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VERDES SÃO OS CAMPOS, DA CÔR DO CIMENTO

ANTÓNIO ROCHA E COSTA Analista clínico

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por ANTÓNIO ROCHA E COSTA
Analista clínico

Tirando um ou outro caso como o polémico edifício de onze andares construído nos anos sessenta na cota alta da cidade, perto da estação dos caminhos de ferro, onde ainda hoje funciona um hotel, a construção em altura em Guimarães teve o seu início nos finais da década de setenta do século passado.

Progressivamente, as zonas das Quintãs, da Avenida de Londres, Avenida D. João IV e da Costa-estrada de Fafe, entre outras, foram ocupadas por edifícios de maior ou menor volumetria, sendo em alguns casos a densidade de construção exagerada e a qualidade urbanística e arquitectónica muito aquém do que seria de esperar, numa cidade que possui um centro histórico classificado, de que muito se orgulham os vimaranenses.

Temia-se inclusivamente que, à semelhança do que aconteceu com cidades próximas, Guimarães se tornasse irreconhecível, tal a avalanche de construção no período pré-crise, mas, como há males que vêm por bem e as crises são muitas vezes oportunidades para corrigir o que de mal foi feito, a ameaça desapareceu e os danos foram, apesar de tudo, limitados.

Estávamos nós “naquele engano de alma ledo e cego”, como dizia o Poeta e eis que somos surpreendidos pelo despertar de uma nova vaga de edificações. Com efeito, tendo a Banca aberto um pouco mais a “torneira” do crédito e permanecendo os juros gerados pelas poupanças próximos do zero, a procura de casas intensificou-se e, sendo insuficiente o mercado de usados, há que começar a construir. E assim, de um momento para o outro, passamos a ver gruas ao alto, tanto nas zonas centrais como nas mais periféricas, o que significa que o imobiliário está novamente a mexer.

Seria bom que os decisores municipais aprendessem com os casos do passado e não permitissem mais desordenamento do território e mais atentados paisagísticos, promovendo antes o equilíbrio entre os espaços de construção e os espaços verdes e de lazer, o que implica resistir à pressão e à ganância dos construtores. Só que, a avaliar pelo que vamos vendo, será de temer novamente o pior. Convidamos o leitor a deslocar-se à rua Dr. José Sampaio e a olhar para a Pousada de Santa Marinha, contigua à igreja da Costa. Verificará que, na zona frontal daqueles monumentos, embora numa cota ligeiramente mais baixa, está a nascer um prédio, que nos parece ir ter um impacto significativo na paisagem.

Uma cidade que pretende ser Capital Verde terá que preservar, além do mais, os espaços verdes, a começar pela encosta da Penha, que está para Guimarães como a praia está para as cidades costeiras. A Penha é efetivamente a nossa praia.

As classes mais endinheiradas vão-se instalando na meia-encosta, em luxuosas moradias; no sopé crescem prédios de andares, ao lado de moradias mais discretas.

Pelo meio destes prédios serpenteia a chamada ecopista de alcatrão para bicicletas, essa nova coqueluche, que se se segue às rotundas, às piscinas e aos pavilhões multiusos. Espero um dia perceber o traçado da ecopista e os motivos que levaram a que a mesma se sobreponha, em certas zonas, aos passeios para peões.

Mas, voltando ao verde, côr da esperança, fazemos votos para que em breve não tenhamos que mudar a letra da canção e em vez de cantar “verdes são os campos, da côr do limão…” passemos a cantar “verdes são os campos, da côr do cimento…”.

P.S: O preço dos combustíveis continua a subir e o contribuinte paga e não bufa, atitude análoga à dos citadinos que assistem impávidos e serenos ao aumento do preço das casas e dos arrendamentos. Lembro a propósito aquele condutor que, sempre que subia o preço da gasolina, dizia: “não há problema, eu continuo a meter 20 euros.”

 

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