Tiago Abreu: De Guimarães pelo mundo

Tiago Abreu contou a sua experiência de cinco meses pelos EUA, México e Colômbia. Embarcou na experiência da sua vida sozinho.

tiago vet fit com barra

Tiago Abreu acaba de regressar da melhor experiência da sua vida. Entre 5 de janeiro e 17 de maio percorreu, sozinho, os Estados Unidos, a Colômbia e o México. Ao longo de cinco meses colecionou momentos, paisagens, pessoas, mas, sobretudo, autodescobriu-se. Natural da freguesia de Guardizela, Guimarães, o jovem de 24 anos não hesitou em partir à descoberta e agora diz, com todas as certezas, que veio uma pessoa diferente. O futuro médico veterinário reuniu-se com a Mais Guimarães no Benedito Brunch para contar todas as aventuras.

© Direitos Reservados

Como é que começou o teu interesse pelas viagens?

Tudo começou no Instagram quando comecei a ver outras pessoas a conhecerem o mundo e a fazerem coisas que todos gostaríamos de fazer. O que eu sempre quis foi fazer uma coisa diferente. Eu não queria apanhar um avião, chegar anum hotel e ir visitar sítios. Sempre preferi viajar com uma mochila às costas.
Tudo começou no verão de 2020. Apercebi-me que seria possível fazer a Costa Vicentina a pé, desde Sines até Lagos. Desafiei uma amiga minha (mais maluca que eu) para fazermos esse roteiro, com uma mochila e tenda às costas, ficarmos a dormir na praia ou onde desse. Arrancamos em setembro e fizemos os 255 quilómetros em 12 dias. Foi esta primeira aventura que me projetou para no meio virtual e nas redes sociais. Na altura, foi algo que saiu fora do habitual. Tenho orgulho em dizer que durante quatro dias não tomei banho de água doce, só mesmo no mar. Toda a experiência está documentada nos destaques do meu Instagram para que possa ajudar as outras pessoas com dicas que nunca tive. Desde essa altura que tentei publicar o máximo de informação possível. Ninguém me paga para isso, mas sinto-me realizado a ajudar os outros.
Outra coisa que as pessoas gostam de saber e que quase nunca são partilhados: os preços. Houve dias na rota Vicentina que gastávamos 2 ou 3 euros. Por exemplo, nunca gastamos um cêntimo em água. Levamos uma garrafa e as pessoas ajudavam-nos a encher. Chegamos a montar a tenda em alguns jardins quando estava muito vento na praia.

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

E por essa altura o “bichinho” das viagens já estava instalado…

Antes de partir para fora do país, em 2021, ainda fiz um roteiro pelas ilhas, Corvo, Flores, Faial, Pico e Terceira, no âmbito do meu estágio de final de curso. Foi novamente uma viagem de mochila às costas, mas, pela primeira vez, sozinho.
Para quem também se quer desinibir para viajar sozinho (e recebo essa questão muitas vezes no meu Instagram, nomeadamente de raparigas), aconselho sempre a começarem pelo próprio país e por viagens pequenas. Só assim vão perceber se se identificam com o conceito de viajar sozinho porque nem toda a gente gosta. No meu caso, depois de começar, sei que quero sempre viajar sozinho.
Despois de explorarmos o nosso país, o mais fácil é dar um salto a um país da Europa e só depois ir para fora. Como já tinha o meu estágio de dois meses marcado para os Estados Unidos, na Califórnia e Wisconsin, decidi que depois de o acabar precisava de um tempo para mim antes de voltar à minha rotina, de escrever a minha tese e começar a trabalhar.

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E porque decidiste escolher estes destinos?

Quis sentir adrenalina e sinto que preciso de aventura na minha vida. Na altura, estando nos Estados Unidos, já tinha programado conhecer também São Francisco, Los Angeles, Las Vegas e Chicago. Daí viajei também para Nova Iorque e tinha previsto seguir para o México. Foi um país que sempre tive curiosidade em conhecer porque adoro a comida mexicana e já conhecia um pouco da cultura. É um povo muito hospitaleiro e que, apesar de não ter muito, dá tudo o que tem.
A esta altura surge um contratempo. Estava no aeroporto de Nova Iorque prestes a embarcar, com o meu voo de ida para o México, quando me disseram que tinha de apresentar um voo de saída do país porque só tinha dois dias e meio até o meu visto ESTA caducar. Acontece que o meu voo de saída do México estava agendado para quatro semanas depois.
A minha primeira reação foi abrir o Google Flights e reservar um voo de Cancun para a Colômbia, que era um dos destinos mais baratos. Eu não escolhi a Colômbia, escolheram por mim. Eu dava zero pela Colômbia. Estive cerca de um dia e meio a preparar-me porque não sabia nada sobre o país. Aquilo que pensei foi “só quero que a Colômbia acabe porque eu quero é conhecer o México”. Neste momento, é o mau país preferido.

