Recordar… o Vitória #100

Por Vasco André Rodrigues.

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Por Vasco André Rodrigues, Advogado e fundador do projeto ‘Economia do Golo’Terá sido um dos melhores e mais talentosos esquerdinos que passaram pelo Vitória na década de 80.

Dotado de uma resistência acima da média, que o fazia percorrer a ala esquerda de modo inesgotável e incessante, aliado a uma técnica capaz de o levar a realizar os cruzamentos mais venenosos, Roldão, ainda, hoje é daqueles atletas que é recordado com saudade em Guimarães. Aliás, a isso não será estranho o facto de ter vivido duas temporadas absolutamente inesquecíveis de Rei ao peito, sob as ordens de António Morais e de Marinho Peres.

Porém, o início da aventura do talentoso brasileiro com a camisola vitoriana começaria a meio da temporada anterior, com o lendário Raymond Goethals a treinador. Roldão chegaria a meio dessa época de 84/85 para fortalecer uma equipa jovem, baseada nos meninos imberbes que, na temporada anterior, haviam goleado o Benfica por quatro bolas a uma, mas que tardavam em encontrar-se. Por isso, a meio da temporada, conjuntamente com o avançado brasileiro César resgatado ao Farense, chegaria o herói destas linhas, proveniente do modesto Taguatinga, depois de ter passado algumas temporadas no Guarani.

O esquerdino imediatamente se imporia de branco vestido, atendendo às qualidades demonstradas. Por essa razão, estrear-se-ia na viragem do ano de 1984 para 85, a 30 de Dezembro, com um êxito sobre o Penafiel. Nesse dia, tendo começado o jogo a suplente, entraria, ainda, antes dos 30 minutos, para o lugar de outra figura lendária vitoriana, Gregório Freixo, para festejar o golo de Paulo Ricardo, que daria o triunfo à equipa.

O Vitória melhoraria e a isso não seria alheia a contribuição do jogador brasileiro que até ao final da temporada ainda apontaria quatro golos, sendo o primeiro deles num triunfo frente ao Vizela, em desafio a contar para a Taça de Portugal.

O ano seguinte seria o primeiro de dois anos mágicos. Com papel determinante para essa realidade estaria a chegada de um brasileiro goleador, proveniente do FC Porto, e que rumava a Guimarães por troca com um guarda-redes júnior, chamado Best. Falamos de Paulinho Cascavel, um homem que seria um dos principais beneficiados dos cruzamentos teleguiados de Roldão.

O Vitória, por essas alturas, batia o pé a qualquer adversário. Era uma equipa ofensivamente ousada, preparada para atacar desde os primeiros minutos.

Para isso, além do aríete brasileiro que deixou a todos aturdido com a sua voracidade goleadora, destacavam-se José Alberto Costa, também proveniente dos Dragões, e Roldão que explodiu com estrondo altissonante no futebol português.

Faria época de nível superlativo. Correria quilómetros atrás de quilómetros naquela faixa esquerda. Alvejaria a baliza de modo violento inúmeras vezes. Atormentaria laterais incautos em todos os jogos. Assistiria Cascavel em muitos dos seus golos. E.. ainda arranjaria tempo para fazer o esférico beijar as redes adversárias por oito vezes, com destaque para o golo que ajudou a derrotar o Benfica ainda na fase inicial do campeonato! O Vitória sonhava alto e só veria os sonhos derrotados por factores extrínsecos ao jogo, como naquela tarde chuvosa na Luz, em que um árbitro, de nome José Guedes, tornou inúteis os esforços dos Conquistadores!

Contudo, no final da época o quarto posto final seria sinónimo de regresso às competições europeias, onde Roldão teria papel determinante, merecendo rasgados elogios pelas suas exibições.

Sob o comando do brasileiro Marinho Peres, o jogador faria um triângulo mágico com, o já anterior parceiro, Paulinho Cascavel e com o recém-chegado Ademir Alcântara. Seria inesquecível, do melhor que já se viu no estádio do Rei! Avassalador! Digno de ser escrito por um poeta!

