PARECE QUE TEMOS GENTE

ANTÓNIO ROCHA E COSTA Analista clínico

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por ANTÓNIO ROCHA E COSTA
Analista clínico

Na sequência de um contacto de pessoa amiga que tem andado a recolher informação sobre as passagens de Zeca Afonso por Guimarães, constatei que está por escrever grande parte da história dos movimentos e agrupamentos juvenis, que tiveram um papel activo na cidade e no concelho, no final da década de sessenta e inícios da década de setenta do século passado.

Deixando aqui o repto a quem se sinta habilitado e motivado para levar a cabo a árdua tarefa de pesquisar e posteriormente verter para papel o que aconteceu nesse período, cumpre-me destacar, por vir a propósito, algumas das actividades levadas a cabo pela Assembleia de Guimarães “Jovens”. Assim se chamava esta instituição juvenil, pelo facto de estar sediada na Assembleia de Guimarães, que agrupava conhecidas figuras da região, as quais, reconhecendo a necessidade de uma lufada de ar fresco, abriram as portas a uma juventude empenhada e participativa, que ansiava por fazer coisas novas e diferentes.

Vivia-se então a chamada “Primavera Marcelista” e embora a censura e a repressão fossem mais atenuadas relativamente ao consulado de Salazar, notava-se mesmo assim uma vigilância apertada e constante sobre tudo o que fosse iniciativa de jovens.

Lembro-me que tivemos que contornar alguns obstáculos quando o grupo de que eu fazia parte, e que constituía a Assembleia de Guimarães “Jovens”, decidiu organizar uma série de “actividades recreativas e culturais” que pretendiam ser uma pedrada no charco da pasmaceira quotidiana que caracterizava a vida da urbe naquela época. Dessas actividades, relembro a realização no restaurante Jordão – espaço emblemático durante décadas – de um recital de Poesia e Baladas, que contou com a presença de José Carlos Vasconcelos e de Manuel Freire, o conhecido intérprete de “Pedra Filosofal”, no dia 21 de Fevereiro de 1970, ao qual se seguiu, a 18 de Abril do mesmo ano, um outro que teve a participação de Adriano Correia de Oliveira e José Afonso. Além destas, foram muitas as actividades levadas a cabo por esta colectividade juvenil, até à sua extinção, em 1972, motivada pela incómoda irreverência dos seus membros, que ameaçava o “status quo”.

Se excluirmos os anos que se seguiram ao 25 de Abril, não se conhecem na nossa cidade, à semelhança do que acontece no resto do País, manifestações juvenis com impacto social significativo, assistindo-se progressivamente a uma acomodação, ou então a um “acantonamento” dos mais novos, nas juventudes partidárias, muitas vezes motivados pelos arranjinhos e pelas negociatas que vão descredibilizando as agremiações políticas.

Recentemente, as eleições para os corpos sociais do Vitória, trouxeram para a ribalta um grupo de gente jovem, de caras novas, que integraram a lista A. A sua atitude e as ideias expressas no seu programa de acção, traduzidas numa ampla votação, que só não lhes deu a vitória por uma “unha negra”, fazem com que olhemos para eles com alguma atenção. Será que esta atitude e esta vontade de renovar terão seguimento, podendo estender-se a outras áreas, que tão carecidas estão de um abanão ou de um choque de desassossego?

E se este exemplo frutificar e der origem a uma lista independente para a Câmara em futuras eleições autárquicas? Teremos gente para isso? Parece que sim.

 

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