O que é que te apaixonou tanto na Colômbia?

O turismo na Colômbia ainda está a ser descoberto. É um país muito pobre, mas que tem muito para oferecer. Tudo é barato. Aliás, gastei metade do preço do que no México.
Porém, ao entrar lá, temos de ter a noção que é um país em que a droga está muito presente. É um país que sofreu muito de narcotráfico. Há, aliás, uma história que nunca cheguei a partilhar nas minhas redes sociais porque não quis preocupar aqueles que me são mais próximos. Como estava numa viagem cujo propósito era descobrir-me, acabava por não falar todos os dias com os meus familiares e amigos. Se partilhasse alguma coisa que tivesse corrido menos bem iria preocupá-los.

Que história é essa que nunca chegaste a partilhar?

Deixei a minha mala maior em Cancun e fui para a Colômbia com uma mochila às costas apenas. Assim que saí do aeroporto, apanhei um táxi. Tinha lido na Internet que a viagem até ao centro da cidade Cartagena das Índias ficaria por cerca de 15 mil a 20 mil pesos colombianos, ou seja, entre 3,50 a 5 euros.
No início da viagem, o taxista avisou-me que ficaria por 20 mil pesos colombianos. Na viagem, que demorou cerca de 8 minutos, perguntou-me se queria comprar cocaína ou marijuana. Fiquei surpreendido porque estava há menos de meia hora na Colômbia. Respondi-lhe que não consumia droga e o que eles respondem de imediato é “se estás nas Colômbia tens de, pelo menos, experimentar”. Quando chegamos ao hostel o taxista diz-me que o valor a pagar seriam 50 mil pesos, mais do dobro do preço inicial. Apesar de o ter confrontado com isso, a única opção foi pagar. Fiquei a pensar o que ele poderia ter mais no carro, além da droga, e não iria pôr a minha segurança em causa por 12,50 euros.

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

Acaba por ser um grande choque cultural?

Sim. Não houve um dia na Colômbia em que não me perguntassem se queria droga na rua. No meu segundo ou terceiro dia mentalizei-me que isso era o normal deles. Eu é que tinha de me adaptar porque queria entrar na cultura deles.
É um país mesmo muito pobre, onde vemos coisas que só vemos nos filmes, tal como crianças nuas a correr descalças na rua. São tão felizes com tão pouco. Sabendo que nós temos tanto, comparado com a realidade deles, dava-te uma especial vontade de ajudar?

Tudo o que ajudei foi com comida. Eu comprava muitas bolachas e chegava sempre ao final do dia sem elas porque encontrava alguém para as dar. Já tinha lido muito sobre não dar dinheiro a crianças porque isso só vai aumentar a exploração infantil.

É completamente o oposto dos Estados Unidos, onde há poucos dias tinhas estado… Gasta-se mesmo muito dinheiro nos Estados Unidos, mesmo que se tente poupar. É um país muito rico. A Colômbia é exatamente o contrário. Eu tinha um budget para conseguir viajar o máximo possível, que era de 25 euros por dia. Nos EUA não conseguir cumprir, na Colômbia sim. As diárias nos restaurantes locais rondavam os 2,70 euros, equivalente a 10 mil pesos. Havia dias que conseguia gastar menos de 20 mil pesos.

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

Qual o momento que nunca te vais esquecer na Colômbia?

