Investigadora da UMinho lidera escavação de fortificado na fronteira luso-galega

Investigadores e voluntários unem esforços para desvendar estrutura da Guerra da Restauração

© UMinho

A arqueóloga Rebeca Blanco Rotea, da Universidade do Minho (UMinho), está a coordenar a escavação de um fortificado do século XVII, situado junto ao rio Minho, em Tomiño (Galiza). O espaço está diretamente ligado à Guerra da Restauração (1640-1668), conflito que opôs Portugal e Espanha, e a iniciativa junta investigadores e nove jovens voluntários de várias regiões.

O projeto decorre em As Torres – Taborda e constitui o primeiro campo de voluntariado arqueológico internacional naquela zona. Para além da escavação e documentação da estrutura, o programa inclui visitas a fortalezas próximas, como Valença e Cerveira, recolha de memórias orais e da toponímia local, oficinas temáticas e até seis conferências em bares, promovendo uma forte ligação com a comunidade.

A iniciativa decorre até 16 de setembro e integra o projeto Fortalezas da Fronteira, cofinanciado pela Xunta de Galicia, executado pelas universidades do Minho e de Santiago de Compostela (USC) e apoiado por várias associações locais.

“Estamos a envolver habitantes, estudantes, investigadores, comunicadores e agentes socioculturais, contribuindo para a formação, para a construção da memória coletiva, para a cooperação transfronteiriça e para um maior conhecimento histórico do noroeste ibérico”, destacou Rebeca Blanco Rotea. A investigadora do Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT) e colaboradora da Unidade de Arqueologia da UMinho tem já um vasto percurso em pesquisas no Norte de Portugal e na Galiza.

Um legado da Guerra da Restauração

O fortificado de As Torres ergue-se sobre uma antiga mina romana e revela como os exércitos da época reutilizaram trincheiras para instalar uma bateria defensiva estratégica no controlo do território fronteiriço. A construção data de 1666, poucos anos depois da conquista portuguesa de Goián (1663) e antes do Tratado de Lisboa (1668), que consolidou a paz entre os dois reinos.

A estrutura só foi identificada em 2020 por Xurxo Salgado, professor de Jornalismo da USC e copromotor da escavação. Apesar das alterações provocadas pela atividade florestal e vinícola, conserva ainda a forma e parapeitos originais, sendo uma das cerca de 50 fortificações setecentistas distribuídas ao longo do rio Minho.

A investigação vem demonstrar que a Guerra da Restauração não se limitou ao Alentejo e à Extremadura, como muitas vezes se supõe, mas teve também uma atividade militar intensa no Norte, sobretudo entre as margens de Goián/Cerveira e Tui/São Pedro da Torre.

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