Salvador Oliveira e Benedita Lopes: os ginastas que fizeram história na Europa

Salvador Oliveira e Benedita Lopes conquistaram o ouro na disciplina de pares mistos durante a edição de 2025 da CEGI, realizada no Coque - Centre National Sportif et Culturel, no Luxemburgo. A dupla da Guimagym surpreendeu a Europa e mostrou que o trabalho, a entrega e a resiliência podem superar todas as expectativas.

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Ele tem 16 anos, ela 12. Treinam seis dias por semana, conciliam a escola com o desporto e partilham a mesma paixão pela ginástica e o mesmo sonho para o futuro: ser arquitetos. Juntos, formam um par improvável – pela diferença de idades, pelo pouco tempo de treino conjunto e pela estreia numa competição internacional. Mas foi precisamente essa dupla, da Guimagym, que brilhou mais alto no Campeonato da Europa de Ginástica Acrobática, conquistando o ouro para Portugal.

Salvador Oliveira e Benedita Lopes não estavam no radar das principais seleções, nem eram apontados como favoritos. Salvador já conhecia o ambiente de alta competição, mas a Benedita estreava-se em palcos internacionais. Ainda assim, mostraram confiança e uma sintonia notável. “Eu não pensei muito, porque eu sabia que a figura tinha corrido bem e que o esquema estava limpo. Estava confiante”, confessa Salvador. Já Benedita, entre sorrisos tímidos, admite: “Eu não estava assim tão confiante. Mas quando ouvi a nota comecei logo a chorar”.

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“Eu não pensei muito, porque eu sabia que a figura tinha corrido bem e que o esquema estava limpo”- Salvador Oliveira

Apesar da vitória, o percurso da dupla começou há relativamente pouco tempo. Salvador já era atleta da Guimagym, mas ficou sem parceiro quando o anterior colega abandonou a modalidade. Benedita, que vinha da ginástica artística e treinava noutro clube, procurava um novo desafio. Juntaram-se, começaram a treinar e rapidamente mostraram potencial. “Apostei neles porque vi que tinha muito potencial. Ambos têm uma boa capacidade física, são muito completos um para o outro”, explica Alfredo Pereira, treinador dos dois ginastas. “O Salvador nunca tinha feito par misto, o que muda completamente a técnica. Mas adaptaram-se muito bem”.

 “Mas quando ouvi a nota comecei logo a chorar”- Benedita Lopes

E a aposta resultou. “Trabalhámos para chegar àquele nível, sabíamos que era possível, mas não estávamos à espera desta conquista”, diz Alfredo. A nota final chegou depois de verem duas penalizações que tinham surgido num diagrama interno. O treinador admite que, naquele momento, assumiu que não daria para o pódio. “Lembro-me de lhes dizer: ‘Meninos já não dá’, e de repente, surge a nota final e ficamos eufóricos”.

Questionados sobre que palavra escolheriam para definir o percurso até à final rapidamente responderam “difícil”, disse a Benedita, e “trabalhoso”, proferiu Salvador. O caminho até ao pódio foi feito de muita disciplina. Treinam, no mínimo, três horas por dia, seis dias por semana. Benedita viaja diariamente do Porto para Guimarães e Salvador frequenta uma escola UAARE (Unidade de Apoio ao Alto Rendimento na Escola), que lhe permite conciliar melhor a exigência da ginástica com os estudos. “Para mim é mais fácil porque eles adaptam os horários, ou seja, eu tenho um horário de turma, mas quando preciso de faltar eu troco aulas e depois tenho que recuperar noutros dias”, relata Salvador.

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“Lembro-me de lhes dizer: ‘Meninos já não dá’, e de repente, surge a nota final e ficamos eufóricos”- Alfredo Pereira

No centro de treinos da Guimagym, mais do que formar campeões, formam-se pessoas. “Somos um clube de formação. A competição é apenas para quem ambiciona isso”, sublinha Alfredo. O lema é claro: “uma escola para a vida”. O lema que transmite aos atletas é simples: “Sem expectativas, não há desilusões”. Mas há sempre espaço para sonhar. “O objetivo é saírem satisfeitos com o que fizeram”.

“Isto é uma escola para a vida”- Alfredo Pereira

Alfredo confessa que o orgulho que sente nos dois atletas vai muito além do resultado. “Para mim é a resiliência deles, o foco e o trabalho que eles têm até chegar lá”.

Para Salvador, ser ginasta nunca foi motivo de dúvida, mas admite que nem sempre é fácil ser rapaz num desporto ainda marcado por estigmas de género. “Senti um bocado de preconceito no início, mas depois deixei de ligar ao que as pessoas diziam”.

Para o treinador, “esse preconceito ainda existe e vai continuar a existir, embora acredite que é “cada vez mais desmistificado”. “Esse estigma ainda existe, mas acho que cada vez menos. Nós temos bastantes rapazes na acrobática. Mas serão sempre bem-vindos mais”, reforça a rir.

Sonhos e objetivos para o futuro

Com a medalha de ouro ao peito e o nome gravado na história do desporto vimaranense e português, Salvador e Benedita não querem parar. Pretendem continuar a competir, a evoluir e, sobretudo, a divertir-se. “O objetivo é tentar ganhar o campeonato nacional. Depois o foco é próximo Mundial que se realiza em setembro de 2026”.

Campeões da Europa aos 12 e 16 anos, Salvador e Benedita carregam agora o peso leve de um ouro ao peito. Mas, mais do que o título, fica o exemplo de entrega, de superação e de resiliência de dois jovens que ainda têm muito para conquistar.

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