Silvério Alves: “Podem esperar dedicação, empenho e honra pelo símbolo”
Na última época, o polo aquático do Vitória Sport Clube escreveu uma das páginas mais brilhantes da história recente das modalidades vimaranenses, conquistando campeonato, Taça de Portugal e Supertaça. O feito, inédito para a secção, foi o ponto de partida para uma entrevista exclusiva do Mais Guimarães ao Vice-Presidente responsável pelas modalidades, que falou com orgulho sobre o caminho sustentado que levou ao sucesso, mas também sobre os desafios que persistem, desde a falta de infraestruturas adequadas à quebra nas assistências nas modalidades de pavilhão.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães
Com números impressionantes de praticantes, entre 1.800 e 2.000 atletas nas várias modalidades e secções, uma ligação próxima ao futebol e uma clara visão para o futuro, o dirigente garante que o Vitória está pronto para continuar a lutar, dentro e fora de campo, para honrar o símbolo que carrega ao peito.
O dirigente não escondeu o orgulho por este percurso: “É um grande orgulho estar à frente do departamento das modalidades e ter os sucessos todos que temos tido, a nível geral, e em especial no polo aquático. É um exemplo daquilo que deve ser a constituição de uma modalidade num clube.”
Recorda que a secção nasceu em 2003, subiu à primeira divisão em 2007 e, apenas dez anos depois, já era campeã nacional: “Isto é rápido, mas foi feito de forma muito sustentada, o que é de louvar.”

© Vitória SC
O crescimento foi acompanhado de uma cultura de ambição. “Desde 2017 criámos expectativas para os anos seguintes e o Vitória tem estado sempre na luta pelos troféus. No último ano ganhámos tudo o que havia para ganhar. Foi, evidentemente, uma época de sucesso, que dá muito gozo, mas também dá muito trabalho”, destacou, elogiando a estrutura da secção. “Temos gente muito responsável à frente da modalidade e uma equipa técnica de grande valor. O nosso treinador tem também responsabilidades nas seleções nacionais, e isso diz muito sobre a qualidade do trabalho feito aqui.”
Questionado sobre como se mantém a motivação depois de ganhar tudo, o dirigente foi claro: “É evidente que queremos ser mais competitivos nas competições europeias. Mas temos de ter noção de que, internacionalmente, joga-se com outras armas. Não temos orçamento sequer para entrar na Liga dos Campeões. Vamos, aprendemos, ganhamos experiência, e isso dá-nos força para as competições nacionais. Mas é muito difícil bater de frente com equipas que têm orçamentos e valores individuais muito superiores. Fazemos o que nos compete, com garra e espírito de equipa.”
As conquistas tornam-se ainda mais relevantes quando se conhecem as dificuldades enfrentadas no dia a dia. A equipa não tem piscina própria e treina em instalações externas, com horários longe do ideal. “Os jogadores estão limitados, tanto a nível da formação como da equipa sénior, a um horário que não é o melhor. Esta resiliência e dedicação dos atletas vê-se depois dentro de campo. Mesmo com condições menos favoráveis, conseguimos grandes resultados”, afirmou.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães
O polo aquático feminino é outro sonho ainda por concretizar. “Seria algo que nos encheria de orgulho, conseguir abranger o masculino e o feminino. Mas, no momento, e a curto prazo, é impossível. Em Guimarães não temos estruturas que nos garantam treinos em horários adequados. As crianças têm vida escolar e precisam de descansar. Espero que no futuro possamos ter uma estrutura que nos permita avançar.”
O problema das infraestruturas vai para além do polo aquático. A natação também sofre com a falta de piscinas. “Temos atletas olímpicos que chegam a treinar fora, na Póvoa de Varzim, por exemplo. O Miguel Oliveira, juvenil, está esta semana nos Mundiais de Juniores, sendo o primeiro português a fazê-lo. Tudo isto deveria fazer-nos pensar que Guimarães precisa urgentemente de mais uma piscina. Sei que a Câmara Municipal está atenta, mas também sei que há limitações financeiras.”
Apesar dos obstáculos, o planeamento para a nova época mantém-se exigente. “Está a ser preparada exatamente como todas as outras: com rigor. Temos tido cuidado nas contratações e no planeamento. O polo aquático cumpre os orçamentos combinados entre o clube e a secção e tem resultados muito bons. É uma modalidade completamente sustentável”, garantiu.
Sobre a possibilidade de novas parcerias, como a que foi feita em diversas modalidades, como o andebol ou o xadrez, o dirigente não fecha a porta, mas é cauteloso: “O Vitória não está fechado dentro de muralhas, é o clube da cidade. Estas parcerias têm sido benéficas para todas as partes. Mas neste momento não imagino abraçar mais modalidades. Não temos infraestruturas e temos de ser cuidadosos.”

© Vitória SC
O dirigente lamenta alguma quebra nas assistências às modalidades de pavilhão, mesmo com bons resultados no andebol, voleibol e basquetebol. “Tentámos criar condições para o público, na bilhética, com atividades antes e no intervalo dos jogos, mas houve quebra. As pessoas têm de se sentir envolvidas, não apenas quando a equipa luta para ser campeã. Com boas prestações e melhores condições, tivemos menos público. Este ano queremos inverter essa tendência.”
Quanto à relação com o futebol, não há dúvidas: “Não é inimigo. No Vitória, desde o futebol até ao xadrez, estamos todos de mãos dadas. Tivemos jogadores da equipa principal a assistir e a participar em eventos de outras modalidades. Queremos criar mais ligação, até para que todos conheçam as dificuldades e a realidade diária de cada secção.”
Para o futuro, o vice-presidente deixa uma promessa aos adeptos: “Podem esperar dedicação, empenho e honra pelo símbolo. Disse recentemente à equipa de andebol: só lhes peço que se divirtam em campo e honrem o símbolo que trazem ao peito. Não vamos ganhar todos os jogos, mas vamos ganhar mais do que perder. Temos bons atletas e boas equipas técnicas. O resto vem naturalmente.”
Assim, entre a glória recente e os desafios estruturais, o dirigente deixa claro que as modalidades do Vitória SC continuarão a lutar, dentro e fora de campo, para honrar a camisola e manter viva a chama desportiva na cidade-berço.
E entrevista pode ser lida aqui: https://maisguimaraes.pt/wp-content/uploads/2025/08/N148.pdf