SER DIFERENTE É SER ÚNICO

por JÚLIO BORGES

N60 – Ser diferente é ser único

por JÚLIO BORGES

Docente e Escritor

Dizem os cientistas que existem no Universo planetas que aos nossos olhos, os olhos dos humanos, que pouco sabem sobre o universo, serão estranhíssimos.

Existem planetas repletos de paradoxos e planetas simetricamente inversos ao nosso, ou será que não?

Existem planetas em que os palíndromos e as capicuas são reis, como no planeta LUZAZUL ou Planeta X12321X, e até planetas em que a Ira e a sua família foram banidas para todo o sempre, embora o tempo seja relativo. Que o digam Galileu Galilei, Isaac Newton, Albert Einstein ou Stephen Hawking. Ou talvez já não possam!

O planeta que eles nunca conheceram, não observaram, teorizaram ou ouviram falar, foi um planeta onde tudo era ordenadamente organizado. Se é que a ordenação pode não ser organizadamente ordenada! Este planeta tinha o célebre nome de Polidron.

Em Polidron tudo era o reflexo de uma histeria compulsiva por regularizar, segundo padrões previamente estabelecidos por quem nunca fizera outra coisa.

Neste planeta, quem não fosse a favor desta histeria era muito mal visto e até afastado de uma vida social profícua e, diziam os seus reguladores, geradora de felicidade.

Como sempre nestas histórias, tudo corre bem até que algo muda. E um dia mudou!

Um dia, igual a tantos outros, em que tudo era regulado, regularizado, estilizado, otimizado e tantos outros ….ados, chegou um elemento estranho a todos os habitantes do planeta. Era um elemento completamente diferente, disforme, nada condizente com os padrões predefinidos pelos reguladores. A sua envergadura e não adaptação às normas estabelecidos tornavam-no diferente, anormal ao sistema, mas acima de tudo único. Ninguém sabia de onde havia aparecido aquele “ser”, mas isso também não interessava, desde que não aparecesse mais nenhum igual a si e, claro está, diferente à maioria.

Por favor, não pensem que a diferença é coisa negativa. Quando vista do ângulo certo, a diferença é ótima, excecional, a diferença é particular.

A todos os problemas o estranho, oops, desculpem, a estranha, respondia com um sorriso. A todas as adversidades apresentava um rosto alegre e bem-disposto.

Não conseguindo encaixar-se no mundo a que tinha chegado, não desmotivou, resistiu. Apesar de todas as diferenças que lhe apontavam, como se de manchas se tratasse, a estranha resistiu. A todos os comentários negativos e olhares reprovadores a estranha resistiu. Resistiu a espaços exíguos. Resistiu a vértices afiados. Resistiu a ângulos agudos e muitas vezes obtusos, em que a exagerada retidão os tornavam quase nulos. Resistiu aos quadrados, incapazes de a aceitarem, por se acharem superiores, e aos diferentes inferiores. Resistiu aos losangos que se achavam alternativos aos quadrados mas igualmente o ícone da perfeição. Resistiu aos cubos, que não eram mais do que conjuntos de seis quadrados bem juntinhos, quase siameses. Resistiu às pirâmides tão imponentes na sua base e apontando sempre o céu com o seu vértice imaculado, bem lá no alto.

Mas a estranha a tudo resistiu, e todos os que com ela se cruzavam, se viram obrigados a aceitarem a sua presença, a observá-la, compreendê-la, a analisar a situação de um ângulo diferente, talvez um ângulo que até então não existisse. A observá-la do ângulo certo.

Com o tempo, todos se viram forçados a dar a outra face e a reconhecerem que apesar de diferente a sua presença podia ser uma brisa de ar fresco na exigente organização regulamentado de Polidron.

Todos se viram obrigados a reconhecer que, uma esfera em mundo de polígonos e poliedros, não é o fim do mundo.

Ilustração: Bárbara Correia da Silva 

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