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Recordar… o Vitória #65

Por Vasco André Rodrigues.

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Por Vasco André Rodrigues, Advogado e fundador do projeto ‘Economia do Golo’Era a alegria do povo…o futebol de rua, na inocência de um sorriso… a puerilidade de um drible imprevisível… a magia da inexpectável assistência, na ilusão de quem tinha o mundo para conquistar.

Era Lixa, um jovem e sorridente jogador, descoberto pelo Vitória, no Sintrense e que poderá ser comparado a um furacão. Imponente, arrasador na sua passagem, que, contudo, foi fugaz, rápida…aliás, a história do jogador seria demasiado fugaz para, infelizmente, ter um final feliz!

Chegado a Guimarães, na temporada de 1998/99, atendendo à sua inexperiência, seria cedido a título de empréstimo ao Felgueiras, por essa altura, a militar na Liga de Honra.

Aí, comandado por Diamantino Miranda, e ao lado de outros jovens vitorianos com o futuro pela frente, como Fernando Meira e Pedro Mendes, seria a estrela da companhia.

Um fantástico driblador, capaz do truque mais inesperado, do movimento técnico capaz de deixar todos de boca aberta, ao qual acrescentava uma capacidade de finalização que não deixava ninguém indiferente… aliás, os 8 golos apontados nessa temporada, em que os durienses ficaram às portas do regresso à Primeira Liga, confirmavam isso.

Regressaria a Guimarães, na temporada seguinte. Naquela equipa de bebés, gizada, arquitectada e desenhada por Mestre Quinito, não teria papel de proeminência nas primeiras jornadas do campeonato. O seu talento seria reservado para vestir pela primeira vez a Branquinha, à quinta jornada, numa derrota por duas bolas a zero frente ao eterno rival, Boavista.

Estávamos a 26 de Setembro de 1999 e mal sabíamos que a alegria da inocência iria durar menos de um mês.

Apesar da estreia menos conseguida, a verdade é que Quinito, velho conhecedor e apreciador do futebol-arte, viu logo o diamante por lapidar que tinha em mãos. Um génio em estado puro! Um talento com o futuro pela frente.

Apostaria nele, logo a titular no jogo seguinte frente ao Alverca, onde o retirou aos 58 minutos, com o desafio a zeros, ainda que o Vitória acabasse por vencer a contenda por uma bola sem resposta.

Seguir-se-ia Braga… aí, Lixa conquistou os vitorianos e, talvez, todos que amassem o mais belo desporto jogado pelos homens. Uma exibição perfeita, a massacrar o lateral José Nuno Azevedo, fazendo dele gato-sapato, driblando-o como e quando queria, para assistir os seus colegas. Foi um verdadeiro festim, consubstanciando com assistências para uma saborosa vitória por quatro bolas a duas! Os meninos fascinavam e aquele extremo de técnica prodigiosa já era falado para dar o salto.

Seguia-se o jogo com o FC Porto…aquele famigerado jogo, em Sábado diluviano.

Desafio equilibrado, para duros, com o relvado cheio de poças. Num carrinho destemperado, o portista Romeu, que haveria de se tornar num bem-amado pelos vitorianos, atinge o jovem Lixa. Não acreditamos em premeditação ou intenção de magoar! Romeu era voluntarioso, determinado e bem sentimos isso, quando envergou as nossas cores! Um homem e jogador honesto que, certamente, não mereceria carregar a cruz da lesão de um jovem talento como Lixa às costas… porém, no futebol as coisas sucedem e pouco há que fazer quanto a isso.

O jovem talento ficaria com a época arruinada. Com um joelho dilacerado, a questão era se e quando conseguiria regressar e em que condições. Será que o seu futebol explosivo sobreviveria?

Só, passado um ano, altura em que o jogador regressou, num desafio frente ao Beira-Mar, começaríamos a ter resposta para essas perguntas. A sua condição física não era a mesma, a sua capacidade de explosão muito menos, apesar de, ainda, ter feito, apenas, 9 desafios nesse ano, demonstrava dificuldades em nada consentâneas com aquele talento inebriante que se vislumbrara um ano antes.

Porém, o caminho era de paciência e os momentos, ainda que parcos, de ilusão com que houvera brindado os vitorianos mereciam que se aguardasse por melhores dias.

Todavia, na temporada seguinte, o pesadelo de uma grave lesão voltaria! Depois de, lentamente, se ter afirmado perante o treinador Augusto Inácio, de ter demonstrado merecer ganhar a titularidade no Vitória, de ter encadeado uma série de jogos capazes de ganhar a forma física, chegava o jogo com o Benfica, em Março de 2002.

Num jogo de má memória para o Vitória, em que, pela primeira vez, um jogador foi expulso com recurso a imagens televisivas, quando nem sequer existia VAR – falamos de Romeu, por estes dias, já colega de Lixa -, o sonho do extremo estilharçar-se-ia num choque com o esloveno Zahovic, aos 22 minutos.

Mais uma lesão grave, outra vez um longo processo de reabilitação, que só teria fim em Novembro, passados oito meses do famigerado momento. Mas, se o atleta já se houvera ressentido do primeiro momento lesivo da sua condição física, o que dizer do segundo?

Não era mais o mesmo! A sua explosão desaparecera! A flexibilidade que lhe permitia gingar sobre os adversários não existia.

Seria, por isso, cedido ao Maia para terminar a época, partindo daí para o Felgueiras, onde, outrora, fora feliz. Apesar das dificuldades, ainda faria uma temporada de nível razoável, para rumar a Lisboa, ao Atlético, na seguinte. Aí faria, apenas, um jogo, para terminar a carreira no ano seguinte no Odivelas. Tinha 29 anos e ninguém sabe o que poderia ter sido, não fossem aqueles dois momentos…

Actualmente, Lixa trabalha na recepção de um hotel em Paris e recuperou aquele sorriso de pura inocência com que nos encantou…ao menos isso!

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