QUE CAMINHO SEGUIR PARA REDUZIR A VIOLÊNCIA NO DESPORTO?
Habilitar as escolas e professores, assim como trazer a educação para o debate político podem ser medidas a tomar para combater a violência no desporto.
Na sequência dos atos do passado sábado, também a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e instaurou um processo disciplinar ao Vitória e ao Benfica. Habilitar as escolas e professores, assim como trazer a educação para o debate político podem ser medidas a tomar para combater a violência no desporto.
Corria o minuto 25 do jogo entre Vitória e Benfica quando o árbitro Nuno Almeida interrompe o jogo pela primeira vez. Na sequência dos objetos pirotécnicos e das cadeiras arremessadas para o relvado o jogo esteve interrompido três minutos. Não foi caso único: a partida viria a parar mais vezes depois dos adeptos “encarnados” arremessarem tochas para o relvado e cadeiras em direção aos adeptos da casa. Os relatos de violência ligada ao fenómeno desportivo, mais concretamente ao futebol, são recorrentes, mas no rescaldo dos jogos do último fim de semana – nomeadamente o Sporting – FC Porto e o Vitória-Benfica -, o assunto voltou a ser discutido no espaço público. O secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, foi pronto a reagir e garantiu que os casos “vão originar processos”. “É de lamentar que continuem a existir atos de violência no desporto. O verdadeiro amante do desporto não compreende”, prosseguiu.
As declarações surgem no encalce da promulgação, por parte de Marcelo Rebelo de Sousa, de um regime jurídico contra a violência no desporto. A nova legislação, que altera a lei de 2009, prevê um agravamento das sanções e medidas concretas de identificação de adeptos. O diploma foi aprovado “apesar de dúvidas sobre a praticabilidade e a eficácia de algumas soluções adotadas”.
Nas declarações após os incidentes, João Paulo Rebelo lembrou que que foi criada a Autoridade para Prevenção e o Combate à Violência no Desporto, “que não precisa de qualquer auto da polícia para atuar”. “É evidente que estes atos vão ter consequências. Por vezes passa-se uma ideia de impunidade, mas quero garantir que vão ser punidos”, disse.
O desporto como veículo de tensão social
Na sequência dos atos do passado sábado, também a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) se manifestou e o Conselho de Disciplina da FPF instaurou um processo disciplinar ao Vitória e ao Benfica. Mas estes episódios são recorrentes e não escolhem latitudes – de norte a sul, saltando para outros continentes, a violência associa-se ao desporto regularmente (ver texto ao lado). Esta regularidade na ocorrência leva a uma questão: qual a melhor forma de combater este fenómeno? No entender do professor e investigador do Instituto Politécnico de Setúbal Paulo Alexandre Nunes, a questão da violência e a criação de medidas penalizadoras é “uma questão na ordem do dia, mas que revela muita profundidade”.
Para o professor, que leciona Sociologia do Desporto, o desporto acaba por ser um veículo da violência. “Violência é violência e o desporto, sendo um fenómeno social integra o comportamento humano, manifesta-a. Não é menos verdade que o desporto acabe por servir como palco e veicular um comportamento e tensões adquiridas socialmente. Manifesta o que temos de melhor, mas também o que de menos bom há”, afirma o doutorado em Motricidade Humana, na especialidade de Sociologia e Gestão do Desporto.
Voltar à base: a educação como melhor medida
No entender do professor, a bandeira da educação deve ser mais vezes mencionada no espaço público quando a violência no desporto é discutida: “Não podemos descontextualizar a violência de um contexto social. A violência existe e com a racionalidade e com a educação podemos refrear e condicioná-la e até aboli-la.” No fundo, o desporto é um fenómeno social de larga escala e de mobilidade das massas, que “potencia a saúde, bem-estar e qualidade de vida, mas também (em algumas instâncias) a desordem.”
No início do ano de 2019, o superintendente da Polícia de Segurança Pública (PSP) Magina da Silva afirmava que a “solução não pode ser ter um polícia em cada jogo”. “Esse não pode ser o caminho. O desporto tem de ser incentivador de fair-play e a solução não pode ser colocar mais polícias”, afirmava.
Apesar de não ver a educação plasmada no discurso político, o professor destaca o papel do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e, ressalva que está a analisar a problemática através da lente das Ciências do Desporto, que agrupa um conjunto de ciência, entre elas o Biomecânica, Sociologia, Psicologia que permitem esclarecer um fenómeno social: o desporto. Não será, na perspetiva do docente, “através da figura polícia que se resolverá o problema.” Habilitar as escolas e os professores e potenciar os recursos ao nível da educação física são algumas das medidas lançadas pelo professor. Paulo Alexandre Nunes reitera a importância da disciplina de Educação Física e defende que, desde cedo, se deve dar espaço a esta matéira, já que é uma atividade “facilitadora do ponto de vista da saúde e do bem estar”.
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