Para além disso, na Europa, como diz a canção “o Vitória seria equipa de respeito!” Deixaria prostrados no chão colossos como o Sparta de Praga, o Atletico de Madrid e os holandeses do Groningen, que apesar de não terem o nível das anteriores equipas, estavam nos oitavos de final da segunda prova europeia. O brasileiro, que nessa temporada, marcaria três golos reservaria dois para esta prova. Um em Praga, na primeira mão da primeira eliminatória, a cancelar o tento de Skuhravy num dia em que o Vitória foi massacrado por uma das melhores equipas do futebol europeu da altura, mas sobreviveria para a eliminar perante 40000 almas em Guimarães, e outro na primeira mão da segunda eliminatória frente à turma colchonera.

O Vitória era o parceiro improvável na mesa dos grandes clubes…fosse em Portugal, fosse na Europa! Ao instinto goleador de Cascavel, à classe indolente e quase provocante de Ademir, juntava-se a um brasileiro que poderia fazer reclame à Duracell…sim, o coelhinho poderia ter Roldão dentro tal o modo incansável com que percorria a ala esquerda!

Seria, por isso, o artífice de uma época que todos relembram, ainda que no final tenha sabido a pouco, fruto da neve que destroçou os sonhos europeus em Moenchengladbach, quando em Guimarães se sonhava com uma vitória numa prova do Velho Continente, e da exiguidade do plantel que impediu uma luta ainda mais feroz pelo ceptro nacional. Porém, para o terceiro posto final e para os quartos de final da Taça UEFA muito contribuiu o brasileiro, que haveria de partir na época seguinte rumo ao Nacional da Madeira, deixando saudades e um vazio difícil de preencher.

Porém, seria por pouco tempo. Depois de uma temporada longe de Guimarães, num clube onde jogou menos do que teria esperado, regressaria ao Vitória para actuar mais duas temporadas.

A temporada de 1988/89 seria a do primeiro troféu nacional do Vitória, na Supertaça Cândido de Oliveira. Roldão seria pedra basilar desse êxito ao actuar nesses dois desafios. Aliás, o jogador seria indispensável durante toda a temporada, ao realizar 37 desafios, sendo praticamente inamovível do onze. Marcaria, apenas, um golo, de canto directo, na eliminatória europeia da Taça das Taças, onde os branquinhos seriam eliminados pelo Roda Kerkrade.

Seria uma época salva por aquele troféu que todos gostamos de lembrar!

A época de 1989/90 seria a última do jogador de branco. Sob o comando de Paulo Autuori voltaria a ser instrumental numa temporada que ficou marcada pela eliminação caseira nas meias-finais da Taça de Portugal, frente ao Estrela da Amadora…graças a um tal de Basaúla, jogador cedido pelo Vitória.

Porém, antes disso, o Vitória viveria períodos de êxtase, estando por 17 desafios invicto, o correspondente a mais de uma volta do campeonato, pois depois da derrota na primeira jornada do campeonato em Alvalade, só seria desfeiteado à segunda da segunda volta na Luz.

Roldão, esse, seria, mais uma vez, pedra chave. Indiscutível! Marcaria por três vezes, sendo a última delas, nos quartos de final da Taça de Portugal, frente ao Maia, numa exibição bisonha dos Conquistadores, que haveriam de vencer por duas bolas a uma, graças a um golo de Chiquinho Carlos no final da partida.

A 17 de Maio de 1990, jogaria o seu último desafio pelo Vitória…aquele jogo que para os vitorianos que o viveram estará ao nível de Basileia, ou aquele jogo frente ao Estrela da Amadora e que selou a descida de divisão. Também, frente aos estrelistas, o Vitória, surpreendentemente, perderia o ensejo de jogar a final da Taça de Portugal perante o Farense! Uma farpa, que passados 31 anos, ainda flameja nos corações de quem viveu aqueles anos!

Roldão, esse, despedir-se-ia nesse momento do Vitória, não jogando a última jornada do campeonato em Portimão.

Foram 156 contendas de Rei ao peito e 19 golos, antes de partir para Penafiel, para acabar a carreira em 1991/92 no vizinho Moreirense. Porém, independentemente dos golos, das assistências, o maior triunfo de Roldão é, ainda, hoje ser recordado com saudade… e muitos dizerem que como ele não existiu mais algum!

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