Ricardo Araújo: “Este é o tempo da coragem, de agir, de fazer acontecer”

O Grande Auditório Francisca Abreu, no Centro Cultural Vila Flor, encheu-se na manhã deste sábado para testemunhar um momento histórico na vida política do concelho: a tomada de posse de Ricardo Araújo como novo presidente da Câmara Municipal de Guimarães. O autarca da coligação “Juntos por Guimarães”, que venceu as eleições autárquicas de 12 de outubro, sucede a Domingos Bragança, colocando um ponto final em 36 anos de governação socialista ininterrupta no município.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

A cerimónia solene marcou o início de um novo ciclo político em Guimarães e reuniu convidados, entre autarcas, representantes institucionais, dirigentes partidários, cidadãos e membros da sociedade civil. Foram também empossados os novos vereadores da Câmara Municipal e os deputados à Assembleia Municipal, num ambiente de expectativa e simbolismo, onde o tema da renovação democrática esteve constantemente presente.

Fim de um ciclo histórico e início de uma nova etapa

A vitória, por maioria absoluta, de Ricardo Araújo, líder da coligação formada pelo PSD e pelo CDS-PP, foi uma das mudanças mais expressivas das últimas eleições autárquicas em Portugal. Guimarães, um dos bastiões históricos do Partido Socialista desde 1989, viu pela primeira vez em mais de três décadas uma alternância no poder local.

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No seu discurso de posse, Araújo sublinhou precisamente esse marco: “Hoje celebramos algo maior do que qualquer resultado eleitoral. Celebramos a força viva da democracia, porque, acima de tudo, a democracia somos todos”. Para muitos vimaranenses, o momento representa “não apenas uma mudança partidária, mas um sinal de vitalidade democrática e de confiança no futuro”. Como sublinhou o próprio Ricardo Araújo, “em democracia não existem vencedores eternos nem derrotados antecipados, existem cidadãos livres que escolhem o seu caminho”.

O novo presidente fez questão de reconhecer o legado dos seus antecessores, incluindo o de Domingos Bragança, a quem agradeceu “o trabalho colaborativo e responsável no processo de transição”, destacando “a dedicação à causa pública”.

“A democracia vive no coração de quem participa”

O discurso, de cerca de 40 minutos, foi marcado por um tom conciliador, mas também de firme compromisso com as promessas eleitorais. Ricardo Araújo começou por agradecer “a presença de todos os que quiseram testemunhar o momento inicial de um novo mandato autárquico”, e saudou todos os participantes nas eleições, independentemente dos resultados.

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“Dar a cara por um projeto e participar ativamente na vida democrática é um gesto que merece o nosso reconhecimento coletivo”, afirmou. O novo autarca reforçou a importância da participação cívica, recordando que a taxa de abstenção em Guimarães foi significativamente inferior à média nacional: “Com serenidade e firmeza, os vimaranenses mostraram que a democracia vive, vive no coração de quem participa, de quem escolhe, de quem acredita”.

Ricardo Araújo lembrou que “nada é mais maravilhoso do que ser livre, mas nada é mais difícil de aprender a usar do que a liberdade”. Para o novo presidente, o voto de confiança dado pela população constitui uma responsabilidade acrescida: “Esta maioria robusta não é um trono de conforto, é uma missão de serviço. É mais responsabilidade, mais trabalho, mais escuta”.

Prioridade à habitação e ao desenvolvimento económico

Entre as prioridades do novo executivo, Ricardo Araújo destacou a habitação, a política de solos e a atração de investimento como áreas centrais do seu mandato. “Queremos mais solo urbano, mais espaço para construir e mais habitação acessível para todos”, declarou, assumindo o compromisso de rever o Plano Diretor Municipal (PDM) e de criar uma estratégia territorial que responda às necessidades de crescimento urbano e industrial do concelho.

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“O direito a uma casa digna não pode continuar a ser um sonho adiado em Guimarães”, disse, prometendo um plano de ação que combine oferta pública e privada de habitação. Afirmou ainda que “a política urbanística será mais amiga dos cidadãos e das empresas”, com enfoque na sustentabilidade e na qualidade ambiental.

No domínio económico, o autarca anunciou a criação de uma Agência para a Captação de Investimento e Desenvolvimento Económico de Guimarães, estrutura que terá como missão atrair empresas, facilitar o relacionamento com investidores e fomentar a ligação entre o tecido empresarial e as universidades.

