Silly Season é uma expressão que designa uma certa forma de fazer politica e de produzir notícias no período de verão, em que parece que nada de realmente importante acontece. SillySeason é também o nome do grupo de actores Cátia Tomé, Ivo Saraiva e Silva e Ricardo Teixeira, que desde 2012 se tem revelado prolífico nas suas produções artísticas de carácter teatral, performativo e transdisciplinar. O grupo abre, no dia 2 de junho, os Festivais Gil Vicente, regressados depois de uma paragem forçada pela pandemia, em 2020.

Fora de Campo é o último espetáculo que o grupo traz a Guimarães. Nesta produção, o núcleo de atores de SillySeason conta com a participação de Ana Moreira, Érica Rodrigues, Sérgio de Brito e Vítor Silva Costa. A proposta artística é um regresso dos SillySeason ao clássico A Casa de Bonecas de Henrik Ibsen, depois de terem desenvolvido DOOLS, um trabalho para o ecrã apresentado na RTP (Janeiro 2020).

Fora de Campo discursa sobre a ascensão e libertação da condição da mulher, sobre a concretização de sonhos, a evidenciação dos problemas de subjugação.

O trabalho parte de um clássico, mas resignifica-o. Acaba por ser o teatro a falar sobre ele próprio, fala sobre a condição do ator e sobre o papel das artes.

Neste espetáculo, o público é colocado perante o dilema de seguir a ação que se desenrola no palco ou a transmissão feita no ecrã colocado à boca de cena. Este ecrã transmite a peça, em direto. A invasão da equipa técnica poderia distrair ou atrapalhar, mas em vez disso é quase invisível e passa entre cenas, na captação dos atores, sem que o espectador dê demasiado por isso.

Para os SillySeason, os clássicos são inspiração, mas não existe uma real pretensão em encená-los – o objetivo é desconstruí-los para os reverter na sua própria linguagem. A utilização do ecrã permite ao público perceber os preciosismos, o rigor e as subtilezas do olhar de cada actor, dá lugar de privilégio à matéria humana do acontecimento e, por isto, assumir o enquadramento televisivo apenas como mera manipulação é redutor.

Só por meio da imagem enquadrada, recortada, aumentada ao pormenor o público se dá conta de tensões, tenuidades e olhares que escapam à linguagem teatral. Se a realidade é reduzida, a capacidade dramática dos atores é aumentada, acresce-lhes qualidades que escapam ao olho nu, no palco. 

Fora de Campo abre os Festivais Gil Vicente, no dia 2 de junho, às 19h30, no Grande Auditório de Centro Cultural Vila Flor.