ULS Alto Ave paga meio milhão de euros para ser afiliada de programa de formação

Foi anunciado que a unidade vimaranense tinha sido “escolhida”, mas na verdade trata-se de uma aquisição de serviços.

© Mais Guimarães

A ULS Alto Ave contratou com o Centre for Medical Simulation (CMS – Centro de Simulação Médica), sediado em Boston, no Estado do Massachusetts, nos EUA, uma prestação de serviços para “melhorar a cultura dos cuidados de saúde, segurança dos pacientes e a qualidade da formação”. O contrato começou em setembro, tem uma duração de três anos e vai custar à ULS Alto Ave, meio milhão de euros. Em agosto deste ano, o programa foi amplamente divulgado por vários órgãos de comunicação social nacionais e locais. Na altura, foi anunciado que a ULS Alto Ave havia sido “escolhida” pela Universidade de Harvard para se tornar afiliada, sem nenhuma referência aos custos de aquisição.

O contrato de prestação de serviços tem uma duração de três anos, começou em setembro deste ano e prolonga-se até 31 de agosto de 2027. A ULS Alto Ave vai pagar 525 mil dólares (500 mil euros), em 12 prestações trimestrais de pouco mais de 40 mil euros. A primeira prestação, no valor de 40 351 euros, foi paga no dia 30 de novembro.

O contrato de prestação de serviços prevê a implementação, na ULS Alto Ave, do “Applied Learning for Performance and Safety”. Segundo se lê na página do CMS, este programa “transforma a cultura dos cuidados de saúde e o desempenho (performance) criando e fazendo crescer um ecossistema de conhecimento aplicado no cuidado dos utentes”, numa tradução livre.

As mesmas notícias em que se dizia que a ULS Alto Ave tinha sido “escolhida”, citavam o presidente do Conselho de Administração, Pedro Cunha, a referir que a instituição só aceitava um hospital por país. Na página do CMU, além da ULS Alto Ave, surgem como afiliados um centro universitário brasileiro (IMEPAC), uma rede de universidades públicas do Estado do Maine, nos EUA, e uma rede de hospitais no noroeste dos EUA (Multicare).

© Eliseu Sampaio/ Mais Guimarães

Alguns profissionais de saúde que trabalham na ULS Alto Ave e que falaram com o MG, embora não se queiram identificar com medo de represálias, dizem que a utilidade desta ferramenta num hospital que não é universitário é “altamente questionável”. Além disso, refere um médico, “não se trata de um programa de simulação como aquele que está a ser implementado nos hospitais do Porto, em que os profissionais podem treinar procedimentos em pacientes virtuais”.

“Com tantas necessidades básicas por satisfazer é de perguntar se isto era uma prioridade”

“Este é apenas um programa de formação ‘on the job’, interessante mas limitado”, acrescenta este médico. “Com tantas necessidades básicas por satisfazer é de perguntar se isto era uma prioridade”, comenta uma enfermeira com mais de 20 anos de serviço. “Recentemente, foi inaugurada uma Unidade Avançada de Reabilitação, em Celorico de Basto, equipada com camas em segunda mão, completamente desadequadas, nem grades de proteção lateral têm e são muito altas”, aponta a mesma enfermeira.

O MG questionou várias vezes a ULS Alto Ave e o Ministério da Saúde sobre os valores que iria pagar por esta afiliação ao CMS, a forma como o pagamento seria feito e a origem dos fundos para financiar o investimento. O MG pretendia também saber se o Ministério da Saúde foi informado, se deu o seu acordo a este contrato e se, face aos constrangimentos financeiros com que vive o SNS, este era um investimento prioritário. O Ministério da Saúde remeteu a resposta às questões para o Conselho de Administração da ULS Alto Ave e este nunca atendeu os pedidos de esclarecimento.

Pelo Jornalista Rui Dias.

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