Torcato Ribeiro: “Não é Abril que pode ser responsabilizado pelos problemas que o povo enfrenta”

O deputado municipal eleito pela CDU (PCP-PEV) interveio na sessão solene da Assembleia Municipal de Guimarães, comemorativa dos 50 anos do 25 de abril de 1974.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

Leia o discurso na íntegra:

Foi no dia 25 de Abril de 1974 que o Povo Português emergiu de um dos mais negros períodos da sua História imposto por uma criminosa ditadura fascista marcado pela repressão e violência brutais,pelas prisões, liberdades individuais e colectivas juguladas, pelo atraso económico, social, cultural e civilizacional, pelo analfabetismo, pela emigração em massa, agravadas desigualdades sociais, a discriminação legal das mulheres, pela guerra, pela alta corrupção e pelo isolamento internacional, em contraste com a fortuna e opulência de uma pequena minoria.

Ao comemorarmos a Revolução do 25 de Abril, não esquecemos o acto generoso e valoroso dos capitães de Abril que, nessa inolvidável madrugada abriu as portas à liberdade e à democracia e que aqui hoje renovamos o nosso apreço e gratidão.

Celebramos o esforço heróico da Resistência antifascista, a abnegada dedicação à luta pela democracia e liberdade de comunistas e de outros democratas, a intensa luta de massas dos trabalhadores, dos intelectuais, da juventude, e do povo.

Celebramos o amplo e vigoroso levantamento popular que irrompeu nessa manhã de Abril, que transformou o levantamento militar libertador do MFA em Revolução.

Numa verdadeira revolução emancipadora, assumida pelo povo, pela classe operária, pelos trabalhadores, pelos intelectuais, por amplas camadas anti-monopolistas da cidade e dos campos, que com a sua acção conduziram a profundas transformações económicas, sociais, políticas e civilizacionais que se traduziram em grandes conquistas dos trabalhadores e do povo.

Para a juventude de então, a revolução de Abril significou o fim da guerra que tantas vidas inocentes ceifou, e para os jovens de hoje que o celebram Abril é a garantia que não faltarão braços para lutar pelo cumprimento do seu projeto revolucionário nas nossas vidas. O direito a sermos felizes no nosso país

As conquistas de Abril, algumas das quais foram destruídas ou amputadas, outras permanecem graças à acção e determinação dos trabalhadores e do povo que as tem defendido numa prolongada luta de anos, enfrentando poderosos interesses, incluindo dos que nunca se conformaram com o novo tempo emancipador e libertador de Abril são essenciais para a vida do povo nos nossos dias e ponto de partida para novos avanços e, por isso, as continuamos a defender traçando armas contra os que querem levar mais longe a sua destruição, mas também contra a mentira, contra a falsidade de uma reescrita da história que desvaloriza Abril e os seus construtores e contra todos aqueles que querem enclausurar Abril e os seus nobres valores no baú do esquecimento.

Esses valores da liberdade que são de Abril, pertença do povo e do indivíduo. Os valores da emancipação social. Os valores da natureza do Estado concebido para responder aos interesses e necessidades do povo e do país, em oposição à concepção do Estado como instrumento de exploração a favor de uma minoria de grupos económicos, para pela coerção perpetuar a exploração.

Os valores do desenvolvimento visando a melhoria da qualidade do nível de vida dos portugueses, o pleno emprego, uma justa e equilibrada repartição da riqueza nacional.
Os valores da paz, da independência como espaço da nossa liberdade, identidade e soberania.

Valores que emanam das suas grandes conquistas e realizações que são também valores da participação e intervenção de todo um povo na definição e no traçar do seu futuro. Valores que são património, realização e inspiração para a acção dos que justamente aspiram a uma vida melhor numa sociedade mais justa.

Valores que se reconhecem na Constituição da República Portuguesa, aprovada a 2 de Abril de 1976 e na democracia que ela projecta onde são inseparáveis e complementares as dimensões política, económica, social e cultural para uma democracia avançada e consistente.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

No trajecto das cinco décadas que nos separam do período revolucionário, os inimigos de Abril, ligados aos grandes interesses económicos, e os que ao contrário do que proclamavam nunca assumiram efectivamente o seu projecto libertador e emancipador, construíram e montaram em função da conjuntura as mais insidiosas operações para cobrir os seus objectivos de mutilação e subversão das suas conquistas.

Na suas operações contra Abril estão as recorrentes tentativas de secundarizar e diminuir o 25 de Abril como a data inicial, fundadora do regime democrático.
Não é Abril que pode ser responsabilizado pelas dificuldades existentes e pelos problemas que o povo enfrenta, mas sim quem governou ao arrepio dos seus valores, destruindo conquistas, fechando muitas portas que Abril abriu – as portas do desenvolvimento e do progresso com justiça social.

De facto, as políticas de direita desenvolvidas ora pelo PSD, ora pelo PS, e que hoje conta no que é essencial para a defesa dos interesses do grande capital monopolista com IL e Chega, tem sido uma política com consequências negativas na vida da maioria do povo português.

Consequências bem expressas em problemas que se prolongam no tempo e hoje subsistem: baixos salários e baixas reformas, empobrecimento de largas camadas da população, precariedade laboral, exploração e desigualdades sociais; graves défices estruturais, com relevo para o produtivo; deterioração e destruição das funções sociais do Estado, nomeadamente na saúde; submissão às grandes potências e aos seus interesses, e o alto grau de dependência do País.

Hoje, a campanha de depreciação de Abril aproveita este tempo do cinquentenário, não só para repisar as linhas contra Abril que vêm do passado, mas para ir mais longe na sua desvalorização como projecto capaz de dar vida ao presente e arquitectar e construir o futuro.

Falam-nos neste tempo de comemoração da necessidade de abrir um novo ciclo, com novas ambições, dando como findo o ciclo de Abril. Querem fazer crer que Abril é coisa do passado, para o colocar imóvel num canto da História. Falam de fim de ciclo, como se esses que assim falam, não tivessem há muito tomado para si esse objectivo, quando participaram e agiram reiteradamente no decapitar das ambições progressistas de Abril e a sua capacidade criadora de um futuro promissor, que a sua Constituição consagra e expressa.

Os que assim falam, o que objectivamente visam é absolver uma desastrosa política que se afirmou contra Abril, fazer tábua rasa de anos de políticas de direita, executada ao arrepio de Abril e dos seus valores e dá-lo como definitivamente derrotado, como sempre foi o seu desejo.

Ao contrário do que pretendem, o que se impõe neste tempo de comemoração é a imperiosa necessidade de por fim ao ciclo da ofensiva contra Abril, para dar resposta, isso sim, com outra ambição aos problemas do povo e do País.

A grande força de Abril com fortes raízes no povo português não deixará passar a arrogância dos apologistas do passado, e estará na rua por todo o País a reafirmar que Abril vive e viverá. A afirmar que “Abril é Mais futuro”.

Estará por todo o País a assinalar o seu sentido transformador e revolucionário nos mais diversos domínios da nossa vida colectiva!

Estará por todo o País a confirmar o seu apego aos ideais de liberdade, justiça, progresso social, soberania nacional e paz que permanecem vivos na memória e na vontade dos portugueses;

É tomando parte nesse combate, como Partido de Abril que somos, que continuamos empenhados!

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