Sem dúvida a visita ao Parque Nacional Natural de Tayrona. É semelhante ao nosso Gerês, mas na praia. Foi a primeira vez que vi macacos ao ar livre. Andamos debaixo de lianas e os macacos saltam por cima de nós. É um momento que imortalizo porque, sendo quase veterinário, os animais mexem comigo. Contactei com espécies que nunca tinha visto antes.
Por exemplo, no México toquei numa tartaruga marinha porque não sabia se teria oportunidade de o fazer no futuro. Era um santuário de tartarugas que não podiam ser devolvidas à natureza.
Na Colômbia, vi também muita coisa que não me agradou. Recusei-me a tirar fotografias com macacos presos e crocodilos bebés. É uma forma de ganharem dinheiro, mas não posso corroborar com a exploração animal.
Aconselho sempre a que reservem dois ou três dias para visitarem o Parque de Tayrona porque vale realmente a pena. Por 9 euros fiquei, inclusive, a dormir numa cama de rede no parque.
Nesse sítio cheguei a fazer um vídeo onde desabafei que estava mesmo muito feliz. Era a minha primeira semana lá e senti, realmente, que tinha descoberto outro Tiago ali. Eu estava a gostar de estar sozinho. Nestes cinco meses conheci mais de 100 pessoas. Contactei com pessoas de todo o mundo. Apesar de valorizar muito esse contacto, havia momentos em que precisava de estar sozinho e de me autodescobrir.

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De que forma é que esta experiência te enriqueceu a nível de desenvolvimento pessoal?

Vim um Tiago diferente. A pensar de outra maneira. Eu consegui realizar-me com o pouco que tinha porque não é o que as pessoas pensam, que eu sou rico. Não, eu poupei. Sempre tentei com o mínimo possível fazer o máximo. Eu vim com um sentido de realização, porque não há muita gente com 24 anos a fazer isto.
No México, em Tulúm, descobri a minha espiritualidade. Eu não acreditava em nada disso. É toda uma vibe diferente: yoga, incensos, meditação. Eu podia ter ido sair na noite anterior, mas às 8h00 estava acordado para ir fazer yoga e meditação.
Há coisas que antes me enervavam e agora penso que vai ficar tudo bem e que tudo há de se resolver.
Por exemplo, à chegada a companhia aérea perdeu a minha mala nos Estados Unidos. Durante três dias estive sem nada. Na altura, só me faltava chorar porque eu estava mal, estava pálido e a suar. Ao voltar para cá, a 17 de maio, a companhia aérea voltou a perder a minha mala em Bruxelas. Lidei com isso de forma totalmente diferente.
Ao desenvolver a minha espiritualidade encontrei uma pessoa que não sabia que existia.
Adoro que me venham perguntar como é que foi esta aventura, que histórias tenho para contar. Da forma que eu partilhei as coisas, se houver pelo menos uma pessoa que se inspire, eu já fico realizado.
Uma das coisas que eu queria mostrar é que é possível uma pessoa que está a estudar, que tem pouco dinheiro, arranjar um trabalho algumas horas por semana e fazer algo deste género. Eu quis mostrar que há budget para tudo.

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

Se não tivesses partilhado esses detalhes, muitos pensariam que se tratou de uma viagem milionária…

Sempre quis assumir esse papel de partilhar os preços de tudo. Por exemplo, tentava frequentar restaurantes onde havia muitos locais porque já sabia que a comida ia ser boa e a um preço acessível, até porque eles próprios não podem pagar muito porque os salários são baixos. Na Colômbia, uma diária variava entre os dois e os três euros.
No que toca a dormidas, tentava sempre reservar com pequeno almoço. Uma noite na Colômbia ficava por menos 10 euros por noite, enquanto que Estados Unidos ficava por 30 euros. Foi a mais barata que consegui encontrar. No México cheguei a pagar 17 euros por noite, em Tulum.
Tive o apoio dos meus pais no sentido em que me ofereceram o estágio de final de curso, que ocupou dois desses cinco meses de viagem. Sabia que ia ser bom para mim e para conseguir um bom currículo. Tendo em conta que as viagens rondam os 800 a 1000 euros, de ida e volta para Portuga, decidi aproveitar que já lá estava e fazer algo por mim. Orgulho-me muito disso porque muitas pessoas não têm o suporte emocional familiar que eu tive para embarcar nesta experiência. De resto, comecei a juntar dinheiro desde muito cedo, das prendas que ia recebendo nas épocas festivas, e também de todos os trabalhos que fui tendo até agora.

Qual foi o momento da viagem em que te sentiste mais inseguro?

Além da história do táxi, há outra que posso destacar. Quando fui para os Estados Unidos, estava a usar um cartão Revolut, que funciona em todo o mundo. Quando lá cheguei, percebi que o cartão ia expirar dentro de 13 dias. Como tinha uma viagem longa pela frente, fiz um cartão lá, então esse cartão ficou como sendo americano. Quando saí dos Estados Unidos, tentava levantar dinheiro, mas sem sucesso. Aparentemente o cartão funcionava, mas não conseguia levantar dinheiro. Contactei o apoio ao cliente e percebi que tinha uma opção ativada de segurança que só permitia levantar dinheiro no país de origem. Foi uma situação mais aflitiva, mas que foi rapidamente foi resolvida.

