Tempos cinzentos iluminados por boas notícias
Por Paulo Novais.

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Paulo Novais,
Professor de Inteligência ArtificialTempos em que os fins de semana são desfrutados em confinamento e com as evidentes restrições destes novos tempos, em que as festas e os ajuntamentos não são comportamentos aceitáveis nem saudáveis. Aproveita-se a “esplanada” do terraço de casa para sentir o sol e assim disfarçar os dias cinzentos em que vivemos.
Walter Benjamin (Filósofo, Séc. XX) referia, numa associação feliz entre o tédio e o seu efeito nos sonhos, que “o tédio é um tecido cinzento e quente, forrado por dentro com a seda das cores mais variadas e vibrantes. Nele nós nos enrolamos quando sonhamos“.
As crises, e as suas circunstâncias, são sempre momentos decisivos que podem causar decadência e retrocesso ou progresso e ascensão, tudo depende das nossas escolhas, em última instância da nossa vontade. Aliás, historicamente aprendeu-se mais em tempos de crise do que nos ditos de “normalidade”. John Lennon a esse respeito afirmava que o um dos seus maiores medos era o de ser normal! A normalidade é de facto um estado muito desinteressante, é uma regularidade que devemos por norma combater porque a ela se associa a estagnação, a qualidade/comportamento do que não sofre de perturbações. Quando o que desejamos é que a vida seja energia, liberdade, movimento, criação…
A verdade é que, sempre que surgem estes assaltos de falta de normalidade, emergem os Adamastores da desgraça e do negativismo que semeiam a descrença e a desconfiança em todos nós. Obviamente, que estes tempos de mudanças rápidas e profundas (e muitas vezes injustas) são complicados e nem sempre fáceis de explicar porque, também, ocorrem num período relativamente curto de tempo. O dia a dia torna-se num palco para múltiplas reações e efeitos dos que estão a apanhar o comboio dos novos tempos e de quem sente o tempo fugir!
“Não é possível segurar o vento com as mãos, pois ele sempre escapará por entre os dedos” e depois… Depois não há mais nada senão vento.
Bem, vamos ao futuro! Em poucas palavras, o futuro fala digital e será digital, ignorar este facto é e será trágico. Os indivíduos e as organizações, que melhor estão a responder a estes exigentes tempos, são os que têm competências e respostas digitais. Quanto mais digitalizados estão os seus comportamentos e processos, mais ágeis e resilientes estão para enfrentar as tormentas.
Reinventar o futuro tratando do presente é promover mudanças e políticas de transformação digital inclusivas e profundas, capazes de gerar impacto no presente e no futuro, respondendo às necessidades do imediato sem nunca perder o foco no dia de amanhã.
Iniciativas como o desenvolvimento de serviços associados a cidades inteligentes, com a digitalização de serviços municipais; o comércio de proximidade digital que aproxima e traz os negócios tradicionais ao mundo digital; uma academia digital que servirá de palco para o reskilling e upskilling de novas competências em públicos tantas vezes esquecidos; projetos colaborativos de transformação digital entre empresas de setores tradicionais; a instalação de um “supercomputador” e de Data Centers e a sede de um Laboratório Associado de Sistemas Inteligentes. Estas, entre outras, iniciativas são a certeza de que o futuro que tem pressa está no caminho certo.
Afinal nem tudo é cinzento, nem tudo está pior, as notícias associadas a um hipotético declínio da nossa Terra, que alguns apregoam, são manifestamente exageradas e infundadas. Ainda bem!
Parafraseando novamente Walter Benjamin numa adaptação livre, o que seria uma catástrofe é que as coisas continuassem como dantes.
Vamos pois iluminado estes tempos cinzentos com boas notícias!