As palmadinhas nas costas aos Capitães de Abril
Por Eliseu Sampaio.
Por Eliseu Sampaio,
Diretor do grupo Mais GuimarãesPor estes dias, celebramos de forma efusiva a Liberdade que abril representa. De cravo no peito, e garganta afinada, cantamos as músicas de sempre e repetimos as palavras novas que a revolução inscreveu no nosso dicionário coletivo.
Abril parece aquele amigo que aparece nas festas para celebrar connosco, beber uns copos, dizer-nos que podemos sempre contar com ele. Dá-nos uma palmadinha nas costas, pergunta-nos se estamos bem e garante-nos que estará sempre lá quando for preciso. Mas não está. Acaba-se a festa e já ninguém sabe onde pára abril.
Abril não pode ser como e quando der mais jeito. Porque, se nos trouxe a Liberdade, incumbiu-nos, na mesma proporção, responsabilidade.
Investidos desta noção de compromisso, estaremos nós a cumprir abril?
Os portugueses, na sua maioria, estão mais pobres, na carteira e na alma. Se, por um lado, têm perdido poder de compra, taxados como nunca, ficando cada mais dependentes da caridade do Estado que vai distribuindo euros e apoios avulso, por outro, vão assimilando essa ideia de que a felicidade se constrói em cima dos sucessos dos futebóis, dos big brother`s e festivais de verão. E siga a romaria!
Na educação, basilar na construção de futuro, desinvestimos, desincentivamos, e tardamos em restruturar um modelo a cair de podre. Ensinamos as nossas crianças e jovens a assimilar e não a construir, e desta forma a acreditar sem duvidar.
É de uma sociedade amorfa que nos revestimos agora, que se resigna perante os atropelos sucessivos, os escândalos, os roubos, as negociatas, os compadrios e outros episódios que nos deveriam envergonhar, mas que de tão repetidos se tornaram banais, e aceites.
E, numa sociedade em que mérito é, cada vez mais, substituído pela cunha, não podemos augurar um futuro melhor.
Que nos doa a alma a pensar nisso, a pensar no abril que recebemos e no que vamos deixar.
Porque vamos morrer, não temos certeza maior, e ficará o nosso legado, que os nossos filhos deveriam lembrar com orgulho.
E que o legado lhes seja mais útil do que o aroma dos cravos.
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