Um pouco de rigor sff

Por José João Torrinha.

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Por José João Torrinha, Advogado e Presidente da Assembleia Municipal de Guimarães Os dias pandémicos, que têm tanto de marcantes como de estranhamente longínquos, tinham rituais que ficarão para sempre gravados na nossa memória. De entre eles, lembramo-nos todos da conferência de imprensa diária que Marta Temido e Graça Freitas davam, sensivelmente a seguir à hora de almoço.

Nesse encontro com os jornalistas escalpelizavam-se os números diários de novos infetados, de internados e de mortos. Lembro-me de atualizar o sítio da DGS à procura de informação fresca e de torturar os meus parcos conhecimentos matemáticos à procura de variações que nos revelassem em que parte da curva estávamos: se a subir, se no seu pico, se na parte descendente.

Mas nem é disso que vos quero falar. No dito sítio da DGS constava a informação de que os dados eram divulgados às “x” horas de cada dia. O problema é que essa hora que se anunciava nunca era cumprida. Os dados eram partilhados sempre mais tarde. Lembro-me bem que o que me incomodava não era que a informação não estivesse pronta à hora anunciada, pois provavelmente haveria muitas e boas razões para que assim fosse. O que para mim era verdadeiramente insuportável era que, sabendo-se ao fim das primeiras semanas e meses que não era possível cumprir o anunciado horário, a referência garbosa (e mentirosa) de que às tantas horas os resultados seriam anunciados lá continuava, impante.

Esta irritação veio-me à memória a propósito das notícias mais recentes que se prendem com a substituição da Diretora-Geral Graça Freitas. E que dizem essas notícias? Que só mais de seis meses após a Diretora-Geral ter anunciado que abandonava o cargo é que se abriu o concurso para a sua substituição. E que até há dias ainda era ela que ia segurando as pontas até que finalmente fosse nomeado o seu sucessor.

Bem pode o Sr. Ministro da Saúde dizer que a senhora esteve sempre em plenitude de funções (o que é verdade), que a questão não é essa. A questão é este hábito tipicamente português de não respeitarmos os prazos que impomos a nós próprios. E por isso já encaramos com tranquilidade que as pessoas fiquem nos lugares muito para além do tempo que era suposto, porque as coisas não são preparadas quando deviam.

Esta é, infelizmente uma característica muito nossa: a falta de rigor naquilo que fazemos. Uma característica que é transversal a toda a sociedade. Que se revela em coisas tão simples como não chegar a horas a um compromisso e a realidades muito mais relevantes como a da tardia substituição dos juízes do Tribunal Constitucional.

Pode haver quem até ache piada a isso, pois é essa falta de rigor que tantas vezes nos obriga a recorrer ao desenrasque (palavra tão ou mais nossa do que “saudade”). E porquê? Porque demasiadas vezes preferimos o joelho a uma secretária bem organizada. Porque confundimos improviso com falta de planeamento. Porque recorremos demasiadas vezes à navegação de cabotagem em detrimento de rotas bem estudadas e predefinidas.

Outros acharão que tudo isto são generalizações perigosas que não refletem verdadeiramente o que somos. Gostava de acreditar nisso. Mas infelizmente ainda somos confrontados diariamente com demasiados exemplos em que o rigor naquilo que se faz terá emigrado para paragens mais para norte…

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