Paulo Peixoto: “O 25 de Abril não deveria ser para ostentar, mas antes, para praticar”

Na sessão solene da Assembleia Municipal de Guimarães, comemorativa dos 50 anos do 25 de abril de 1974, coube a Paulo Peixoto usar da palavra em nome da bancada parlamentar do CDS-PP.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

Leia a intervenção na íntegra:

Celebramos hoje os 50 anos do 25 de Abril de 1974, um verdadeiro marco histórico do século passado.

Tradicionalmente, quando festejamos ou celebramos algo, o que parece igual semanticamente, em bom rigor, tem um sinónimo diferente.
A verdade é que quando celebramos o 25 de Abril, pretendemos solenizar e comemorar um acontecimento digno de grande importância.

Estamos perante um acontecimento que permitiu alterar consideravelmente a vida quotidiana de todos os portugueses, à época para melhor, conferindo-lhe duas características, até então, difíceis de imaginar:
– o direito à Liberdade;
– o direito à Democracia;

A liberdade de opinião, a democracia de pensamento, a igualdade de género e o direito à diferença, são alguns dos marcos identitários que os acontecimentos de 25 de Abril de 1974 nos trouxeram, e que, respeitosamente e de forma regozijada e entusiasmada devemos celebrar e comemorar.

Neste momento, em que comemoramos um acontecimento ocorrido há 50 anos, um passado, pois, que já não é recente, devemos ser chamados a refletir sobre várias considerações:
– Desde logo reconhecer que Abril e os seus valores foram desencadeados para usufruto de todos, independentemente, do seu pensamento político… da sua filiação partidária… do seu género… da sua convicção religiosa… do seu estatuto social…ou de qualquer outro factor discriminatório.
Na verdade, associar Abril e os seus princípios a um determinado setor da sociedade, principalmente, no quadrante partidário, é precisamente, praticar o contrário da sua génese, castrando-o, da sua principal missão que foi, desde a primeira hora, a luta pela concretização de três factores determinantes (os denominados 3 D’):
– Democracia;
– Descolonização;
– e Desenvolvimento;
Os grandes objetivos da revolução.

– É bom que se compreenda que o 25 de Abril não tem dono nem proprietário;
– E ainda, permitam-me a expressão, que o 25 de Abril não deveria ser para ostentar, mas antes, para praticar.

Também dizer que, nada disto teria sido possível sem o 25 de Novembro, sem o qual viveríamos, ou teríamos vivido, em ditadura de sentido contrário, e cujos 50 anos comemoraremos também, a seu tempo, por iniciativa do Governo PSD/CDS.

E eis que chegamos ao segundo aspeto da minha reflexão:
Não obstante Portugal ser um dos países mais envelhecidos da União Europeia, a verdade é que a estatística nos diz que, a maioria da população portuguesa nasceu após 1974, e que, portanto, em teoria, terá dificuldades acrescidas em perceber quais foram os verdadeiros valores de Abril e, mais do que isso, em que é que esses valores vieram melhorar a nossa forma de estar e de viver.
Em bom rigor, a verdade é que não sentiram verdadeiramente essa necessidade.

E pior do que não sentirem essa necessidade, é o facto de entenderem que tudo isto foram valores adquiridos, sobres os quais, entendem ter todos os direitos de fazerem o que querem e bem entendem.

Minhas Senhoras e Senhores: A Liberdade de quem quer que seja, tem que terminar quando a mesma coloca em causa a liberdade do parceiro que o rodeia.

Peço-vos, por favor, que me acompanhem na seguinte reflexão:
Faz amanhã precisamente 7 meses que o Sr. Ministro do Ambiente à época em funções, Duarte Cordeiro, foi atingido com tinta verde na abertura de uma conferência sobre ação climática.