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Como é que depois de se conhecer tantos sítios, tantas culturas e realidades distintas, se cabe outra vez num sítio tão pequeno?

Para já, queria ver os meus amigos e a minha família. A verdade é que por cá está tudo igual. Foram muito bons estes cinco meses, mas já estava a precisar de voltar. Vim com outra mentalidade. Agora, começo a perceber que pertenço aqui “um tempinho”, mas já não pertenço aqui na totalidade. Acho que preciso de mais do que este meio tão pequeno. Eu passei por sítios muito mais pobres do que aqui e onde tinha muito menos condições. Isso nunca me importou porque foi a experiência da minha vida.
Um dos meus objetivos é trabalhar fora de Portugal. Pode não ser para sempre, mas pelo menos ter uma experiência de trabalho no estrangeiro. Agora acho que é a altura ideal para isso e estou na idade certa para me descobrir. A minha família esta bem de saúde e se calhar a pessoa que mais me custa deixar é a minha avó. Aliás, foi a primeira pessoa que eu abracei quando voltei. Ela disse-me o quanto chorou enquanto estive fora e, claro, isso comove-me.

Achas que aqueles que te rodeiam compreendem bem esse teu sentimento?

A minha mãe nunca me disse “volta” ou “já chega”. Todos eles compreendem que eu preciso disto para ter vida, para ter adrenalina de viver. Faz parte de mim. Acho que tenho alguma coisa diferente que faz com que não me consiga limitar a uma linha de vida que toda a gente faz: acabar o curso, arranjar trabalho e ir de férias uma semana ou duas por ano. Eu sei que isso pode acabar por acontecer, mas, pelo menos, já tive oportunidade de fazer diferente.

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Ao longo destes cinco meses a tua comunidade no Instagram cresceu bastante. O que se segue?

Tudo começou quando mudei o meu nome no Instagram de @tiagoabreu98 passei para @tiagovetfit. Houve ali um momento na universidade em que decidi fazer essa mudança. Eu queria mostrar era possível estudar, ter uma carga horária pesada como o meu curso de Medicina Veterinária exigia, e manter-se fisicamente ativo e com uma boa saúde mental. Eu queria mostrar que, no meu caso, o exercício físico me ajudava conseguir isso. Daí o “vet” de veterinária e o “fit” é alusivo à vida fisicamente ativa e um corpo bem cuidado. A verdade é que o nome acabou por entranhar-se bastante e as pessoas já me chamam por “vetfit” ou “tiagovetfit”.
Nessa altura comecei a criar uma comunidade mais na área da veterinária. Mais tarde, foi a aventura da Rota Vicentina que me projetou para uma comunidade mais ligada às viagens. Quando se publica algo e as pessoas respondem positivamente e demostram apoio, ganha-se o dobro da força.
As pessoas elogiam o meu à vontade nas redes sociais e eu divirto-me imenso. Na minha viagem, quando me sentia sozinho, falava muito mais para os instastories. Apesar de alguns poderem achar chato, houve muitas pessoas que se identificaram e gostaram desse conteúdo.
Muitas pessoas partilharam o meu perfil e as minhas publicações porque gostaram daquilo que eu estava a fazer. Quando fui para os Estados Unidos estava com pouco mais de 5 mil e tal seguidores e agora já estou quase nos 7500. Durante todo este tempo, sempre respondi a todas as mensagens e sempre aconselhei as pessoas o mais possível.

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Depois desta experiência, quem é agora o “tiagovetfit”?

Bem, admito que não estava nada preparado para esta. (risos) É sem dúvida a pergunta mais difícil de responder. Posso dizer que o “tiagovetfit” é uma pessoa que vem realizada e orgulhosa. Estou pronto para abraçar novos desafios. Vim com muito mais paciência para ajudar outras pessoas, para ouvi-las e para as incentivar. Quando outras me pessoas me incentivavam, me davam aquele “power”, me diziam que eu ia conseguir e que ia ser bem-sucedido, davam-se o triplo da força. Com o pouco que tinha, consegui realizar um sonho. Foi a melhor experiência da minha vida até agora.

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