Valores mais altos se levantam

Por Carlos Guimarães.

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por Carlos Guimarães
Médico urologistaHá dias em que somos tocados por factos óbvios, embora escondidos na singela forma de estar dos homens bons. Nos tempos que correm vivemos ofuscados e oprimidos pela força do dinheiro. O dinheiro importa (ninguém o nega), mas não é tudo (ninguém o pode negar). Precisamos saber o que queremos, precisamos de ter a determinação suficiente para resistir a uma conta bancária de milhões que pode nascer de um dia para o outro. Há valores que se elevam mais alto.

A semana começou com o telefonema de um verdadeiro amigo que perguntou onde iria almoçar na sexta-feira, respondi que não sabia ao que ele retorquiu:

– Almoças comigo em Matosinhos.

Sem argumentos, acedi ao convite após algumas questões obvias que não me foram respondidas. No dia e hora combinados, no coração de Matosinhos, um portão fixado num muro envelhecido, abriu-se e entramos num espaço aberto, rural, inundado pelo cheiro de sardinhas assadas, de uma amplitude inimaginável no centro daquela cidade. Cumprimentei pessoas que desconhecia e entrei num salão pouco iluminado, de paredes escuras e cheiro bafiento, uma espécie de barracão. Ali, numa mesa longa em forma de U, coberta por um plástico vermelho à moda antiga, alinhavam-se sentadas algumas pessoas que ambos desconhecíamos. Embora o espaço fosse pouco acolhedor, senti-me bem acolhido entre aquelas paredes com cheiro a bolor. Ainda de pé, o vinho caía nos copos e a broa (deliciosa) começava a forrar o estômago. Outras pessoas foram chegando e todos se foram sentando. As sardinhas também chegaram (assadas e em caldeirada), uma delícia. Abriram-se as conversas, os risos e sorrisos. Que maravilha, mas o melhor estava para acontecer.

Com o decorrer do tempo, o estômago composto e o álcool a circular, foram-se desembrulhando respostas às minhas inquietações iniciais – como raio descobriu o meu amigo aquele sítio improvável. À nossa frente sentou-se um octogenário simpático e bem-disposto, dono do espaço (e das sardinhas) que nos tratava a todos por meninos. Era amigo do meu amigo. Com a conversa a rolar entre assuntos próprios e outros “menos próprios”, uma senhora interpelou o idoso cicerone sobre o porquê de manter em sua posse aquele enorme terreno urbano no valor de milhões. O homem respondeu:

– Menina, tenho 84 anos, para que quero eu os milhões? para que me servem os milhões, se perder os meus amigos e não os puder juntar à mesa?

A resposta contundente gerou em todos uma simples palavra: Pois…

Daquelas palavras todos nos sentimos seus amigos e trouxemos connosco o verdadeiro valor da amizade. Não se troca a amizade e o bem-estar por dinheiro nenhum, muito menos aos 84 anos. Há dias em que o óbvio escondido se oculta atrás de uma fina cortina que o mundo converte numa enorme parede de betão.

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