“Queremos que o berço da nação seja também o berço da inovação”, declarou. “Da nossa tradição industrial brotará um novo ecossistema de conhecimento, tecnologia e progresso.”

Mobilidade e sustentabilidade no centro da governação

Outro dos temas centrais do discurso foi a mobilidade urbana e intermunicipal, que Araújo classificou como “o sangue que irriga a economia e a vida social”. O novo presidente reafirmou o compromisso com o projeto MetroBus, que ligará a cidade de Guimarães à zona norte do concelho, a Braga e à futura Estação de Alta Velocidade, considerando-o “uma infraestrutura transformadora, fiável e sustentável”.

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Segundo o autarca, o MetroBus será “muito mais do que uma ligação física entre localidades, será um símbolo de mudança e de mobilidade verde”, com possibilidade de extensão futura a outras áreas do concelho.

Ricardo Araújo destacou também a importância da Capital Verde Europeia 2026, título já atribuído a Guimarães, prometendo que “será a melhor de sempre, não como um troféu, mas como uma responsabilidade”. Sublinhou que a política ambiental será transversal a todas as áreas de governação: “A Guimarães de amanhã depende das decisões sustentáveis que tomarmos hoje.”

O novo executivo compromete-se, assim, a fortalecer a transição energética, a proteção do património natural e o envolvimento da comunidade em projetos de sustentabilidade. “Queremos que da Capital Verde Europeia nasça a Capital Europeia da qualidade de vida”, afirmou.

Cultura, património e identidade: “Cuidar da alma de Guimarães”

A dimensão cultural e patrimonial não ficou de fora do discurso. Araújo reafirmou o papel da cultura como elemento central da identidade vimaranense: “Uma cidade que cuida da sua cultura, da sua riqueza e vitalidade popular, cuida também da sua alma.”

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O novo presidente defendeu a revitalização do centro histórico e das vilas do concelho, apostando na qualificação do espaço público, na dinamização do comércio tradicional e na promoção do turismo sustentável. “Temos de nos religar, promover os nossos fatores distintivos, apostar nas tradições, na gastronomia e nas manifestações culturais que nos definem como comunidade”, sublinhou.

Ricardo Araújo assegurou ainda que o município continuará a apoiar as associações culturais e as iniciativas artísticas locais, preservando o equilíbrio entre “as expressões populares e as contemporâneas”.

Participação cívica e governação moderna

Com um discurso assente no conceito de serviço público, o novo autarca defendeu um modelo de governação “transparente, participativo e moderno”, sustentado na digitalização dos serviços municipais e na proximidade com os cidadãos.

“Queremos uma autarquia ao serviço das pessoas, com serviços desburocratizados, digitais, eficientes e humanos”, disse. “Acredito que os cidadãos não são meros espectadores, mas participantes ativos na construção do seu futuro.”

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

Araújo adiantou que pretende transformar Guimarães numa “cidade inteligente e sustentável”, apoiando-se na recolha e análise de dados para melhorar a gestão pública. Ao mesmo tempo, garantiu que o diálogo com as juntas de freguesia e com as forças políticas da oposição será “permanente e construtivo”, sublinhando que “a estabilidade conquistada no executivo municipal deve ser acompanhada de abertura e cooperação”.

Um olhar para o futuro: “Guimarães com todos”

Num dos momentos mais emotivos da cerimónia, Ricardo Araújo evocou o simbolismo histórico de Guimarães, “berço de Portugal e da nossa identidade”, projetando essa herança no futuro. “A nossa jornada não estará completa enquanto Guimarães não for um lar seguro, próspero e justo para todos”, declarou, destacando a importância de criar oportunidades para os jovens, apoiar as famílias e valorizar os seniores.

O autarca recordou que em 2028 se assinalam os 900 anos da Batalha de São Mamede, um marco fundador da nacionalidade portuguesa, e prometeu celebrar a efeméride “com dignidade e reconhecimento nacional, como merece Guimarães e como merece Portugal”.

Citou ainda figuras da história e da literatura portuguesa, como Afonso Henriques ou Raul Brandão, associando as suas palavras ao espírito resiliente dos vimaranenses: “Há algo de mágico em ser vimaranense, uma força interior que nos leva a superar, a persistir e a conquistar.”

Encerrando o discurso, o novo presidente deixou uma mensagem de união e esperança: “Guimarães é e sempre será o berço da nação, mas mais do que isso, será o berço do futuro. E esse futuro começa agora, aqui, connosco, juntos. De coração aberto e alma vimaranense. Viva Guimarães!”

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