Vanessa Marques: “É um grande orgulho fazer parte desta história”

Entrevista publicada na edição de abril da revista Mais Guimarães.

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A vimaranense Vanessa Marques, que no passado 12 de abril celebrou o seu 27.º aniversário, será uma das jogadoras que irá representar Guimarães e Portugal na histórica participação no Mundial que irá decorrer, entre 20 de julho e 20 de agosto, na Austrália e na Nova Zelândia.

Eleita pelo selecionador Francisco Neto para o duplo amigável disputado na cidade berço, a média cumpriu, diante a seleção do País de Gales, a sua 89.ª internacionalização pela equipa principal, numa carreira já com muitos títulos e objetivos conquistados.

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

Nasceste em França, precisamente em Lyon. Sofreste muito na final do Europeu de 2016?

Não. Estava totalmente a apoiar a nossa seleção. Apesar de ter nascido em França e ter raízes francesas, sinto-me desde o primeiro momento em casa. Represento o meu país com muito orgulho e naturalmente que apoio a seleção portuguesa.

Como te sentes em fazer parte da história de Portugal, integrando o grupo que se qualificou pela primeira vez para um Mundial?

Tendo em conta toda a evolução que tem havido no futebol feminino, seja para mim ou para as minhas colegas, é um grande orgulho fazer parte desta história. Vimos de gerações completamente diferentes, em que o início do futebol feminino era completamente diferente dos dias de hoje. Hoje, estas meninas que estão a aparecer no futebol feminino têm tudo para evoluir e singrar no futebol.

O futebol feminino cresceu muito. O preconceito desapareceu ou ainda há um caminho longo a percorrer?

Ainda há um longo caminho a percorrer. Acho que parte muito das mentalidades das próprias pessoas. Cada vez mais as pessoas têm aderido ao futebol feminino e têm visto a mulher com outros olhos. Mas, evidentemente, não podemos pedir uma mudança de um dia para outro. Etapa a epata, estamos a conseguir essa mudança que é vista com bons olhos.

Já foste vítima de algum preconceito?

Sempre fui muito acarinhada. Comecei no Clube Caçadores das Taipas, a jogar com rapazes, e sempre fui muito protegida por eles. Claro que depois surgiam palavras menos boas nas bancadas e que, infelizmente, ainda surgem. Mas, como disse anteriormente, espero que essa mudança aconteça e que as pessoas comecem a consciencializar-se daquilo que dizem.

Como reagiram os teus pais quando disseste que querias ser jogadora de futebol?

A minha mãe reagiu muito bem. Aliás, é graças à minha mãe que sou a mulher que sou hoje. Devo tudo a ela. É o meu grande pilar. Desde que comecei, com cinco anos, que me acompanha até aos dias de hoje. Seja no clube ou na seleção. É o meu maior orgulho e o meu maior pilar.

A Vanessa e outras jogadoras abriram muitas portas para as meninas que querem jogar futebol. Que mensagem gostarias de deixar aos pais e às meninas?

Que apoiem as filhas, porque cada vez mais surgem oportunidades e equipas com camadas jovens. Na minha altura, por exemplo, só tinha masculinos. E, com 13 anos, já jogava com pessoas de 35 na primeira divisão. Agora, há escalões próprios para isso. Dizer às meninas para seguirem os seus sonhos e fazerem o que mais gostam. Que usufruam do futebol em si e que aproveitem para se divertirem umas com as outras.

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

Ainda te lembras da primeira chamada à seleção? Onde estavas?

Estava com a minha mãe. E, quando recebi a chamada, foi uma felicidade enorme. É honroso ser chamada neste espaço de elite. Espero continuar a ser chamada durante muitos anos pelo professor Francisco e vou trabalhar para isso.

A tua mãe é a principal referência?

Ela é o meu ídolo. Se tenho de referir alguém será sempre a minha mãe. Por me acompanhar no percurso, por tudo o que vivenciei com ela e por todas as etapas difíceis que passamos ao longo da nossa vida. É o meu grande exemplo.

Tiveste a vida facilitada na escola, por exemplo, quando tinhas de te ausentar para representar a seleção?

