Joaquim Barreto foi reconduzido, no sábado, dia 18, como presidente da Federação Distrital de Braga do Partido Socialista (PS), com 56% dos votos dos militantes socialistas do distrito. Apesar de derrotado nas eleições para a Distrital, na Concelhia de Guimarães, Ricardo Costa venceu por mais de 200 votos, reunindo o apoio de 60% dos militantes socialistas vimaranenses.
Joaquim Barreto, natural de Cabeceiras de Basto é presidente da Federação Distrital de Braga do PS desde 2014 e atualmente deputado na Assembleia da República. O presidente, agora reconduzido, obteve 2584 votos, contra os 2020 do candidato Ricardo Costa, vereador da Câmara Municipal de Guimarães, uma diferença de 564 votos. Para esta diferença muito terão contribuído as votações das Concelhias de Cabeceiras de Basto e Braga e a desunião que não permitiu que a Concelhia de Guimarães se reunisse em torno do candidato do concelho.
Joaquim Barreto encabeçava a lista que logrou vencer em 16 concelhias: Braga, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Esposende Fafe, Gerês, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho e Vizela. A lista B de Ricardo Costa, venceu em Barcelos, Famalicão, Terras de Bouro, Amares, Vila Verde e Riba de Ave. Em Amares houve um empate entre as duas listas.
Ricardo Costa venceu em alguns dos principais centros urbanos do distrito, nomeadamente em Barcelos, Famalicão e Guimarães, faltou Braga para fazer o pleno. Guimarães era um dos locais onde mais estava em disputa, por ser uma concelhia muito grande, onde se disputam muitos votos, mas também porque aqui houve um cisma entre os socialistas. Luís Soares, presidente da Comissão Política Concelhia, apoiava Joaquim Barreto, António Magalhães, histórico presidente da Câmara (1989-2013), apoiava Ricardo Costa. O presidente da Câmara de Guimarães, Domingos Bragança, manteve-se equidistante das duas candidaturas enquanto quis ou até lhe ser possível mas acabou por apoiar Joaquim Barreto, o que lhe valeu a incompreensão de António Magalhães, por a escolha de Bragança ter recaído sob alguém de fora do concelho.
A vitória de Joaquim Barreto, além de ter sido facilitada pela divisão em Guimarães, assentou nas expressivas votações que obteve em Braga, onde venceu por 342 votos e Cabeceiras de Basto, onde diferença foi de 452 votos a seu favor.
No pós-eleições, é evidente que na Federação Socialista do Distrito de Braga manda Joaquim Barreto, pelo menos até 2022. Já na Concelhia de Guimarães, a apreciação não é tão linear. Se por um lado há um presidente da Concelhia, eleito em janeiro deste ano, numas eleições com lista única, em que reuniu 672 votos, entre 703 votantes, a realidade é que depois destas eleições ficou provado que uma grande parte dos militantes vimaranenses não estão com ele.
“É melhor que seja o PS de Guimarães a retirar lições deste resultado que o eleitorado a dar uma lição ao PS em 2021”, avisa César Machado, no rescaldo do ato eleitoral. O ex-vereador socialista e militante de longa data felicita Joaquim Barreto, embora lamente “que a Distrital não tenha Ricardo Costa na liderança”.
“O presidente da Comissão Política Concelhia devia demitir-se e convocar eleições para se relegitimar”, Francisco Teixeira
César Machado, tal como Francisco Alves, é de opinião que o presidente da Concelhia se devia demitir. “O presidente da Comissão Política Concelhia devia demitir-se e convocar eleições para se relegitimar”, atira Francisco Teixeira.
O sociólogo Esser Jorge, embora compreenda o pedido dos dois militantes socialistas, “à luz da lógica interna da política”, não acredita que Luís Soares o venha a fazer. Questionado pelo Mais Guimarães sobre a sua posição relativamente a este resultado eleitoral, nomeadamente sobre a possibilidade de se demitir, Luís Soares nada disse. Numa mensagem nas redes sociais do PS Guimarães pode ler-se: “estabilizados os atos eleitorais internos do Partido, é tempo de nos concentrarmos no trabalho autárquico para Continuar Guimarães”. Uma tentativa de deitar este resultado para trás das costa e seguir em frente.
Para Francisco Teixeira, contudo, o cenário mudou. “Não há dúvida que estas eleições trouxeram a Ricardo Costa um enorme capital político em Guimarães, numas eleições em que ele venceu contra o presidente da Câmara, o presidente da Comissão Política e o presidente da Mesa da Comissão Política”, afirma Francisco Teixeira. Para o professor de filosofia tal como para Esser Jorge, o futuro do Partido Socialista discute-se numa negociação para a qual Ricardo Costa parte com um capital aumentado, depois do último sábado.
Segundo Esser Jorge, a singularidade deste ato eleitoral foi Domingos Bragança ter “sujado as mãos”. Para o analista, Bragança herdou o poder de António Magalhães e “agiu sempre como um príncipe acima das pequenas disputas do Partido Socialista”. O atual presidente nunca teve que ganhar o Partido para se tornar presidente de Câmara e agora, “embora tenha hesitado, acabou por apoiar Joaquim Barreto”. Neste caso, “eventualmente por se sentir ameaçado com o crescimento de Ricardo Costa, acabou por apoiar outro candidato, contra o seu vereador”, conclui o sociólogo.
“O desespero levou a liderança local a recorrer a meios que já não se usam nem se aceitam”, acusa César Machado, antecipando que episódios como a destituição da Mesa da Comissão Política, ou a insistência na realização do ato eleitoral na sede do partido, possam afastar votantes, para além das repercussões no seio do Partido.
Nas próximas eleições autárquicas cerca de 20 presidentes de Junta socialistas no concelho atingem o limite de mandatos, antecipa-se uma luta renhida nesta frente. “Domingos Bragança é muito mais fraco sem Ricardo Costa”, sinaliza Francisco Teixeira. César Machado é mais contundente ao afirmar que “Luís Soares comprometeu a credibilidade do PS para as autárquicas de 2021”.
Houve uma aliança entre dois polos socialistas, “um das Taipas e outro que podemos chamar de Guimarães Sul, o equilíbrio no PS dependia da união destas duas forças. Foi esta ordem que tirou o lugar a Miguel Laranjeiro e promoveu Luís Soares”. Na análise do sociólogo este dois grupos parecem ter-se partido em três ou quatro, entre apoiantes de Ricardo Costa, de Luís Soares e com Domingos Bragança (apesar dos últimos acontecimentos) a manter uma posição de uma certa ambiguidade.
Uma candidatura independente, como já aconteceu em concelhos vizinhos, não parece um cenário possível. O PS que se vai apresentar às próximas eleições autárquicas resultará da negociação destas forças em movimento dentro do Partido.