Rui Souza: Vimaranense ganhou o título do Masterchef Portugal

Natural da freguesia de Nespereira, Rui Souza, de cognome “Rei dos Purés”, ficou conhecido por ter vencido a mais recente edição do Masterchef Portugal. Desde cedo esteve ligado à música, tendo estudado piano e órgão, e atualmente é compositor de projetos para teatro, cinema e artes performativas.

© Leonardo Pereira/ Mais Guimarães

Apesar de ser artista de profissão, Rui Souza nunca colocou de parte o seu gosto pela cozinha. O seu “bichinho” pela gastronomia nasceu pelo facto de a mãe “cozinhar muito bem” e, posteriormente, desenvolveu os seus dotes de forma autónoma.

Depois de garantir o título de campeão do programa de cozinha, o vimaranense pretende que o próximo passo seja “confluir os projetos artísticos e gastronómicos” e, quem sabe, abrir o seu próprio espaço na cidade berço.

Trabalhas como compositor neste momento. Como surgiu o teu gosto pela composição?

Desde muito novo estudei piano e a minha mãe obrigava-me a ir à missa, então também comecei a estudar órgão, um instrumento que gosto muito. Entretanto, não sabia muito bem o que queria fazer e estudei filosofia. Os meus pais diziam-me que, como era músico, tinha de estudar algo relacionado com essa área, mas depois de muita ponderação decidi estudar filosofia.

Comecei a compor e a trabalhar com a comunidade e também a compor bandas sonoras para teatro, para cinema e para dança
contemporânea. A filosofia anda sempre aqui a par porque me ajuda a compor e a criar. Dirijo muitos projetos com a comunidade e, entretanto, fiz alguns projetos artísticos relacionados com a gastronomia.

É por estares desde cedo ligado à música que optaste por seguir a vertente artística?

Sim, com a questão de estudar órgão comecei a perceber o quão incrível é estar junto das pessoas e trabalhar com toda a gente,
não só com artistas profissionais. É isso que me dá mais prazer. É por isso que trabalho muito com a comunidade aqui em Guimarães, por exemplo com a “Outra Voz”, mas também com outro tipo de projetos e de pessoas.

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Interessa-me muito estar junto das comunidades e criar projetos artísticos com a comunidade e foi no contexto do Grupo Coral da Paróquia que comecei a perceber isso.

 

“Interessa-me muito estar junto das comunidades e criar projetos artísticos com a comunidade”

 

Quais são os projetos artísticos que mais te marcaram e que gostaste de fazer?

Um dos projetos de que mais me orgulho é um projeto a solo que tenho, o “Dada Garbeck”, que são composições minhas e não para outras pessoas. Há também um que é recente, que se chama “Então Ficamos”, aquele que fizemos no Centro Cultural Vila Flor em 2022. É uma orquestra e um coro de mais de 200 pessoas com temas de José Mário Branco e Amélia Muge e que me deu muito prazer dirigir.

Posso também nomear a banda sonora que fiz para um filme do Rodrigo Areias que ainda não saiu, mas é algo que me marcou muito.

És artista, mas como começou a crescer o teu gosto pela cozinha?

O bichinho da cozinha começou com o facto da minha mãe cozinhar mesmo muito bem e nós comíamos todos os dias muito bem. Então criei logo uma relação muito especial com a comida por isso. Depois, quando saí de casa, tive a necessidade de começar a cozinhar e comecei a perceber que também gosto muito desta área.

Entretanto fiz alguns projetos artísticos com chefs em que estava do lado do artista e não do cozinheiro. Nesse momento percebi que era apaixonado por aquilo. Mas nesse dia percebi mais qualquer coisa. Nesse projeto, que se chamava “Música da Época”, que foi feito pelo Teatro da Didascália, com muito estudo, de uma forma muito autodidata e meio compulsiva, comecei a sentir que o prazer que tinha a estudar gastronomia era muito parecido com o que tinha pela música.

Como desenvolveste os teus dotes na cozinha?

Grande parte tem a ver com a minha vivência, de comer muitas vezes fora e de ter muito prazer com isso. Mas tem a ver, sobretudo, de estudar muitas horas gastronomia, técnicas e cozinhas do mundo e isso dá-me uma bagagem muito grande, juntamente com as bases todas que a minha mãe me deu.

© Leonardo Pereira/ Mais Guimarães

Como é para ti conciliar as duas áreas?

Diria que conciliar as duas áreas pode ser difícil, mas o meu objetivo é chegar a um ponto em que as duas são a mesma. Gostava de um dia ter um projeto com os dois universos. A gastronomia e a arte já se tocam e podem ser a mesma coisa. O meu objetivo é que a arte, a gastronomia e a comida possam estar no mesmo espaço e assim não tenho de escolher lados.

Como decidiste entrar no Masterchef?

Cheguei a um ponto que estava a precisar de parar porque estava cansado. Apareceu a oportunidade de ir para o Masterchef e pensei “Porque não?”. Em vez de parar, ir de férias ou fazer um retiro decidi experimentar. Esta entrada no Masterchef foi também uma pausa na minha carreira. Parei alguns projetos e suspendi outros porque estava a precisar. O universo pôs-me este casting à frente e fui.

O que sentiste quando percebeste que entraste no programa?

Como os chefs foram dizendo por vezes, eu não sabia se queria estar ali. Até porque tinha um pouco de preconceito com a televisão e com este tipo de formato, embora não seja dos que gosto menos porque é um júri e não um público. Quando entrei não sabia se queria muito estar ali, mas fui-me deixando levar e comecei a gostar.

Quais eram as tuas expetativas iniciais?

