segui, muito atentamente, estes últimos tempos políticos no país e no concelho. Vi debates, li entrevistas e segui os passos dos candidatos (nacionais e locais). Se a nível nacional até se aceita que alguns temas sejam ignorados, a nível local já tenho muita dificuldade em colar os textos bonitos de Facebook que por aí se vêem à realidade do que acontece todos os dias.

Houve, em meu entender, dois temas essenciais que não foram devidamente discutidos a nível nacional, e essa tendência alastrou ao debate político local. Falo de cultura e do turismo. Tenho muita dificuldade em perceber como pode um país democrático viver sem cultura, e mais dificuldade tenho em perceber como é que se prometem medidas para tantas áreas da sociedade e depois não haja 5 minutos para debater propostas e políticas para a cultura. Começo a achar que é propositado.

Mas falemos do que aqui me trouxe: o turismo. Quer a nível nacional, quer a nível concelhio, o turismo, a restauração e a hotelaria foram áreas olimpicamente esquecidas e apartadas do debate político. Foi, a meu ver, uma falha gritante de todos os partidos políticos.

Como referi na minha pequena introdução, segui atentamente o debate político local: num debate realizado na ASMAV tive a tristeza de ver e escutar com os meus próprios olhos e ouvidos o turismo ser, uma vez mais, colocado de parte.

Custa-me entender tamanha falta de respeito por um sector que no ano de 2022 arrecadou cerca de 150 milhões de euros, em Guimarães, dos poucos setores em claro crescimento no concelho (45,9% face a 2021).
Um sector repleto de microempresas, infelizmente com muitas dificuldades, cada vez mais graves. Os hotéis e os restaurantes da cidade ficaram esquecidos nas fotos de promoção nas redes sociais; as associações de turismo, restauração, hotelaria, comércio e serviços foram esquecidas por parte de todos aqueles que dizem querer representar Guimarães. Como podem querer representar uma cidade se não tiveram o cuidado de colocar nas suas agendas a discussão de um sector fulcral para o desenvolvimento do território?

Vi, inclusive, partidos políticos à porta de empresas, das mais variadas áreas, dizendo-se preocupados com os trabalhadores. Contudo, nem uma palavra sobre a falta de transporte para os trabalhadores do setor da hotelaria e restauração do centro da cidade, nos quais muitas vezes é o próprio empresário a garantir o custo do regresso a casa dos seus trabalhadores.

Vi visitas a fábricas, a monumentos, mas, lamentavelmente, não vi uma visita aos restaurantes que representam Guimarães no Guia Michelin, aos bares e restaurantes do centro histórico, ou uma visita aos hotéis que diariamente se esforçam para tornar o seu sector cada vez mais sustentável e valorizado. Mesmo as salas de espectáculos privadas, que têm feito uma aposta em programação de qualidade e que dinamizam a cidade em dias da semana trazendo pessoas de outros concelhos, foram ostracizadas.

Sim, esses foram os esquecidos da campanha política local. Não podemos ter discursos a apelar à democracia e à participação publica e depois só nos interessarmos pelos temas que mais barulho fazem e que mais onda de discórdias causam.

Este sector não merecia isto, os empresários e os trabalhadores da restauração e da hotelaria não mereciam ficar para trás neste caminho trilhado até às eleições. Esta gente é a primeira cara de Guimarães para o mundo, são eles quem recebem os que cá vivem e os que nos procuram para visitar. São eles, com muito sacrifício em alguns casos, que promovem Guimarães e todo o seu património diariamente.

Podem ter sido os esquecidos, mas não serão certamente os menos importantes.

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