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Recordar… o Vitória #14

Por Vasco André Rodrigues.

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Por Vasco André Rodrigues,
Advogado e fundador do projeto ‘Economia do Golo’

O México 86 estava bem presente.

As confusões vividas pela selecção nacional portuguesa ainda eram uma realidade que atormentava uma nação nada habituada a contestações!

Saltillo estava em fase de inquérito e o país dividia-se entre quem defendia os jogadores, achando que a aventura mexicana correra mal por causa dos dirigentes da Federação Portuguesa de Futebol, enquanto outros os atacavam, por defenderem que a honra de servir o país deveria estar acima de qualquer valor financeiro ou monetário.

Como resultado, muitos atletas foram afastados preventivamente da selecção nacional, sendo que outros, em solidariedade com os castigados, colocaram-se de parte, manifestando a sua indisponibilidade em servir a equipa de Todos Nós.

Fazendo um processo retrospectivo, digamos que, na altura da revolta de Saltillo, o presidente do Vitória, António Pimenta Machado, no auge da contestação com os jogadores a ameaçarem não entrar em campo, houvera colocado toda a equipa do Vitória – obviamente, só os atletas portugueses – à disposição da Federação Portuguesa de Futebol para representar as Quinas em tão ilustre evento.

Não seria necessário! Contudo, a selecção das Quinas seria eliminada após as derrotas com a Polónia e Marrocos, de nada valendo a vitória no jogo inicial contra a Inglaterra.

Portugal batia no fundo da credibilidade internacional e, além disso, iria ter de enfrentar a fase de qualificação para o Campeonato da Europa de 1988, sem nomes marcantes do futebol português como o guarda-redes Bento, que se lesionara com gravidade no México, os de Gomes, Inácio, Carlos Manuel, Álvaro, Jaime Pacheco, Futre e mais alguns!

Portugal estava, claramente, num processo de reformulação!

Por esses tempos, havia uma equipa em Portugal que jogava futebol de um modo sublime, que houvera chegado aos quartos de final, da então, Taça UEFA na temporada anterior. Era um tornado que se tinha afirmado graças à criatividade e eficácia de um inesquecível trio de brasileiros, composto por Roldão, Ademir Alcântara e Paulinho Cascavel, mas, também, graças à qualidade e fiabilidade de um conjunto de jogadores portugueses. Jogadores, esses, que não haviam merecido a consideração de serem convocados para o campeonato mundial, mas cuja qualidade era insofismável e facilmente comprovada dentro de campo. Falamos do guarda-redes Jesus, dos defesas Costeado e Miguel e dos médios António Carvalho, Nascimento e Adão, espinha dorsal dos Conquistadores, que naquela altura ameaçavam com toda a força os emblemas mais titulados do país.

Seria com eles que as Quinas lutariam por chegar à Alemanha, ainda que sem sucesso, fruto de alguma inexperiência. Os revoltosos do México, esses, haveriam de chegar para tentar ajudar a conquistar o impossível nos últimos desafios, ainda que sem êxito.

A 5 de Dezembro de 1987, um Sábado à tarde, em San Siro, frente à Itália, momento marcante para a nação Conquistadora. Os seis jogadores supramencionados, no Scala do futebol, o mítico San Siro, titulares de Quinas ao Peito… o Vitória equipado com as cores da bandeira pátria!

Do outro lado, nomes históricos do futebol europeu como o guardião Zenga, o lateral Bergomi, um dos melhores defesas da história Baresi, Il Principe di Roma Giannini, ou I Gemelli del Gol, leia-se Mancini e Vialli, na altura, ambos, na Sampdoria.

O sonho vitoriano de vencer a Squadra Azzurra duraria, escassos, 8 minutos. Seria esse o tempo necessário para Vialli abrir o activo!

Porém, após esse momento, as quinas protegidas pela armadura de Afonso dariam luta… o Vitória contra a selecção que cinco anos antes houvera vencido o Campeonato do Mundo! De forma descomplexada, descontraída, as Quinas ameaçaram o empate!

Porém, este não chegaria…

E seria já sem Jesus em campo, depois de ter de sair lesionado, e sem Nascimento que a Azzurra marcaria mais dois tentos. Aos 87 Giannini faria o segundo tento, para De Agostini pontuar o resultado numa rotunda injustiça com o terceiro tento no último minuto da peleja.

Portugal perderia, mas o orgulho vitoriano estava bem em alta…

Entretanto, os consagrados, por indulto, voltariam à selecção… mas, o apuramento para o europeu alemão já estava comprometido! Veriam a magia de Van Basten dar um inédito título à Laranja Mecânica do sofá!

Contudo, o momento de tantos vitorianos em campo a representar as Quinas ficou, indelevelmente, marcado na história… nunca mais sucederia igual!

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