Recordar… o Vitória #98

Por Vasco André Rodrigues.

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Por Vasco André Rodrigues, Advogado e fundador do projeto ‘Economia do Golo’Um dos mais extraordinários jogadores da história do Vitória SC! Recordado por todos os que o viram jogar, pela sua genialidade, pelo seu sentido de baliza, pela precisão com que marcava livres e pelo seu pontapé imparável que lhe valeu a alcunha que o haveria de acompanhar até ao final dos seus dias.

Falamos de António Mendes “O Pé Canhão”, capaz dos tiros mais impossíveis, dos balázios mais explosivos, numa mistura de técnica, irreverência e qualidade… terá sido, mesmo, dos nomes mais incontornáveis do século XX vitoriano.

Chegado a Guimarães, na temporada de 1962/63, incluído no negócio que levou Augusto Silva e Pedras para o Benfica, assumir-se-ia, desde logo, como pedra preponderante na equipa delineada pelo argentino José Valle. Mendes tinha feito parte dos planteis do Benfica campeão europeu, ainda que nunca tivesse jogado nessas provas. Na verdade, o seu feitio irreverente, aliado a alguma imaturidade, haviam-no afastado das escolhas de Bella Guttman, sendo que, também, por isso em Guimarães o seu carácter rebelde era temido!

Enganar-se-iam… faria de Rei ao peito 215 jogos, nos quais apontaria 80 golos, tornando-se uma incontornável figura de um Vitória que ousou alcançar as competições europeias e olhar nos olhos os, propalados, mais fortes clubes nacionais.

O jogador começaria, desde o primeiro desafio, a desmentir quem dele desconfiava. Na sua estreia, na primeira jornada dessa época de 1962/63, marcaria o seu primeiro golo pelo Vitória, frente ao Leixões, na confirmação que na Amorosa existia um jogador de exímio talento, com faro de golo e capacidades para ajudar os Branquinhos a voarem… Ironia das ironias, esse jogo terminaria empatado a um, com o golo dos matosinhenses a ser apontado por Edmur que, uns anos antes, havia apaixonados os vitorianos com os seus tentos, chegando mesmo a vencer a Bola de Prata.

Esse ano ficaria marcado pela segunda vez que os Branquinhos chegaram à final da Taça de Portugal, frente ao Sporting. Apesar da boa réplica dada durante 70 minuto, os últimos 20 da partida seriam penosos fisicamente para a equipa vitoriana. Sofreria três golos, esvaindo-se o sonho numa derrota por quatro tentos sem resposta.

Os onze golos de Mendes tinham dado uma óptima contribuição para o bom desempenho nessa época e o jogador passaria a ser olhado como uma mais-valia e um alicerce sobre o qual deveriam ser construídas as temporadas seguintes.

Apesar disso, o exercício seguinte seria o que menos seria utilizado. Sê-lo-ia, apenas, por dezoito vezes, com destaque para a meia dúzia de golos que contou no pecúlio. Destes, destaque para o bis com que ajudou a bater o Varzim, na Póvoa, num espectacular cinco a quatro. Mendes era a muleta ideal para o brasileiro Rodrigo, que, nesse ano, seria o terceiro melhor marcador do campeonato nacional.

No ano seguinte, merece realce um facto que mudaria a vida dos vitorianos até aos dias de hoje. A equipa abandonava a lendária Amorosa para rumar ao, então, estádio Municipal, base do que é hoje o Estádio D.Afonso Henriques. O Pé Canhão seria parte integrante e importante dessa mudança, sempre a assumir as manobras ofensivas da equipa, sempre a tentar alvejar as redes contrárias, fosse através de bola corrida, fosse através da marcação de livres, sempre a procurar transformar em ouro o muito que era criado pelo seu sector intermediário. Os seus nove golos ajudaram ao sétimo lugar final e, cada vez mais, o seu nome era sinal da qualidade da equipa que orgulhava os vimaranenses e os vitorianos.

