Através de uma “autobiografia depreciativa” entre a realidade e a ficção, Sara Inês Gigante reflete sobre os estereótipos colocados nos artistas e nos públicos numa peça que estreará em absoluto no Centro Cultural Vila Flor. Vencedor da 6ª edição da Bolsa Amélia Rey Colaço, “Popular” retrata a “premissa de aprovação” no mundo em que vivemos e os “rótulos que colocam nas pessoas e a forma como isso nos pode limitar”, conta.

Desde a sua experiência no mundo da representação até uma viagem à Praça da Alegria da RTP1, Sara Inês Gigante representa-se e apresenta-se em “Popular” enquanto uma artista que quer ser popular através de uma análise aos públicos culturais que existem nos dias de hoje. Numa metáfora, a artista pretende refletir sobre “o desejo transversal do sucesso de todos nas suas profissões e nas suas vidas. Somos convidados a obedecer a um determinado padrão e aqui penso nisso com a minha experiência.”

© Leonardo Pereira/ Mais Guimarães

Sara Inês Gigante convoca o público a participar na peça e a refletir consigo sobre os estereótipos criados na sociedade com uma conversa fictícia (ou real) entre dois espectadores que se estão a conhecer e que querem sair juntos mas não têm os mesmos gostos artísticos: “São formas de expressar conflitos. Criámos esses estereótipos que nos ajudam a comunicar e perceber as coisas, mas a minha provocação é pensar sobre o que fazer com a ideia de rótulos, porque é com ela que associamos as pessoas sobre os seus interesses. Enquanto artista, não gosto da ideia de haver um nicho de público, mas sim da ideia ambiciosa de pensar no público como vários indivíduos que podem pertencer a ciclos diferentes. Mas os artistas populares também têm as suas convenções”, explica.

Contudo, as vozes interiores habitam na cabeça da artista (tal como de todos). No desenrolar da história, surge uma outra personagem que funciona como uma autocrítica e como “um debate com a insegurança”, expressou após o ensaio de imprensa em que apresentou o seu espetáculo.

As expetativas para a estreia absoluta de “Popular” na cidade berço são “boas” garante a artista. Depois de ter apresentado “Massa Mãe” no Centro Cultural Vila Flor a 03 de junho de 2022 num espetáculo que “resultou muito bem” , Sara Inês Gigante sente-se “bem acolhida por esta terra e pelo teatro (de Guimarães)”. A vianense deseja que a peça “aceda ao público”.

Apesar de haver uma “semelhança na linguagem próxima com o público e na reflexão em tempo real” entre as duas peças, diferem nas “temáticas e na abordagem”, expressa a artista. Além disso, “Massa Mãe” impôs-se na cidade berço com broa e mel, enquanto que, com “Popular” pode esperar pipocas e água.