Prosseguindo

Por Ana Amélia Guimarães.

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por Ana Amélia Guimarães Professora

Se o caminho é a desindustrialização, cortes nos apoios à agricultura familiar, encerramento de escolas, maternidades e extensões de saúde, postos da GNR, estações e postos dos CTT, eliminação de freguesias e o consequente afastamento entre os órgãos eleitos e a população, manutenção das portagens, redução e eliminação de carreiras rodoviárias, falta de investimento na ferrovia, de que servem as lágrimas de crocodilo e os lamentos hipócritas pela desertificação? Perguntava Paulo Raimundo nas jornadas parlamentares do PCP, realizadas na Covilhã no pretérito dia 19 de Junho.

De discursos de pompa para circunstâncias diversas é o que por cá mais se gasta. Seja para inaugurar uma rotunda ou homenagear um civil, saem da boca de políticos – vindos de Lisboa e de cá, sobretudo – longos parágrafos cheios de piscadelas à história da carochinha e à emoção baratucha. Porque se «falaja» tanto e tão pouco se vê?

24 de junho, feriado municipal, devia estar a falar da minha cidade e do meu concelho, sem dúvida, mas Guimarães que viu Portugal nascer, não pode aceitar que se diga que o interior do país está condenado à desertificação e ao abandono ou calar a mágoa de ver «aquelas terras» abandonadas e a resistência de quem as ama e teima em ficar, até porque quem de lá parte não o faz por vontade ou gosto.

Não adianta revirar os olhos com o hino nacional quando, ao mesmo tempo, deixamos que políticas concretas retirem liberdade e soberania ao povo e ao país. As necessidades são muitas e os desafios também, mas… que se defendam e reforcem os serviços públicos, ao invés de se desinvestir e privatizar; que se invista de facto no Serviço Nacional de Saúde, em vez de se continuar a transferir dinheiros públicos para o negócio da doença; que se invista de facto na Educação e na Escola Pública, que se respeitem e valorizem os seus profissionais; que se passem das palavras aos atos e se invista de facto na Ciência e na Investigação, pondo termo de uma vez por todas à precariedade que grassa entre milhares de investigadores; que se invista na agricultura e nos agricultores, não no grande agronegócio (a política prosseguida pelo Governo está na origem da redução dos rendimentos dos agricultores em 11,2% em 2022 e no agravamento do défice da balança agroalimentar em 50%); que se criem, de uma vez por todas, as Regiões Administrativas, respeitando o princípio da descentralização administrativa; que se avance, de uma vez por todas, com a Regionalização, em vez de se transferirem para as autarquias locais encargos em áreas de competências que cabe ao Estado assegurar; que se dê ao Poder Local os meios de que necessita e que a Constituição consagra para que seja mais capaz de intervir para a resolução dos problemas das populações.

Nota: não sentem, caros leitores/as que Guimarães tem andado a «marcar-passo» e a ficar cada vez mais «interior»?

Acrescentemos ainda:

Em 2022 cerca de 70% do emprego criado foi com vínculos precários. Em Portugal os trabalhadores trabalham, em média, 41 horas semanais. Sendo que mais de 350 mil trabalhadores trabalham habitualmente 49 horas ou mais por semana no seu emprego principal, são 7,3% do total dos trabalhadores, acima da média da UE de 3,9%. Um milhão e 800 mil trabalhadores, 44% dos trabalhadores, trabalham por turnos, à noite, sábados, domingos e feriados, com o que daí resulta de dificuldades acrescidas à organização da vida privada e à conciliação entre a vida profissional e familiar. Três milhões de trabalhadores, 70% do total, ganham menos de mil euros brutos por mês, e 2 milhões de pessoas estão na pobreza, dos quais mais de 300 mil são crianças. Isto, enquanto os principais grupos económicos em Portugal tiveram, em 2022, 20 milhões de euros de lucro por dia e os 5% mais ricos concentram 42% de toda a riqueza criada no País.

Não é fado, são opções políticas que se fazem.

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