Na temporada seguinte, Mendes seria grandioso, eloquente no modo como falou com o golo, letal e preciso nos seus mísseis teleguiados rumo às balizas contrários. Marcaria 19 golos em 23 jogos, uma média estrondosa. Além disso, faria uma dupla avançada absolutamente aterradora com o brasileiro Djalma (para as defesas adversárias, claro está!) e que muitas alegrias deu aos vitorianos. Seria, aliás, esse um dos segredos para o extraordinário quarto lugar final, mas que, fruto do triunfo do eterno rival SC Braga na Taça de Portugal, arredou os Branquinhos das provas europeias. Nesse ano, o herói destas linhas, conseguiria bisar por quatro vezes, com realce para os golos que ajudaram a bater o Sporting por três bolas a duas, sendo o outro (lá está!) obtido por Djalma.

O ano de 1966/67 teria um sabor agridoce para o jogador. Na ressaca do Mundial inglês alcançaria a sua única internacionalização pelas Quinas, numa derrota, no Jamor, frente à Suécia por duas bolas a uma, mas, fruto de uma arreliadora lesão seria menos influente na equipa. Ainda assim, apontaria 10 golos, um deles que ajudaria a bater o FC Porto, num triunfo por duas bolas sem resposta. O outro tento seria apontado pelo vimaranense Castro, numa tarde de belo futebol praticado pelos vitorianos.

Mendes era, por esta altura, um dos porta-estandartes do Vitória, a imagem de um clube ambicioso a querer crescer, a querer chegar aos lugares mais altos da tabela!

Não obstante isso, o ano seguinte, traria um sexto posto na tabela, para o qual o jogador contribuiu com 8 golos. Era sempre garantia de golos, de utilidade extrema, um certificado de pontos.

Eis-nos chegados à fantástica temporada de 1968/69. Sob o comando técnico do brasileiro Jorge Vieira, o Vitória tocaria o céu! Sonharia até, praticamente, ao fim do campeonato com um título, que uma habilidosa arbitragem no estádio do Restelo, no jogo frente ao Belenenses, ajudou a sonegar. Apesar de só ter apontado 4 golos, a sua aliança na frente de ataque com Zezinho e Manuel fez miséria pelos campos do país fora, ajudando a que a equipa obtivesse a melhor classificação de sempre: um terceiro lugar que permitiu a que o Vitória, pela primeira vez, participasse nas competições europeias.

Tal aconteceria em Setembro da época seguinte, numa eliminatória frente aos, então, checoslovacos do Banik de Ostrava que o Vitória eliminaria, para, depois, cair perante os ingleses do Southampton. Contudo, na primeira mão desse confronto, em Guimarães, Mendes seria o que sempre foi durante a sua carreira: demolidor, letal, goleador e apontaria dois dos três golos que o Vitória apontou, tantos como os Saints que haveriam de carimbar a eliminação do Clube do Rei em casa. Seria uma temporada em que o Vitória conseguia conquistar um quinto posto, tendo contribuído o jogador com 13 golos.

Aliás, seria neste exercício que apontaria o último golo com a camisola branca que tantas alegrias lhe deu. Seria o golo da vitória no último minuto da última jornada dessa temporada, frente ao FC Porto, que nesse ano acabaria atrás do Vitória na tabela, já que os Branquinhos terminaram no quinto posto e os portistas no nono, garantindo novo apuramento europeu.

A época de 1970/71 não correria bem a título colectivo, nem a título individual ao jogador. A equipa depois da excelência dos anos anteriores lutaria, com unhas e dentes, para não descer de divisão, salvando-se num miraculoso empate a zero no Porto. Era um conjunto veterano, que já tinha vivido e vencido muitas batalhas, comandado pelo regressado Jorge Vieira, que não conseguiu ter o êxito que houvera tido dois anos antes.

Mendes, esse, sem a mesma frescura física, o que o tornava muito menos perigoso e quase desaparecido em campo, não conseguiria ter a mesma influência de anos anteriores, acabando a temporada sem marcar qualquer golo.

Abandonaria o futebol no final dessa temporada, recebendo uma merecida festa de homenagem em 1972. Até 2019, ano em que faleceu, seria uma presença constante na nossa cidade; a cidade que o soube receber e adoptar como um verdadeiro ídolo!

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