(SUPER-)HERÓIS OU NEM TANTO

PAULO NOVAIS Professor de Sistemas na Universidade do Minho

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por PAULO NOVAIS
Professor de Sistemas na Universidade do Minho

Não há vencedores sem alguma sorte, mas ganhamos sobretudo porque fomos mais organizados e competentes, e trabalhamos mais do que os outros.

Vivemos tempos espantosos, um mundo em que a fabricação e a criação de heróis é instantânea e confecionada com muita ligeireza, em que a sua conceção é suportada por uma forte mediatização. Longe vão os tempos dos “grandes” heróis, heroicos pelas suas façanhas, valentia ou nobreza. Dos heróis a que nos reportam as grandes epopeias de Homero e Camões, dos grandes romances de Dumas e Verne, do cinema de Spielberg e Lucas, da banda desenhada de Hergé e Uderzo/Goscinny. É claro que estes eram heróis ficcionais mas representavam um ideal de superação e de uma distinção de carácter.

Mas de que “massa” é afinal feito um herói? Por definição é uma figura que tem poderes/aptidões superiores às forças ou às faculdades que normalmente caracterizam os humanos. Friedrich Nietzsche (século XX) referia que o que faz um herói é ir ao mesmo tempo para além da sua maior dor e da sua maior esperança.

A história está recheada de homens que foram além do expectável, que nunca se renderam nem desistiram e que ganharam esse lugar na nossa memória. Como os Heróis do Mar (Banda de Rock portuguesa) expressaram em a Brava Dança dos Heróis “Dos feitos a glória há de perdurar, mesmo se a morte nos apagar”.

Sim, (voltando aos nossos tempos) mas este tempo já não é de heróis mas de Super-heróis porque se não for super, não serve. Esta é a ideia de superioridade absoluta que necessitamos para completar as nossas vivências. São heróis com pés de barro porque limitados muitas vezes e que porventura passaram “antes” do tempo para a classe dos Super. Os heróis também se fazem de tempo, i.e., do efeito da passagem do tempo que nos faz realçar o que os distingue dos outros do seu tempo e esquecer a sua existência feita de defeitos e qualidades.

Elevamos, a figura merecedora de viver no Olímpo, todos os que ganham em nome de um país ou lugarejo uma qualquer competição. Desde que essa competição tenha (obviamente) existência nos media, sem visibilidade não existe, até porque como diria Pessoa (em outro contexto) “morrer é apenas não ser visto”. Os nossos novos heróis buscam esta visibilidade incessantemente, não importa o que fazem nem como o fazem. O fim (o estatuto) justifica os meios. São uma legião de “one man show” sem substância nem profundidade, que só o trabalho, a persistência e a resiliência podem conferir.

Uma recente vitória heroica fez exaltar e ressurgir a velha alma lusitana, a seleção nacional de futebol ganhou o Europeu, fomos (somos) os melhores! De facto, este foi um feito extraordinário, por ser inesperado (pelo menos para mim) e realizado em condições adversas. A seleção não era, segundo a opinião dos entendidos na matéria, nem a melhor de sempre, nem sequer a favorita, mas ganhamos. Porquê? Talvez porque (coisa rara), pusemos de lado as nossas vaidades e ambições pessoais e fomos UM. UM coletivo em que todos se preocuparam menos com os penteados de cada um (mesmo os mantendo), mas se sacrificaram, uniram, organizaram e trabalharam em volta de uma ideia, de um objetivo maior, de uma ambição. Um herói que se sacrifica em favor de um coletivo sobressaí sempre devido à sua qualidade e competências.

Foi sorte? Sim, talvez. Não há vencedores sem alguma sorte, mas ganhamos sobretudo porque fomos mais organizados e competentes, e trabalhamos mais do que os outros. Esta sempre foi a receita mais eficaz para criar heróis (sejam eles Super ou não) e transformar países.

Como diria Wolverine (personagem da saga X-Men) “Eu não finjo ser uma pessoa que não sou, apenas não faço coisas que me vou arrepender depois”. Porque afinal, heróis são todos aqueles, que na sua vida, lutam e nunca desistem por algo em que acreditam e que, como cantam os Scripts em Superheroes (2014) transformam as dificuldades e a dor em capacidade e força de superação.

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