Um novo normal? Não, só mais um amanhã…

Por Rui Armindo Freitas.

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por Rui Armindo Freitas
Economista e Gestor de Empresas

A expressão “um novo normal” tem ganho por estes dias, uma dimensão incontestável. Qualquer opinion maker dos areópagos contemporâneos, redes sociais, a carrega na boca, como se tratasse de algo novo… Mas será assim? Tenho para mim, que nós somos o somatório das nossas vivências, socialmente em constante mutação, e acordamos todos os dias com o acumular do dia anterior, logo diferentes. Por isso esta dura crise sanitária, já em curso, e económica ,ainda longe da sua velocidade cruzeiro, está a ensinar-nos uma nova forma de vida, diferente daquela que vimos construindo ao longo das últimas décadas. Assim, a economia é um fenómeno que é impossível de pôr em “pausa” como se de uma qualquer série numa plataforma de streaming, essas sim em crescimento galopante. Por novo normal, o que deveremos esperar é uma realidade que deverá transportar toda a experiência sanitária, social e económica que decorrerá da crise mais grave que a nossa sociedade tem memória. Desde logo porque obviamente, nunca nada será como dantes. Nós, como agentes sociais, nunca mais seremos iguais, consequentemente a realidade da qual fazemos parte irá reflectir-nos. Começando por estarmos a descobrir que afinal, aqueles que tratam de nós, têm um papel mais importante na sociedade do que aquele que lhes havia sido dado até agora. Ficou claro até para os mais temerários que sem saúde não há economia. Assistimos ao advento do teletrabalho, percebemos que há tarefas que podem ser desempenhadas com maior produtividade a partir de casa, desde que os infantários e escolas estejam abertos… Iremos descobrir seguramente que uma economia confinada é menos criativa, desde logo porque não existe a tão importante parte da socialização. Quantas revoluções começaram em tertúlias e em cafés, quantas inovações surgiram da troca de ideias em contexto de socialização entre colegas. E desengane-se quem pensa que pelo ZOOM se consegue liderar. Verificar que o trabalho de um colaborador está feito é possível, mas ajudar um colega com menos experiência a evoluir e criar laços profissionais, já parece tarefa impossível. Porque desengane-se também quem pensa que o confinamento traz apenas a quebra de algo supérfluo que é a nossa vida para além do trabalho, porque a nossa vida para além do trabalho é que é o nosso verdadeiro móbil de vida. E ainda sem considerar que o turismo de lazer pesa 4% do PIB da União Europeia… E que todos teremos relutância em fruir e usufruir de todos os locais e profissões que operem a menos de um braço de distância, para além de bares e restaurantes como…fisioterapeutas, dentistas, cabeleireiros, ginásios… Não por imposição, mas por mudança nas preferências de todos nós. Um estudo divulgado esta semana, estima que nos EUA 10% do mercado de trabalho deixará de existir por operar nas condições que descrevi acima. Ou seja, no final de tudo isto, todos seremos diferentes. Nem melhores, nem piores, diferentes. Os que como eu, prezavam a liberdade individual, que se encaixava numa sociedade de troca de experiências, mas e sobretudo no sul da Europa, de afectos, não escondo alguma preocupação pelo que por aí vem, na certeza porém que a capacidade de adaptação do ser humano conhece poucas limitações e cá estaremos para seguir em frente, sempre fiéis aos valores da sociedade ocidental.

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