O novo projeto de comunidade da Casa da Memória de Guimarães, “Remoinho”, assenta na ideia de juntar as pessoas em torno das questões do património imaterial e material dos moinhos e dos processos de moagem dos cereais.

Liliana Duarte, no seguimento do trabalho que desenvolveu para a Casa da Memória, do qual resultou o livro “Paladário”, aprofunda agora a sua investigação sobre o cultivo e a colheita do trigo, do centeio e de outros cereais mais antigos usados para o fabrico do pão do Minho. O lançamento deste projeto está marcado para o dia 22 de março, às 19h00.

Dia 22 de março não é um dia qualquer – celebra-se o dia em que uma das mais importantes investigadoras do pão em Portugal faleceu -. Mouette Barboff, de origem francesa, doutorada em Antropologia, descobre, em 1984, o pão caseiro no Alentejo e na Serra da Estrela e daí inicia uma viagem por Portugal na busca de memórias do mais vital produto – o pão.

Fruto do seu interesse e investigação, publicou os livros “O Pão em Portugal” (2008), “A Tradição do Pão em Portugal” (2011), “O Pão das Mulheres” (2016) e “Reminiscências Cripto-Judaicas nas Alheiras Transmontanas” (2018), entre outros. Nos seus estudos sobre o pão, Barboff pretendia estudar etnograficamente não apenas o fabrico do pão, mas todo o ciclo que envolve o pão desde o seu cultivo, à confeção e ao seu consumo. Mouette Barboff esteve na Casa da Memória, há quatro anos, numa série de entrevistas realizadas a vários investigadores de produtos locais da nossa herança alimentar.

Neste dia 22, celebra-se, assim, com Liliana Duarte ao leme, a vida que há no pão, naquele que é o lançamento na Casa da Memória de um projeto que vai além do sabor: vai pela ruralidade adentro à procura do som das águas nos moinhos que ainda preenchem a nossa paisagem. “Remoinho” é um projeto-viagem de 12 meses, em volta dos saberes tradicionais e recriações artísticas sobre este girar da pá, sobre este reencontro entre o que temos hoje e o que o rio levou. Encontrar, intimamente, cada gesto, pessoa e produto, e com eles homenagear não apenas o pão e o moinho, mas todo o ciclo da vida que neles se encontram em três fases – tempo de observar, tempo de escutar e tempo de sentir. Neste dia, o convite é para celebrar com pão, azeite e vinho o ciclo da vida – que tanto em comum tem com o do pão.