Recordar… o Vitória #90

Por Vasco André Rodrigues.

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Por Vasco André Rodrigues, Advogado e fundador do projeto ‘Economia do Golo’ Hoje, o herói das nossas linhas será um zairense que chegou a Guimarães na longínqua temporada de 1986/87, conjuntamente com outros dois seus compatriotas: N’Dinga e N’Kama.

Falamos, pois, de Basaúla Lemba, um talentoso médio ofensivo, que em momentos de inspiração era capaz de desequilibrar uma partida através de uma arrancada, de um drible, de um lampejo de génio, próprio de quem era capaz de atingir um nível superlativo.

Como referimos, chegaria a Guimarães, na pré-temporada da inesquecível época de 1986/87.

Porém, não seria nessa temporada, absolutamente estrondosa quer a nível nacional, quer a nível europeu, que se afirmaria nos Branquinhos. Pelo contrário, nesse ano, seria uma alternativa ao fortíssimo onze titular, que qualquer vitoriano recitará de cor, entrando em, apenas, treze contendas e só duas como titular.

Apesar de se ter estreado na oitava jornada desse campeonato num êxito por duas a bolas a zero sobre o sempre rival Boavista, entrando aos 58 minutos, para ajudar Paulinho Cascavel, quase, imediatamente a desbloquear o resultado, a verdade é que nesse ano o mítico “Basa”, como era conhecido nas bancadas, só seria titular em dois jogos. Num que foi, como toda a equipa, extraordinário, ajudando a destruir os holandeses do Groningen, em jogo a contar para os oitavos de final da Taça UEFA e na derradeira jornada desse campeonato perante o Sporting, contenda que terminou empatada a um.

Por não ter sido capaz de se afirmar como era esperado e para abrir lugar a outro atleta estrangeiro, em virtude de naqueles tempos vigorar a regra da limitação do uso de mais de 3 atletas não naturais do país, seria cedido a título de empréstimo. Deste modo, rumaria ao Elvas, para posteriormente rumar ao Estrela da Amadora onde jogaria durante duas temporadas…e entraria na história vitoriana, ao contrário, se nos é permitida a expressão!

Contemos a história em poucas palavras. Corria a temporada 89/90 e os Branquinhos, sob o comando de Paulo Autuori, faziam uma temporada digna de todos os sonhos, quer no campeonato, quer na Taça de Portugal. Nesta, nas meias finais, calharia em sorte o referido Estrela, clube que contava com os serviços do zairense a título de empréstimo. Em eliminatória que seria disputada, apenas, em uma mão, os Conquistadores na Reboleira, apesar do golo inaugural de João Baptista, permitiriam o empate por Ricky, para durante o remanescente do jogo e do prolongamento desperdiçarem oportunidades atrás de oportunidade… o Jamor parecia enguiçado, ainda para mais com um clube da, então, segunda divisão já à espera, o Farense.

Decidir-se-ia o finalista em Guimarães! Com o estádio cheio a um dia de semana à tarde, com as escolas encerradas para os jovens poderem ajudar a dar asas ao sonho, o conto de fadas parecia estar a tornar-se realidade quando Chiquinho Carlos cabeceou para o fundo das redes do guardião Melo, também ele um antigo jogador vitoriano. Porém, a partir desse momento, o Vitória pareceu entrar em bloqueio, viver um “medo cénico”, como diria Valdano, de ser feliz. Sofreria o empate, para levar o jogo para prolongamento. Aí… o cúmulo da ironia! O sonho tornar-se-ia pesadelo, com o golo estrelista que carimbaria a final…apontado por Basaúla, o jogador que estava cedido pelos Branquinhos.

Por essa boa exibição, e por outras de igual nível nesse ano, regressaria ao Vitória, definitivamente. Em Guimarães actuaria durante quatro temporadas e meia, entre 1990/91 e meia época de 1994/95. Seriam 106 jogos com o Rei ao peito que lhe permitiriam apontar 9 golos. O primeiro dos quais ocorreria na primeira temporada, que tratou-se da que foi mais utilizado, com 37 presenças.

Seria, contudo, um desafio de má memória para as cores vitorianas. Com efeito, depois de ter perdido por três bolas a zero em Istambul, frente ao Fenerbahce, era necessária uma grande noite europeia em Guimarães.

Não ocorreria e o Vitória aos 25 minutos da primeira parte já estava, completamente, sem qualquer esperança no milagre, ao estar a perder por igual resultado da primeira volta. Haveria, porém, de minimizar os danos, graças a um golo de Soeiro e outro do herói destas linhas.

Porém, se o tento apontado nesse dia assemelhou-se a uma vitória de Pirro, o apontado frente ao Sporting treinado pelo homem que o havia lançado no futebol português, Marinho Peres, significou um saboroso empate para as cores vitorianas, bem como o outro golo desse ano, em prélio a contar para a Taça de Portugal, contra o Recreio de Águeda, ajudaria o Vitória a vencer por três bolas a duas.

Nas restantes três temporadas seguintes, o zairense perderia alguma influência. Faria uma média de 20 jogos por ano, apontando, em todas eles, dois golos. Apesar de não ser um titular absoluto, era visto como um elemento importante no plantel, capaz de ajudar o grupo com uma arrancada, uma finta, uma assistência.

Porém, ainda, teria tempo para viver uma história demonstrativa do que era, e é, o futebol português. Corria a época de 1992/93 e o Vitória, depois de ter vivido dificuldades com o regressado Marinho Peres, houvera trocado o brasileiro pelo, então, jovem, Bernardino Pedroto. As exibições melhorariam, os pontos começariam a ser somados e quando os Conquistadores se deslocaram ao estádio da Luz, para defrontar o Benfica, eram uma equipa tranquila e a jogar bom futebol! Tudo parecia estar bem!

O Vitória entrou de forma descomplexada, a jogar bem, a assutar o adversário. Porém, os encarnados haveriam de beneficiar de uma duvidosa grande penalidade cobrada por William, que os adiantou no marcador.

Quase de seguida, aconteceria o caso do jogo…um dos maiores escândalos do futebol português! Basaúla arrancaria pelo meio campo encarnado fora e dispararia um balázio às redes de Silvino. A bola bateria na barra e passaria a linha de golo. Com os jogadores do Vitória todos abraçados, o árbitro, o algarvio José Filipe, anularia, inexplicavelmente, o golo e daria ordens para a partida ser reatada sem sequer esperar que os vitorianos se recolocassem e sem que entendessem a razão da anulação do tento de belo efeito. O Benfica aproveitaria para contra-atacar, batendo Madureira… o golo de Basaúla, em vez de significar o empate, ajudou, em mais uma das manigâncias em que o futebol luso é fértil, a aumentar a vantagem adversária.

A temporada seguinte seria a última em que actuaria na sua totalidade pelo Vitória. Mais 22 jogos e mais 2 golos, o último deles, por ironia, na Amadora, no último triunfo de uma época que, a partir daí, descambaria. Seriam cinco jogos sem vencer e a Europa que se perdeu!

Acabava um ciclo no Vitória e Quinito era o escolhido para reconstruir o clube… Basaúla, esse, faria, apenas, cinco desafios, sendo o último deles contra os encarnados lisboetas. Depois disso, partiria rumo ao Belenenses, para continuar uma carreira que, ainda, passaria pelo Tirsense, Moreirense, Vasco da Gama de Sines e União de Montemor.

Porém, o carinho ao Vitória, ainda, permanece, como o próprio gosta de afirmar… ainda, que, aquele momento na final da Taça de Portugal, tenha entrado na história…do modo contrário ao que deveria ser!

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