Efetivamente não. O ensino era um bocado diferente, mas tinha alguns professores que compreendiam as situações e as faltas eram justificadas quando estávamos em espaço seleção. Mas é complicado conciliar as duas coisas. Parte do nosso dia é vivenciado no Sporting de Braga, o meu clube. Requer muito sacrifício, mas, se queremos alguma coisa na vida, também temos de fazer por isso.

Como é o teu dia a dia, sendo uma jogadora profissional?

Tenho treinos de manhã e, por vezes, também tenho da parte da tarde. Nas pausas gosto de aproveitar o tempo com a minha família, com a minha mãe e os meus irmãos. Também aproveito para estar com os amigos. Gosto de viajar, explorar coisas novas e fugir um pouco do ambiente do futebol.

Ainda és conhecida como “princesinha”?

Sim. Surgiu na seleção e ficou para sempre. É um nome que já acarinho bastante e acaba por ser engraçado as pessoas chamarem-me isso.

Dentro de campo tens sido mais rainha, com um número elevado de golos. Há marcas pessoais para concretizar?

Quero, acima de tudo, sentir-me feliz a fazer o que mais gosto. As coisas surgem naturalmente quando estamos bem, felizes e confiantes. E para atingir um determinado objetivo, além de ser preciso trabalho, são necessários estes aspetos para concretizar golos, por exemplo.

Os ordenados das jogadoras profissionais continuam muito distantes do futebol masculino. É uma luta inglória ou para ganhar?

Como disse anteriormente, o futebol feminino está a evoluir. Antigamente, eu pagava para jogar. Agora, acaba por ser o contrário. Os salários são completamente diferentes e ainda falta muito para chegar aos ordenados do futebol masculino. Queremos essa aproximação, é claro, mas não podemos ter tudo de uma só vez. Os clubes têm vindo a apostar, as federações também. Há muita gente a lutar em prol de objetivos, sendo a questão dos ordenados uma delas.

Já foste considerada a melhor jogadora do campeonato, a melhor marcadora, ganhaste títulos, jogaste a Champions, disputaste o Europeu e agora tens o Mundial pela frente. Há mais alguma coisa para concretizar?

Todas as etapas que aparecem, enquanto jogadoras, queremos sempre mais. Não nos podemos contentar com pouco. Ambiciono mais, quero mais, quero sentir-me melhor ainda.

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

Já cumpriste o sonho de jogar no estrangeiro, precisamente na Hungria. Um sonho para ser refeito noutra liga?

Possivelmente. Foi uma experiência muito boa e gostei muito, mas também muito difícil, por estar longe da minha mãe e da minha família e porque foi em plena pandemia. Foi difícil a adaptação, mas fui muito bem tratada pelas pessoas do Ferencvaros. Ainda mantenho contacto com muitos deles. Mas espero um dia, se surgir alguma oportunidade, voltar a experimentar outra realidade.

O que nos podes dizer da Hungria?

É um país muito bonito. Não estava à espera. Mas conheci pessoas que me acolheram de forma extraordinária. E cumpri os objetivos, que foi ganhar o campeonato e a taça.

Jogar no Lyon seria a cereja no topo do bolo?

Seria um sonho e não posso negar isso. Foi onde nasci e onde ainda tenho família. É um dos melhores clubes do mundo.

Quem é o teu ídolo no futebol?

Como já disse, o meu ídolo é a minha mãe. O meu maior exemplo e a minha maior força.

Fizeste 27 anos recentemente. Algum pedido especial?

Conseguirmos, aos poucos, acompanhar esta evolução e alcançar bons resultados. E continuar a mudar um bocadinho aquilo que as pessoas veem com os próprios olhos.

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

Como estão os estudos?

Estão a correr bem, mas de forma calma. É difícil conciliar as duas atividades. Vou fazendo algumas cadeiras e tenho tido a ajuda de alguns colegas e professores. Com tempo, o objetivo será acabar a licenciatura em Ciências de Comunicação.

Ser jornalista é um dos planos?

Será algo ligado a Ciências de Comunicação e ao futebol. É um curso que pode proporcionar entrada em várias áreas.

Qual é a pergunta que nenhum jornalista te fez?

Acho que praticamente todas as perguntas foram feitas. E as pessoas já olham para o futebol feminino com outros olhos e já conhecem as nossas histórias. Nesse sentido, penso que todas as
perguntas já foram feitas.

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