Não esperava vencer, não tinha grandes expetativas. Primeiro pensei fazer uma pausa na minha vida profissional e também queria ver se sei cozinhar alguma coisa ou se os meus amigos só são simpáticos comigo. Queria descobrir isso e descobri. Mas não achava que ia ganhar. No primeiro dia que entrei naquela cozinha pensei: “Agora estou aqui e vou querer ganhar”. Não tinha essa expetativa, mas sim objetivo. É confuso, mas pensei “Já que estou aqui, vou dar tudo e quero ganhar como os outros.”

No programa eras bastante criativo com os teus pratos. Isso vem da tua vertente artística?

Sim, a minha mais-valia foi o lado artístico e criativo porque estávamos sempre sob pressão e tínhamos de ser criativos em poucos minutos. Em poucos minutos tínhamos de inventar um prato, então se não formos criativos e não soubermos lidar com a pressão, não passávamos. Acho que a arte e o meu lado criativo estiveram sempre comigo.

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O facto de teres de lidar com a pressão, com o júri e com a televisão permitiu-te crescer enquanto pessoa e profissional?

Muito, houve dois crescimentos paralelos muito fortes: O gastronómico, porque aprendemos imensas técnicas e desenvolvemos muito conhecimento, mas também o desenvolvimento pessoal e emocional altíssimo, porque aprendemos a lidar com a pressão, com as impressões, com câmaras e a saber que somos avaliados. Todas essas camadas fazem-nos crescer mesmo muito.

O Masterchef pode-te alavancar na tua carreira enquanto artista?

Pode, eu até conversava sobre isso com os meus colegas. Nas nossas vidas profissionais, passadas ou não, todos vamos ser melhores em muitas coisas, sobretudo em saber lidar com a pressão, com os nervos e em saber discernir melhor as coisas.

 

“Um dos meus propósitos enquanto artista é trabalhar sobre o Vale do Ave, no qual Guimarães está inserido.”

 

Durante o programa tentaste representar Guimarães ou a região?

Sim, fui para lá e tinha em atenção ter um propósito. Se vou fazer alguma coisa, é com um propósito. E um dos mês propósitos enquanto artista é trabalhar sobre o Vale do Ave, no qual Guimarães está inserido, e levei para lá bastantes vezes a palavra Vale do Ave e muita da mística da região.

Na final cozinhei vaca cachena, que é uma vaca minhota, fiz sopas secas, broa de milho e fiz um pão marroquino que tem algumas parecenças com o nosso bolo com carne e com sardinhas. Também falei muito da questão dos rios do Vale do Ave e da poluição através de uma chávena de bagaço a arder e assim falei das mais diversas maneiras do nosso território.

Também gostas muito da cozinha japonesa. O que te inquieta mais dessa cultura gastronómica?

A cozinha japonesa aparece porque eu adoro a cultura japonesa e gosto muito de compositores e de escritores japoneses, então sempre tive esse fascínio. Quando comecei a estudar este lado culinário, comecei a estudar coisas japonesas e apaixonei-me. Ocupa um grande espaço do meu coração.

A cozinha japonesa foi algo que te diferenciou no teu percurso no Masterchef?

Sim, o meu gosto pela cozinha japonesa esteve sempre presente, diferenciou-me e os chefes mencionaram isso algumas vezes, como quando fizemos ramen e trabalhei as algas muitas vezes. Na final, comecei o menu com um prato de inspiração japonesa. E acho que combinava bem porque o atum, apesar de a forma como usei ser um pouco japonesa, é um produto muito nobre dos Açores e do Algarve e come-se muito em Portugal. E aquilo que usei para misturar os molhos é um pouco português, francês e japonês e acho que ficou bom, senão eles diziam-me (risos).

© Leonardo Pereira/ Mais Guimarães

“No espaço de dois ou três anos quero começar a confluir os projetos gastronómicos e artísticos e quem sabe até ter um espaço em Guimarães.”

 

No programa ficaste conhecido como o “Rei dos Purés”. Porquê esta alcunha?

Naquela competição, há coisas que são muito arriscadas fazer, como o arroz e outras coisas que passem do ponto por causa dos tempos. E o puré é algo delicioso e não passa do ponto. Depois de estar pronto, está pronto. Acho que foi inteligente e fiz muitas vezes puré.

E às vezes quando temos de criar algo, temos legumes, cogumelos, batatas. Quase tudo dá para fazer um puré. A textura cremosa é algo que deve estar sempre num prato e eu gosto muito, então fui sempre fazendo purés bons. E por volta do quinto puré os chefs colocaram-me esse cognome do “Rei dos Purés”.

Sentiste sempre o apoio da tua família e dos teus amigos durante o programa?

Sim, o pessoal ligava-me muito e dava-me muita força. Até me aconselhava com alguns artistas vimaranenses com títulos de menus finais. Mas tive sempre muito apoio incondicional de toda a gente.

Com o título de campeão do Masterchef vais para uma formação na área da cozinha no Pais Basco, em Espanha. O que pretendes fazer com o curso?

As expetativas para esse curso são muito altas, porque quando entrei no programa aquilo que me interessava, além de aprender, era o curso. Por isso tinha de ganhar porque os cursos são muito caros e este é numa das melhores escolas do mundo: o Basque Culinary Center. Então estou com as expetativas altas e muito feliz por fazer este curso.

Qual será o próximo passo?

Neste momento tenho alguns compromissos artísticos que vou concluir, mas no espaço de dois ou três anos quero começar a confluir os projetos gastronómicos e artísticos, e quem sabe até ter um espaço em Guimarães.

 

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