Mais recentemente, na altura candidato a Primeiro Ministro, Luís Montenegro foi atingido com tinta verde na apresentação de uma ação de campanha.
A 10 de Março, dia de eleições legislativas em Portugal, houve sedes de campanha de partidos políticos que foram vandalizadas.

Esta semana mesmo, e, portanto, bem presente na memória de todos os portugueses, 11 indivíduos foram a julgamento por comportamento incorreto no seio das normas constitucionais em que nos devemos regular num estado de direito como é aquele que Portugal alcançou, precisamente, com as conquistas do 25 de Abril de 1974.
A verdade é que as suas ações protestativas, colocaram em causa a segurança de uns tantos outros cidadãos, homens e mulheres, novos e seniores, de ideologia partidária de esquerda e de direita, de religiões diversas, etc., etc., etc.,
Destes 11 indivíduos, apenas 1 tem mais de 50 anos.

E quem acompanhou este início de julgamento através da comunicação social, certamente reparou que os arguidos, se apresentaram de cravo vermelho ao peito a reclamar os valores de Abril para justificarem as suas faltas de educação e de civismo.

Sabendo todos nós que o cravo vermelho é um símbolo do 25 de Abril de 1974, a reflexão que vos peço é a seguinte: São estes os valores de Abril?
Seguramente que não, e não me acredito que são aqueles com os quais nos identificamos.

Abril, consagrou-nos o direito ao protesto, o direito à greve, entre outros tantos, mas, nunca consagrou o direito à anarquia, ao mau comportamento e ao mau estar do outro.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães 

Pelo que, aqui chegado, remeto-vos para a terceira nota refletiva desta minha simples partilha. A nossa sociedade atual não soube melhorar os valores de Abril, tão pouco, incuti-los nas gerações mais novas. Mas pior do que isso, é que tenho sérias dúvidas de que tenha sabido preservá-los e consolidá-los.
Atrever-me-ia a dizer que, Abril, ao celebrar os seus 50 anos, infelizmente, sofre do síndrome da meia idade!

Bem sei que a maioria não gosta que se associe uma data a outra, principalmente, porque é o CDS a fazê-lo, mas a verdade é que, sem 25 de Novembro, esta crise de meia idade do 25 de Abril que atrás referi, poder-se-ia ter transformado numa birra dum bebé mal comportado.

E se dúvidas existissem quanto a esta análise, julgo que as mesmas ficaram absolutamente esclarecidas com a propriedade que lhe é reconhecida na recente entrevista do Ex Presidente da República, o General Ramalho Eanes, absolutamente apartidário nesta matéria.

A mensagem final que pretendo transmitir, consubstancia-se no seguinte:
Enquanto pensarmos que o 25 de Abril foi a chegada e, não concluirmos que, apenas se tratou duma etapa, seguramente que não estaremos a contribuir para uma sustentabilidade e proliferação dos valores de Abril, consubstanciados naquele já distante dia de Novembro.

Não esqueçamos que Abril contribuiu para a Liberdade, mas, não foi por Usocapião, e portanto, se não tivermos arte e engenho para estimular, praticar e ensinar estes valores, mais perto estaremos do status quo de 24 do que, daquele que todos pretendemos, que é o do dia 26.

Sr. Presidente, Minhas Senhores e Meus Senhores,
Termino com uma reflexão final e apenas como exemplo:
Esta Assembleia está composta oficialmente por 7 forças partidárias;
Mas a assistência desta Assembleia comemorativa, seguramente que estará composta por ainda mais forças partidárias;

Qual é que é o problema?
Guimarães é uma cidade bairrista, mas há gentes de outras localidades e, nós sempre as soubemos receber!
Por isso, deixemo-nos de teorias e, da esquerda à direita, em vez de publicitar, pratiquemos Abril.
No CDS estamos disponíveis e queremos contribuir para a consolidação e proliferação desses valores.

Viva o 25 de Abril!!!
Viva a Democracia!!!
Viva Guimarães!!!
Viva Sempre Portugal!!!

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