PENSE IRONICAMENTE…ANTES DE ADOPTAR UM ANIMAL!

ANA VIDAL PINHEIRO Médica veterinária

MASCARA

por ANA VIDAL PINHEIRO

médica veterinária 

Felizmente para os seus filhos, infelizmente para o cão, chegará o dia da tão esperada e desesperada adopção. Pais cansados da rotina e sem tempo para eles próprios acabarão por cederem aos constantes pedidos dos seus filhos e tomarão a pior decisão das suas vidas  (ou da vida do animal). Mas nem tudo é mau, chegarão os seus primeiros minutos de alívio, as crianças ficarão entretidas por breves momentos com a nova aquisição familiar. Tudo isto por umas pequenas horas de descanso porque o pior estará, com certeza, por vir.

Um cão com poucos meses de idade pode tornar-se uma carga de trabalhos, bastante difícil de controlar. Tudo isto porque ainda não inventaram uma fórmula mágica de os educar num curto espaço de tempo. Roem tudo o que apanham e apanham por tudo o que roem. Nessa altura doer-lhe-á mais a mão que o lombo do animal. É certo que será boa ideia optar pelo uso do jornal. Vão sapatos, roupa, móveis, objectos estranhos que, se tudo correr bem, lhe obstruirão o intestino e será necessária uma intervenção cirúrgica de abdómen aberto para os retirar. Nesse preciso momento só lhe virá ao pensamento que o cão “dá mais trabalho do que vale”, embora neste contexto não faça muito sentido porque o animal foi adoptado, não pagou nada por ele. A não ser claro, que se refira ao seu valor sentimental. Se nessa altura ainda não for capaz de sentir o seu amor incondicional, ai sim, é aconselhável nem passar no veterinário no final da cirurgia. Com sorte poderá aparecer alguém que o adopte e, obviamente, que pague a conta.

Mas tenha consciência das coisas mais prazerosas desta “dor de cabeça”, os dejectos com parasitas, a urina ácida que corrói o chão, e, caso lhe saia o pacote completo, os vómitos esporádicos. Talvez, mesmo com o seu azar, até o colchão não se livre da marca territorial. Certamente que poderá contar com este cenário durante uns dois meses, na melhor das hipóteses. Caso se preveja o pior, e que por vezes acontece, talvez tenha mesmo de procurar aconselhamento com um especialista mas para si e para a sua família.

Caso seja verão até que não é mau de todo, sabe bem uns passeios nocturnos pelo parque e quem sabe até perder uns quilinhos. Se for inverno está o “caldo entornado”, até porque nestas alturas ninguém está preocupado em perder peso e muito menos contrair uma gripe. Apanhar frio, chuva e vento até que o cão se lembre de fazer as suas necessidades. Terá a sensação que brinca consigo, passará quinze minutos a cheirar o meio ambiente e outros tantos a decidir onde fazer, sabe-se lá o quê.

Se são assim tão espertos, não se entende porque insistem em fazer tudo ao contrário do que se ensina. Sim caro leitor, tenha calma, não se responsabilize porque será certamente um excelente educador, paciente, dedicado e acima de tudo, muito sensato. Que culpa tem que o cão tenha saído com um Q.I. abaixo do esperado? Só por isso já seria uma boa razão para o devolver, ou quem sabe, abandonar. Porque não? Ao fim de contas vai tudo dar ao mesmo, se não conseguiram educá-lo a tempo útil mais ninguém o conseguirá fazer. Até porque, visto bem as coisas, é o leitor quem decide o tempo que o animal necessitará para adquirir um comportamento exemplar. Caso este tempo generosamente cedido por si não seja respeitado, ora muito bem, terá de ir à vidinha dele.

Mas calma, chegará a hora das vacinas e dessas tretas todas. Irá sempre com a intenção de gastar dez euros mas pode-se ir preparando que logo, logo, lembrar-se-ão de descobrir uma doença rara que exige exames e mais exames com internamento incluído. É como nos hospitais, chega com a possibilidade de uma doença, sai com dez diagnosticadas e ainda paga por isso. Desta forma será melhor nem passar por perto. Evite a todo custo contactar com os especialistas da área, com os médicos veterinários que olharão pela saúde do seu cão mas com o objectivo de salvaguardar a sua saúde e a dos seus filhos. Mas isso são questões mais complicadas, de saúde pública, questões que ninguém quer saber.

E com o passar do tempo chegará o mês de agosto, as tão esperadas e merecidas férias de descanso. Colocá-lo num hotel seria impensável, a sua estadia sairia bem mais barata que a do seu cão. Deixá-lo nos vizinhos seria uma boa ideia, mas acontece que, infelizmente, férias no mês de agosto não lhe calham só a si.  Mas não se preocupe, não perca o seu precioso tempo à procura de uma solução. A meu ver, depois de ler as tremendas desvantagens que um animal pode acarretar a várias famílias, incluindo a sua, apenas existirá uma solução, bastante óbvia até, que passará por não adquirir nenhum animal sem antes ponderar os pontos acima referidos.

Apelo à sua consciência enquanto ser humano responsável e que, acima de tudo, compreenda que adquirir um animal tem certamente pontos negativos que devemos estar preparados para os ultrapassar. Espero que, de uma forma original e irónica, a minha mensagem enquanto médica veterinária seja compreendida. Que leve à ponderação de muitas adopções e que estas, quando feitas, sejam de um modo responsável.

Na verdade, penso que seria um fardo para todos nós recebermos todos os dias, sem excepção, alegria na chegada, espera na partida e um amor incondicional capaz de tornar o nosso pior dia num momento de paz. Pense nisso!

 

 

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