Um país de emigrantes a precisar de imigrantes

Por José João Torrinha.

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Por José João Torrinha, Advogado e Presidente da Assembleia Municipal de Guimarães A notícia foi publicada no New York Times: um professor de Yale apresentou algumas ideias para lidar com o progressivo envelhecimento da sociedade japonesa, país de onde é natural. Que ideias são essas? Digamos que passam pelo suicídio em massa dos mais velhos. Sim, leram bem. Eu vou repetir devagarinho: suicídio. Em massa. Dos mais velhos.

A notícia provoca várias perplexidades e confesso que a inqualificável ideia do académico é apenas a que vem em terceiro lugar. Nos dias de hoje, quem navega nas redes sociais, pode facilmente ver-se rodeado de chalupas para todos os gostos: dos que garantem que a terra é plana, até aos anti vacinas, passando por gente que defende as ideias mais aberrantes. Já estamos habituados.

Mas que um professor de uma prestigiada universidade americana publicamente defenda uma coisa destas é outro campeonato. E que haja um jornal de referência que decida dar-lhe plataforma é capaz de já ser um bocadinho de mais.

Claro está que a questão abordada pelo Professor Narita é real e já foi profusamente discutida, também em Portugal e até em termos de extremo mau gosto. Lembremo-nos de um político que usou nas palavras “peste grisalha”. Ainda que a frase possa não ser originariamente sua, não deixou de a repetir.

Escusado será dizer que o facto de um problema ser real e sério não justifica que em busca da sua resolução se navegue por águas tão pestilentas. Sabemos que em muitos países a natalidade vem definhando ao mesmo tempo que a esperança média de vida vai subindo para valores nunca dantes navegados. Isto num mundo em que a população continua a aumentar.

Estas simples constatações levam a que não seja preciso ser grande especialista para, de forma igualmente simples, constatar que para muitos países a solução para esta questão tenha que passar necessariamente pela imigração.

Em boa verdade, o acolhimento de imigrantes deveria começar por ser um imperativo ético dos estados. Como muito bem disse o Papa Francisco, o que se vem passando nos últimos anos, designadamente no mar mediterrâneo, não pode deixar de ser lido como “um naufrágio da civilização”.

Para um país como Portugal, há ainda outro fator a ter em conta: Portugal é um país de emigrantes. Durante anos e anos os portugueses aventuraram-se para fora das nossas fronteiras. Muitas vezes em condições de enorme precariedade, sem papéis, sem garantias de emprego à chegada, apenas movidos pela esperança de fugir a um destino que os condenava a uma pobreza quase certa.

E durante muitos anos as remessas que esses mesmos emigrantes mandavam para a terra mãe eram uma fonte de riqueza que equilibrava e muito as depauperadas contas do nosso país. É por isso chocante quando se veem portugueses, sejam eles responsáveis políticos ou cidadãos comuns, a colocar mil entraves à vinda de imigrantes. Os mesmos entraves que não foram colocados aos nossos quando deram o salto.

Em cima de tudo isto, essa atitude de desconfiança relativamente ao imigrante é ainda pouco inteligente. É que precisamos mesmo deles. O tal inverno demográfico que começamos por falar reclama de toda a forma e feitio que o país acolha imigrantes. Imigrantes que, ao contrário do que alguns dizem, não vêm tirar o lugar a ninguém, mas sim contribuir em termos líquidos para a riqueza nacional.

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