PENHA À VISTA

MARIA DO CÉU MARTINS Economista

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por MARIA DO CÉU MARTINS
Economista

Quando se é, quando se cresce ou quando se habita em Guimarães o regresso a casa faz-se pela alegria de vislumbrar o santuário da Penha – a visão da montanha correspondeu, sempre, à gratificante sensação do retorno ao colo da mãe.

E em muitos outros momentos, quando o calor aperta ou quando os planos de ficar em casa limitam o horizonte – a montanha é sempre aquele refúgio de eleição que nos salva da compressão da cidade. E, com ou sem culturas otocnes, a verdade é que a Penha é o principal pulmão verde do Concelho.

Mérito, fundamentalmente, de uma realidade que, direta ou indiretamente, ao longo dos anos, se permitiu criar uma zona tampão onde a construção não entra e onde cada centímetro do terreno é tratado cuidadosamente.

Mas se a montanha é generosa e nos oferece, historicamente, um conjunto de valências não é menos verdade que a reciprocidade deste contrato deixa muito a desejar. Do ponto de vista do investimento público e/ou do seu reposicionamento estratégico pouco ou nada se alterou nos últimos 40 anos, e é pena!

Quando Joaquim Cosme sonhou a construção do teleférico estaria, necessariamente, a pensar nisso – um investimento que se tornasse catalisador da dinâmica da envolvente. Mas a verdade é que nada disso aconteceu. A Penha continua verde, limpinha, agradável mas arredada das dinâmicas que florescem, em baixo, na cidade. Os Restaurantes foram remodelados, alguns mudaram de gerência – mas tudo se faz numa letargia assustadora.

Pior, numa época em que o “verde” se tornou moda fazia todo o sentido colocar a montanha no centro do plano estratégico de desenvolvimento do Concelho! Numa altura em que as pessoas, em geral, valorizam o contacto com a natureza, as caminhadas ao ar livre e a cultura da preservação, a lógica da montanha só poderia ser a da sua inclusão no circuito do progresso.

E então, porque será que tal não acontece? Porque a Penha tem uma gestão privada? Porque a Irmandade da Penha cumpriu, ao longo dos anos, a nobre missão de manter a Penha com a dignidade que se lhe reconhece. Porque as esmolas do santuário são suficientes para ir mantendo a casa asseada? Ou porque o poder político vive de costas voltadas para a gestão daquele feudo?

Com uma dimensão incomparável e com um percurso muitíssimo mais acidentado, em Arouca as montanhas ganharam os desafios do progresso com a construção dos “ Passadiços do Paiva” e catapultaram prémios, adesão, e um desenvolvimento turístico único.

Em Guimarães, temos um teleférico que nos leva mas que pode já não  regressar, um parque de campismo ( único na cidade) que não está aberto na maior parte do ano, uma oferta hoteleira miserável e nenhuma iniciativa cultural digna desse nome.

Aos turistas não, coitados! Mas aos cidadãos do Concelho sugiro um exercício simpático – subir de teleférico a montanha e descer, a pé, até à Cidade ! Se não se perderem têm direito a recompensa!!

Durante a Capital da cultura até se tentou um festival… e porque não mantê-lo em cartaz anual? Quantas terrinhas por esse Portugal a fora têm festivais que se cumprem com muito menos condições? Mas parece que, mais uma vez, a Irmandade manterá a sua função apostólica e reserva, por conta própria, uma agenda de espetáculos …de costas voltadas!

 

 

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